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Quando liberdade rima com insanidade

07-08-2020 - Cândido Ferreira

Desde o início de março, que venho denunciando graves “falhas, erros e omissões” na condução do combate à pandemia, tendo recomendado inúmeras medidas que, se corretamente aplicadas, teriam evitado imensos prejuízos. Mas também a denúncia da “impreparação da classe dirigente à escala global” e sua total “submissão a interesses político-económicos dominantes”, incluindo instituições como a OMS ou a DGS, foram tom dominante em dezenas de textos que subscrevi.

Sem sucesso porque, banidos por uma comunicação social comprada a peso de ouro, e que depois investiu em “vedetas” milionárias, cedo assistimos ao silenciar de todos quantos ousaram pôr dedos em feridas. E nem o mergulho numa noite tenebrosa, nem o desempenho das redes sociais e de alguma pequena imprensa, conseguiram evitar que a atual “sociedade do conhecimento” continue a escrever uma das maiores tragédias da História da Humanidade.

A pregar no deserto, dias há em que até perco a vontade de escrever, tais são as ervas daninhas que nos crescem no jardim: um número assustador de desempregados, enquanto outros acumulam subsídios indevidos, os terramotos que abalam o SNS e a Educação, os novos “romances” da EDP e do Novo Banco, a que se podem juntar os “filmes surrealistas”, que correm numa Administração Pública incompetente e insustentável.

Há muito empenhado na dignificação da Justiça, e na reinserção social dos reclusos e suas famílias, a notícia que esta manhã me caiu sobre a “mesa de trabalho” é mais uma daquelas que cilindra a consciência de qualquer pessoa de bem.

Por bom comportamento, ou já em final de penas, uma dezena de reclusos foi finalmente autorizada a gozar de uma saída jurisdicional (vulgo “precária”), direito há muito suspenso devido à pandemia e não só. Porém, no regresso ao Estabelecimento Prisional, viram-se confrontados com a falta de instalações para quarentena, ficando alojados no anexo do canil. Ali mesmo, no pátio, através de um ralo, bem podiam satisfazer necessidades orgânicas e, para a higiene pessoal, até dispunham de uma mangueira, obviamente com agua fria.

Com a imaginação e a criatividade ainda à solta, confesso que a minha primeira reação foi elaborar uma “exposição” ao PAN. E a escolha deste Partido nem seria por acaso. Uma calamidade, contra a intrusão dos primatas no seu território, os pobres canídeos toda a noite protestaram sem que nenhuma brigada móvel da Proteção Civil, da SS ou do SNS lhes acudisse com os apoios psicológicos e medicamentosos exigíveis.

Mas será que um escritor pode usar a ironia perante tão tristes realidades, ainda que animado das melhores intenções? Sinceramente, entendi que essa crónica feria a minha própria condição humana e assim a “matei à nascença”.

Escritor “castrado” talvez sem razão plausível, porque sempre o meu facebook se anima quando conto anedotas e perde “clientela” se abordo desgraças. Admito que, tal como num jogo de cartas marcadas, a generalidade dos portugueses já entendeu que Netos e Morais não saram chagas e para a dor de cabeça chega o Ventura e sobra o Tino. E a escancarar as portas a “mais-do-mesmo”, até as “esquerdas bem-pensantes” cavam divisões e se aprontam a servir “gins marados”.

Perante um eclipse de consequências terríveis, o exercício da cidadania é, contudo, um imperativo cívico, sobretudo para quem não desiste de sonhar com auroras radiosas. Contratado um novo e respeitável “treinador”, para coordenar a maior equipa governativa de sempre, anuncia-se que um mar de dinheiro vai ser espalhado por cima dos problemas, enquanto alguns fundos serão aplicados em projetos estruturais.

De fora, fica a nata dos investidores portugueses lesados pelas traficâncias dos Bancos, centenas de empresas a quem a Administração não paga dívidas, dezenas de milhares de pequenos empreendedores e agricultores que foram esbulhados de apoios europeus garantidos e mais as vítimas do Leslie e dos incêndios que, definitivamente, foram dispensados de levar este nosso pobre Portugal para a frente. Gente que era o melhor que havia no nosso país e que hoje, caída na ruína e na desonra, passa por graves depressões, muitas delas já assinaladas com suicídios.

Podemos nós acreditar nos Planos de uma Administração insaciável, que põe na prateleira o melhor que existe em Portugal e esquece a mais elementar das suas obrigações, que é pagar a quem deve?

Cândido Ferreira – Cidadão, médico jubilado e escritor

 

 

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