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A realidade da manipulação…

21-08-2020 - Francisco Ferreira

Pelas redes sociais, circulam interessantes vídeos sobre a cidade de Almeirim, um em particular, é um excelente vídeo promocional sobre o Concelho, já dei os parabéns ao seu autor, pelo excelente trabalho, um outro recente é um anúncio de uma conhecida empresa do sector agroalimentar, que promove o seu produto.

Ambos são excelentes exemplos de competência, enquanto ensaio estético poucos reparos, enquanto realizações destinadas a atingir um determinado objectivo, nomeadamente promover e vender um produto, estão ao nível do melhor que no Mundo se faz, estando ambos de parabéns, junto a minha voz aos que não poupam encómios a essas duas apresentações digitais, que sinceramente merecem os parabéns. São também excelentes exemplos de como se manipulam as massas.

Feitos os elogios vamos agora então descer à Terra, assim, já com os pés assentes no chão, passemos então à dura realidade. O vídeo sobre o produto alimentar, é um anúncio, engraçado, aparecem algumas caras conhecidas cá da terra, vale essencialmente por isso, o resto é publicidade farsola típica, isto sem prejuízo do produto ser bom.

Quanto aos vídeos promocionais sobre o Concelho, começo por dizer que entendo perfeitamente a lógica que subjaz à feitura desse tipo de produtos promocionais, não questiono a legitimidade, nem o objectivo que almejam atingir, que é nomeadamente atrair gente para um Concelho, que como tantos outros Concelhos do interior luta contra imensos problemas demográficos, quanto a isso estamos conversados e a sua pertinência é indesmentível.

Esses vídeos promocionais, incidem sempre sobre uma ruralidade quase idílica, a vida no campo, as cearas, as flores, as festarolas, os cavalos, os toiros, os campinos, os pescadores no Tejo, uma visão serôdia que tenta vender uma realidade mais lúgubre, ou seja como sói dizer-se, estes vídeos tentam vender “gato por lebre”.

Começo por dizer que há quarenta anos atrás, Almeirim já não era nada daquilo que esses vídeos querem fazer parecer, ainda que conservasse uma afincada e expressiva ruralidade, ainda que o verde ainda dominasse os arredores da então Vila de Almeirim, ainda que as pessoas fossem solidárias e limpas, já não era aquilo que os mais velhos nos contavam que tinha sido e já havia prenúncios daquilo que aí vinha, os indícios estavam lá para quem os quisesse ver, mas nós não os quisemos ver.

Dito isto, continuemos então a ver o vídeo, aquilo que ali se retrata pouco tem que ver com a realidade, é uma simples colecção de imagens, uma muito bem-feita manipulação que constrói uma narrativa de uma beleza quase idílica, um paraíso para descobrir, um quase Éden a menos de cem quilómetros da capital do país, só talvez toldado com uns valentes copázios da excelente pinga que por cá se faz, isso sim um facto real e que não admite contestações, é que se olha para aqueles vídeos e se acredita na realidade seráfica que ali se mostra.

A realidade é mais atroz, a realidade é sempre mais complexa do que as idealizações. A realidade é o intenso cheiro a estrume putrefacto que muitas vezes cobre a cidade, a realidade são cursos de água putrefacta por vezes carregando dejectos que correm a céu aberto nalguns pontos da cidade, a realidade é a falta de espaços verdes, a realidade é uma cidade mal planeada e pior executada, concebida por mentes tacanhas que almejavam apenas os milhões que vinham da Europa.

A realidade é o lixo pelas ruas, a imundice que cidadãos de hábitos degradantes espalham por todo o lado, a realidade são as ruas de seixo que colocam entraves à mobilidade das pessoas idosas, das pessoas com necessidades especiais ou aos carrinhos de bebé.

A realidade são os carros, as motorizadas, as caixas mais os caixotes, por cima dos passeios, onde se circula de bicicleta como se nada fosse, como se fosse normal, a realidade são os passeios exíguos onde duas pessoas não se cruzam, com postes de iluminação e sinais de trânsito plantados no meio, a realidade é a gentalha egoísta que faz barulho a qualquer hora do dia, gentalha que tem os amigos certos e que pode fazer de tudo ao contrário daqueles que não têm os amigos certos, a realidade são tantas coisas menos boas que aquilo que ainda resta de bom corre o risco de ser suplantado pela porcaria, pela falta de educação e de civismo.

A realidade são os veículos de todos os tipos a circularem pelos sentidos proibidos a qualquer hora do dia, sem o menor respeito pelos outros nem pela legislação, a realidade é a falta de asseio e de higiene dos habitantes da cidade, os cães que tudo cobrem de dejectos e urina mais os humanos que fazem o mesmo em parques de estacionamento por toda a cidade, a realidade é mesmo muito suja muito porca mas indisfarçável para quem a quiser ver, quase que ofusca o brilho daqueles excelentes vídeos que vendem um sonho edílico que na realidade não existe.

A realidade são imóveis de qualidade miserável, vendidos como se tivessem ouro dentro das paredes, a realidade é a falta de qualidade de alguns serviços públicos, bem como a falta generalizada de qualidade de serviços privados.

Mas como nem tudo é mau, aqui ainda há tempo, existem também pessoas genuinamente decentes. A cidade é plana e em 15 minutos a pé sem pressas vamos de uma ponta à outra, apesar de muitos dos habitantes insistirem em andar a correr para todo o lado nos seus popós, a gastronomia tem também alguns pratos de excelência, a sopa da pedra, as caralhotas, as enguias por exemplo e sem dúvida o vinho que é excelente.

Por conseguinte caro leitor deste artigozeco, está avisado, acaso visualize esses vídeos encare-os como produções ficcionais, de muito boa qualidade é certo, mas da mais pura ficção.

Francisco Pereira

 

 

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