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Ao senhor A. da Silva

28-08-2020 - Francisco Pereira

Recebi de alguém que se assina A. da Silva um email que me desanca por que sim e porque não, assim vou aproveitar para lhe responder publicamente.

Excelentíssimo e prezado senhor

Agradeço a gentileza da mensagem de correio electrónico que recebi de vossa excelência, fique ciente de que aprecio o facto de ser um leitor atento destas insignificantes e mirabolantes bojardas que semanalmente pespego neste jornal electrónico.

Apesar do tom nefando e apopléctico da sua mensagem, agradeço-lhe ainda assim a verborreia manhosa com que brindou os meus cansados órgãos da vista, terá Vossa Excelência muita razão, mas caro e dilecto amigo, permita que assim o trate apesar das pouco cordiais palavras que teve a gentileza de me dirigir, este jornal não é meu, solicitam-me apenas que semanalmente redija um artigo de opinião, diligência que faço com o maior dos prazeres, é bom poder exprimir-me sem sentir as rédeas da censura velada que é a regra da comunicação social nacional presa aos grupos de pressão, aqui no Notícias como se percebe somos livres, além de que quem quer ler lê quem não quer não lê, quem concorda muito bem quem discorda muito bem na mesma, venha quem vier por bem. Vamos então ao que interessa.

Ponto primeiro, não admito reparos aos assuntos que escolho, nem prédicas mais ou menos beatas sobre a moralidade ou a falta dela, não sou católico nem cristão, nem muçulmano nem, felizmente, professo nenhuma dessas trapaças religiosas, não gosto de religião nenhuma e estou no meu direito, respeito todos por igual, mas deuses não, muito obrigado, já me bastam aqueles que tenho de engolir por mor da sacrossanta imposição duma sociedade constitucionalmente laica, que na prática não somos.

Ponto segundo. De bispos, cardeais, párocos, lamas, mulahs, ayatolas, pastores, abades e outros que tais quero lonjuras e distâncias largas, por mui excelsos que sejam, e castos e beatos e tudo o mais, permitir-me-á Vossa excelência a veleidade de reclamar aquele que é um meu direito, o direito de quando assim o entender invectivar, reclamar e discorrer sobre as atitudes menos conseguidas e até estultas dos membros de qualquer congregação e confissão religiosa, pois caso o meu egrégio amigo não tenha ainda reparado, infelizmente a estupidez não tem confissão religiosa.

Ponto terceiro, não falo sobre Israel, não porque seja Judeu, apesar de admirar o povo israelita, mas porque não tenho nada para dizer, porque outros, meus melhores o fazem com estrepitosa distinção e denodo, sendo as minhas pobres garatujas uma insignificante caganita de mosca perto da elaborada prosa por eles produzida, além de que me estou positivamente a borrifar para Israel para o Líbano e para a Palestina, não me interessa e não quero saber, logo não perco tempo com isso, não significando tal facto que não tenha opinião sobre o assunto e seja insensível ao que por lá se passa..

Ponto quarto. De igual modo, meu insigne companheiro, não tenho nenhum sentimento de culpa para com África, respeito os africanos, mas não fui eu que fiz lá nenhuma guerra, nunca trafiquei escravos, alias nunca de lá saí, nem me interesso por África, nem pelo Darfur, nem pela Síria nem por nenhuma dessas histórias mais ou menos trágicas, uma vez mais, pessoas com melhor fundo que a minha pessoa, melhores pessoas portanto, gente preocupada e generosa gente em todos os sentidos admirável, escreve, filma e faz voluntariado de forma admirável, alertando para esse tipo de tragédias. Sinceramente não me interesso nem quero saber, certo ou errado é assim que penso e o problema é meu, bem como os eventuais problemas de consciência.

Ponto quinto. Esclareço-o também diligente amigo, que tenho plena consciência; de que sou um ser anacrónico, que ao não estar interessado em como vivem os outros provavelmente irei desaparecer na maior das ignorâncias coberto pelo pó dos tempos de cujo oblívio não mais serei resgatado, de que este egocentrismo social é mau, sim concedo-lhe a minha anuência, no entanto ressalvo que continua a ser minha prerrogativa à luz dessa mesma tão apregoada por todos, Liberdade, assim pensar, correndo conscientemente todos os riscos e acatando as consequências dessa opção.

Sexto e felizmente último ponto, caro senhor eu, Francisco Pereira, obscuro cidadão honesto, trabalhador, pagador de impostos por tal não figurando na lista de pessoas célebres, respeitador da lei e da ordem utilizador dos caixotes do lixo para depósito do mesmo ao contrário de muitos senhores educados e doutorados, distinto reciclador, apreciador do sossego e respeito pelo próximo, amante da boa mesa e da pinga supimpa, ainda que desrespeitado por muitos, que esburgam os meus bolsos e apoucam a minha pessoa, tenho o direito de não gostar de quem quer que seja, estando-me positivamente nas tintas para as convenções desta sociedade de trampa em que vivo.

Tenho o direito de dizer o que quiser, sabendo de antemão as consequências desse acto, tenho também o dever de respeitar as pessoas, mesmo que sejam umas bestas-quadradas, como muitas e demasiadas vezes acontece. Não sou racista mas se fosse tinha o direito de o ser, mesmo que isso o desgoste a si e a muitos que parecem não entender que se querem a liberdade tem de aprender a respeitar os outros mesmo que as opções deles não sejam aparentemente as mais correctas, para mim a Liberdade é algo que não pode ser questionado, ambos sabemos que é uma faca de dois gumes. Considere-me racista, se o desejar, porque não gosto de gente estúpida malfazeja e boçal, desses infelizmente temos de sobra e de todas as cores, sendo que uns são mais propensos à estupidez que outros.

E como a arenga já vai longa, termino, desejando-lhe as maiores felicidades, em querendo pode continuar a ler as atoardas que escrevo, desejo-lhe boas férias, se esse for o feliz caso.

Francisco Pereira

 

 

 

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