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O PROBLEMA AMERICANO E EURO-OCIDENTAL

11-09-2020 - Francisco Garcia dos Santos

John Fitzerald Kennedy (JFK), membro do Partido Democrático, “mítico”Presidente dos EUA de20/01/1960 a 22/11/1963, foi eleito aos 44 anos de idade. O seu assassinato, oficialmente imputado a Lee Harvey Oswald (logo muito oportunamente assassinado a seguir ao atentado), continua envolto em “mistério”, sendo que, independentemente da motivação deste último e várias explicações ou teses “conspirativas” (desde descontentes cubanos exiliados nos EUA face ao fiasco que foi a tentativa de invasão de Cuba -conhecida por “Baía dos Porcos”- por milícias cubanas anti-comunistas/castristas em 1961 com patrocínio, treino e cobertura da CIA e das Forças Armadas norte-americanas; conluio das grandes “famílias” da Cosa Nostra-Máfiaitálo-siciliana- de Nova Iorque face à sua “perseguição” pelo Procurador-Geral Federal -misto de PGR e Ministro da Justiça em Portugal- Robert (ou Bobby) Kennedy, irmão mais novo de JFK; e ainda conspiração e operação conjunta de vários serviços secretos norte-americanos, sem mobile que conheça), para mim a mais credível é a dum norte-americano já falecido,estudioso e perito em balística (cujo nome não recordo), o qual dedicou cerca de 20 anos da sua vida à investigação de todas as notícias da imprensa, documentos desclassificados (já não secretos) sobre o, e imagens do, atentado mortífero ocorrido na cidade de Dallas a 22/11/1963, bem como recolha de depoimentos de quem se encontravam no local, e ainda várias visitas ao mesmo para poder observar os pontos e ângulos dos vários disparos e posicionamento do automóvel presidencial. Este investigador concluiu que, com uma probabilidade de 99%, JFK terá sido morto por acidente, imputando o tiro mortal aum agente dos Serviços Secretos (corpo especial encarregue da protecção do Presidente e de outras altas figuras do Estado Americano,bem como de outras altas entidades estrageiras de visita ao mesmo)que seguia num automóvel descapotável atrás do também descapotável que transportava o Presidente, o qual, após ouvir os disparos de Oswald, terá empunhado uma espingarda de assalto M16 (metralhadora) pronta a disparar, e que, em desequilíbrio, terá disparado acidentalmente ematadoJFK. Daí, segundo esse investigador, o “caso” ter sido “abafado” e nunca se ter chegado a qualquer conclusão oficial e tornada pública, que não real, sobre o sucedido, tudo para não comprometer e descredibilizar os ditos Serviços Secretos, assim como por motivos de “segurança nacional” -é que nunca foi esclarecida cabalmente a motivação de Lee Oswald, suas “ligações” e eventuais autores morais ou mandantes da sua acção, assim como, do mesmo modo, jamais foi explicado credivelmente o motivo do seu assassinato. Aliás, algo que mais tarde veio a suceder relativamente ao homicídio de Bobby Kennedy, com 42 anos, a 06/06/1968 em Los Angeles pelo palestiniano Sirhan durante a sua campanha para as eleições presidenciais de 1968.

Por inerência, o então Vice-Presidente de JFKLyndon B. Johnson sucedeu-lhecomo Presidente de 22/11/1963 a 20/01/1969, com a idade de 55 anos. A Johnson sucedeu, mediante eleições, Richard Nixon do Partido Republicano, com a idade de 56 anos. Com a demissão de Nixon na sequência do famoso “caso Watergate” (alegada espionagem ordenada por Nixon à sede do Partido Democrata), o Vice-Presidente Gerald Fordassumiu a Presidência em 1974 e com a idade de 61 anos. Seguidamente foram eleitos: Jimmy Carter, democrata, em 1977, com a idade de 53 anos; depois Ronald Reagan, republicano, com 68 anos, tendo terminado o seu 2º mandato consecutivo com 76 (quiçá um dos melhores Presidentes dos EUA e um dos maiores líderes políticos mundiaisdo Séc. XX -a sua acção de rearmamento e modernização dos arsenais convencional e nuclear norte-americanos e do seu aliado Britânico, assim como a colocação de mísseis balísticos nucleares na Europa e envio de grandes contingentes militares para a mesma, nomeadamente para a então República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental, que obrigou a ex-URSS a investir elevadíssimas somas do seu orçamento federal no seu complexo industrial militar, contribuiu decisivamente para a implosão daquela em termos sócio-económicos e políticos); e, sucessivamente, a “milhas de distância” deste último em termos de competência e exercício do poder: George Bush, republicano, com 65 anos; Bill Clinton, democrata, com 47 anos; George W. Bush, republicano, com 55 anos; Barak Obama, democrata, com 44 anos; Donald Trump, republicano, com 71 anos.

Temos assim que os 10 últimos Presidentes dos EUA anteriores a Trump tinham uma média de idade de 54,8 anos aquando da primeira eleição ou tomada de posse, enquanto este último foi eleito com 70 anos, preparando-se para vencer as eleições presidenciais deste ano já com 74, e, sendo reeleito (o que é o mais provável) terminará o 2º mandato com 78 anos.

Entretanto, o seu challenger, ou adversário democrata Joe Biden já contará com 78 anos de idade à data das próximas eleições, e caso seja eleito terminará o mandato com 82.

Face à média de idades dos anteriores Presidentes aquando das suas eleições ou tomadas de posse, pasme-se com as idades dos agora candidatos às próximas eleições presidenciais norte-americanas.

Será que em terras do “Tio Sam” não existe um único “jovem” capaz de disputar a Presidência da ainda única super-potência mundial!?

É não só triste, como preocupante, ver que o Mundo Ocidental depende de geriátricos!

Em contraponto, na República Popular da China temos um “Imperador do Meio” do Séc. XXI Xi Jinpig, nacionalista/”capitalista de Estado”, hoje com quase 67 anos, mas que assumiu o poder supremo com 60; e na Federação da Rússia o nacionalista/conservador e “capitalista” Vladimir Putin, “Czar de Todas as Rússias” do mesmo Séc. XXI, hoje com quase 68 anos de idade, mas queassumiu pela primeira vez o cargo de Primeiro-Ministro da Rússia em 1999, ou seja, com 47 anos.

Xi Jinping tem uma “escola política” e de “poder” notável, feita no “aparelho de Estado”, o qual se confunde com o Partido Comunista Chinês -em 1979, com 23 anos, foi secretário do Ministro da Defesa, em 2008, com 53 anos, Vice-Presidente da RPC, em 2012 Presidente da Comissão Militar Centra e Secretário Geral do PCC, com 59, e em 2013 Presidente da RPC, com 60.

Já Putin tem a “escola” do ex-KGB (onde chegou a coronel responsável pelas acções exteriores); na prática política, iniciou-seaos 42 anos como Vice-Prefeito de São Petersburgo em 1994, Director do FSB (ex-KGB)em 1998, com 46, Primeiro Ministro em 1999, com 47 anos, e também em 2008, Presidente da Federação da Rússia de 2000, com 48,e de 2012 até à actualidade. Entretanto este já tem por muito provável Delfim Dmitri Medved, o qual foi Presidente da Gazprom (empresa estatal russa de gás natural e a maior do Mundo no seu ramo de negócio), o qualiniciou sua carreira política nos bastidores da mais alta esfera do poder do Kremlinem 1999 com a idade de 34 anos.Hoje,com 54 anos, éVice-Presidente do todo poderoso Conselho de Segurança da Rússia (cujo Presidente é o próprio Putin), e já foiVice-Primeiro-Ministro aos 40 anos, Primeiro-Ministro aos 47 e também Presidente da Federação da Rússia aos 43.

Assim, quer no Extremo-Oriente ou Espaço Ásia-Pacífico (China), como no Leste-Europeu, Centro-Asiático e Norte-Asiático (Rússia europeia, Repúblicas do Cáucaso e Sibéria), as “potências” adversárias dos EUA não só têm líderes mais novos e politicamente melhor preparados para o exercício do “poder” interno e externo do que esta última. Acresce que a República Popular da China tem um sistema de governo latu senso presidencialista e autocrático; a Federação da Rússia é uma república democrática “musculada”, com um sistema de governo presidencialista latu senso e cujo poder político, executivo-legislativo (Presidente e Primeiro-Ministro) e legislativo, a Duma (nome do parlamento federal) gozam de amplo apoio popular, sendo que Putin e seu Partido Rússia Unida, cujo atual líder é precisamente o apontado Delfim Medvedev, obtiveram respectivamente 76,7% nas eleições presidenciais de 2018 e 50,1% nas eleições legislativas de 2016, o que lhe conferiu uma maioria absolutíssima de deputados, ou seja, 343 em 450. Ora, ambos os regimes e sistemas, um duma forma e outro doutra, conferem aos respectivos presidentes e governos uma grande estabilidade de exercício do poder no presente e a médio-longo prazo,pois quer a Assembleia Popular Nacional chinesa, como a Duma russa, aprovaram recentemente alterações constitucionais que permitem aos atuais Presidentes serem reeleitos por vários novos mandatos consecutivos, descartando a anterior limitação de dois.

Tal significa que enquanto hoje os EUA têm líderes “velhos”,politicamente pouco ou nada preparados e erráticos, que nem da própria “casa” conseguem tomar conta (vide os casos da Covid-19 e do atual quase estado de guerra civil em que os EUA se encontram devido a questões raciais), já a China e a Rússia têm líderes “novos”, bem preparados em termos políticos e com estratégias e tácticas bem definidas, as quais paulatinamente têm vindo a pôr em prática -vide a título de exemplos a brutal repressão em Hong Kong de dezenas de milhar de lutadores pela manutenção da democracia e liberdade no Território decorrente do Tratado firmado entre a RPC e o Reino Unido aquando da transferência de soberania do mesmo da última para a primeira, alegando o Governo de S. M. que o dito Tratado está a ser violado por Pequim; anexação da ucraniana Península da Crimeia pela Rússia, sem qualquer oposição efectiva e consequente do “Mundo Euro-Ocidental” (leia-se NATO), que, face ao facto consumado, se limitou a exprimir ténues e tíbios protestos e aplicação de algumas irrelevantes sanções económicas à potência anexante.

Salvo melhor opinião, sempre entendi e defendi que a política não é para “velhos”, para mais impreparados, pois, por melhor pessoas que sejam e bem intencionadas, a própria Natureza e a rápida evolução do Mundo tratam de os ultrapassar.Ou seja, devido a “vícios” adquiridos ao longo da vida, o que aliás é natural, tornam-se incapazes de entender os “sinais dos tempos”, enfrentá-los e reagirem aos problemas actuais, assim como vislumbrarem o futuro -este, aliás, cada vez mais incerto.

Quanto à Europa (leia-se União Europeia, mas já excluindoo Reino Unido, que até tem efectuado investimentos militares, como é o caso do novo navio porta-aviões HMS Queen Elizabeth II) não só se tem “desarmado” em termos de indústrias estratégicas, mediante a sua deslocalização para países do sub-Continente Indiano, Indochina e China, como muito poucotem investido na área da própria segurança e defesa.

De facto, desde o fim da “Guerra Fria” iniciada poucos anos após o fim da II Guerra Mundial(que opôs a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas/Rússia comunista e seus países satélites, organizados militarmente no “Pacto de Varsóvia”, aos Estados Unidos, Canadá ea esmagadora maioria dos países da Europa Ocidental, reciprocamente integrantesda NATO–Organização do Tratado do Atlântico-Norte, de que Portugal é membro fundador), e seu terminus com a implosão da URSS e o comunista “Bloco de Leste” europeu entre 1989 e 1991, salvo a França e o Reino Unido, a Europa Ocidental sempre esperou e se fiou na respectiva protecção militar por parte dos EUA sob o “guarda chuva” da NATO. Porém, nos últimos mandatos presidenciais norte-americanos, as respectivas Administrações têm vindo cada vez mais a focar-se económica e militarmente no Espaço Ásia-Pacífico (com especial atenção para a China e Coreia do Norte-adversárias e potências nucleares- e Coreia do Sul, Taiwan e Japão -aliados-, “desinvestindo” no seu flanco transatlântico europeu, o que hoje se pode constactar por declarações do Presidente Donald Trump dirigidas à Chaceler Angela Merkel da Alemanha (e implicitamente aos demais países europeus membros da NATO), nas quais afirmou peremptoriamente que se a Europa quer e protecção da NATO/EUA tem de “pagar” os respectivos custos. Tal significa duas “coisas”:aumento das contribuições financeiras dos países europeus para aquela organização militar; e aumento das suas rúbricas orçamentais para investimento em meios humanos e materiais na área da segurança e defesa. E isto explica-se por já na Administração Trump o orçamento federal norte-americano ter reforçado significativamente a dotação para a respectiva segurança e defesa -tudo isto, não obstante nos últimos tempos um grande contingente de tropas e equipamento militar norte-americanos terem chegado à Europa e parte do mesmo sido recentemente deslocado da Alemanha para a Polónia, assim como desde há alguns anos a esta parte, forças terrestres, navais e aéreas da NATO vigiarem muito de perto as fonteiras dos Países Bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia) com a Rússia.

Deste modo, o Espaço Euro-Ocidental encontra-se há muito num processo de auto-degradação em termos económicos e de capacidade defensiva e dissuasora no domínio político-militar. E tudo devido a falta de liderança política por parte de verdadeiros estadistas, pois Angela Merkel, Emmanuel Macron e Boris Johnson encontram-se respectivamente a “anos luz” das capacidades políticas dum Hemult Kohl, François Mitterand ou Jacques Chirac, e Margaret Thatcher -mas também é bom não esquecer que a Alemanha, a França e o Reino Unido são os únicos países da Europa Ocidental com “músculo” económico para poderem ser os grandes pilares do “tripé” dum sistema integrado de segurança e defesa europeu. É que estes países, para além da respectiva capacidade financeira para se “rearmarem”, em termos geoestratégicoscompletam-se: são (ou podem ser) potências militares regionais de carácter continental (Alemanha),continental-marítima (França) emarítima (Reino Unido), sendo que França e Reino Unido possuem arsenais nucleares e grande capacidade de projecção de força militar para fora dos seus territórios nacionais. Urge pois que todos os países europeus, quer pertençam ou não à UE, mas membros da NATO, rapidamente adoptem políticas comuns ou concertadas no sentido de se “rearmarem” em termos de indústrias e serviços estratégicos (agro-alimentar, água, energia, metalo-mecânica pesada, químico-farmacêutica, telecomunicações, transportes aéreos e marítimos de “bandeira”, entre outras), bem como aumentarem os efectivos das suas forças armadas e de mais e moderno armamento -é que o Mundo está perigoso!

Exemplos do que acima ficou escrito são o caso da “corrida” à China para compra de equipamentos e produtos médico-sanitários para enfrentar a pandemia do SARS-Cov2/Covid 19;a supra referida anexação da Crimeia pela Federação da Rússia; e agora a crise na Bielorrússia, em que Putin está disposto a intervir em termos “policiais” (leia-se mediante envio de ex-tropas do Ministério do Interior soviético e ligadas simultaneamente ao Exército e ao ex-KGB, agora designada de Guarda Nacional da Rússia (Spetsnazou BB. VV), uma força de segurança do tipo gendarmerie, equivalente em termos meramente formais à portuguesa Guarda Nacional Republicana, mas na dependência do Conselho de Segurança Nacional da Rússia e articuladas com o FSB (ex-KGB), cujo Presidente é o próprio Putin e o Vice-Presidente Medvedev -só que, contrariamente à GNR, constituem um verdadeiro “corpo de exército”de infantaria motorizada, dotado de organização, cadeia de comando hierárquica, meios humanos (cerca de 182.000efectivos), armamento e equipamento militar muito semelhantes aos convencionalmente usados pelo próprio Exército russo.

Como se tudo isto não bastasse, surgiu agora a crise políticainternacional entre a Grécia e a Turquia (ambas membros da NATO), a qual consiste na disputa pela soberaniade águas do Mediterrâneo Oriental em cujo fundo existem jazidas de gás natural, podendo degenerar em conflito militar. A França (ignoro se com ou sem “mandato secreto” da Alemanha e de outros países da UE) já enviou para aquela área navios de guerra; mas o Reino Unido possui duas bases militares soberanas (consideradas territórios britânicos) em Acrotíri e Deceleia, na costa sul de Chipre.Ora, afigura-se que estas duas verdadeiras -e únicas- potências militares europeiasestão presentes no Mediterrâneo Oriental para “policiarem” o mesmo e dissuadir gregos e turcos de se enfrentarem-se militarmente.Porém, caso surja um efectivo confronto armado entre gregos e russos, ainda que mediante “escaramuças” navais e/ou aéreas, o mesmo constituirá um grave problema no seio da própria NATO. E para adensar o problema, no último fim-de-semana de Agosto, o Presidente Recept Tayyip Erdogan da Turquia (também ele com 66 anos) ameaçou em público, frente às câmaras de tv, a França e o Reino Unido de “sofrerem consequências nos seus territórios” (quais!?) se intervierem militarmente num eventual conflito armado greco-turco em prejuízo do seu país. Portanto, é seguir atentamente a evolução da crise e aguardar pela forma como terminará.É que bem pior do que espirros e tossidelas geradoras de pânico entre vizinhos do mesmo prédio, será um conflito armado no Mediterrâneo Oriental que pode atingir proporções por ora desconhecidas, mas eventualmente drásticas no caso de Erdogan (já comprou mísseis à Rússia e tem com esta um ”Memorando de Defesa”), ainda que a Turquia seja membro da NATO, venha a pedir auxílio “encapotado”a Putin.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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