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A CHINA CONTRA TODOS!?

24-07-2020 - Francisco Garcia dos Santos

Durante os últimos anos da presidência de Hu Jintao e primeiros da de Xi Jinping (actual Presidente da República Popular da China -“RPC”- e Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês-“PCC”), interessei-me muito sobre o “fenómeno chinês”, tendo aprendido e obtido algum conhecimento sobre a realidade chinesa não só mediante leituras, mas sobretudo em conversas pessoais com quem conhece a fundo o mesmo, bem como indo a conferências e seminários, em que foram oradores académicos portugueses e também funcionários de relevo da Administração Pública da“China Continental” (denominação da própria RPC queexcluida “Continental” as Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau, bem como Taiwan -esta última,ainda que formalmente constituaparte da globalidade doterritóriochinês, de facto é um Estado soberano e independente da RPC), funcionários esses natural e obrigatoriamente membros do PCC.

Já não recordo quando escrevi nas páginas deste jornal um artigo, salvo erro intitulado, “China - A Hora do Dragão” (título esse que parcialmente é, como à data alertei e volto a alertar, o de um excelente livro sobre a história da política externa chinesa da autoria de Luís Cunha, “A Hora do Dragão - Política Externa da China”, Ed. Zebra com o patrocínio do IIM- Instituto Internacional de Macau, 2012).

Nesse artigo referi sucintamente que a RPC, desde Mao Tsé-Tung (ou Mao Zedong), XuEnlai (ou Zhou En-Lai),que abriu a China ao Ocidente capitalista eideólogo da doutrina “Um País, Dois Sistemas”, Deng Xiaoping (primeiro líder chinês a visitar os EUA)que pôs em prática a doutrina daquele e a “economia de mercado socialista”, a que se seguiu uma forte aproximação aos EUA por Jiang Zemin, terminando esta sucessão de dirigentes “tradicionais”, isto é, da geração de, e conviventes com, Mao com o referido Hu Jintao, hoje com 78 anos de idade, antecessor do actual Presidente da RPC e Sec.-Geral do PCC Xi Jinping, este jápertencente a outra geração etária e política (em 1976, aquando do falecimento de Mao, tinha apenas 23 anos) e cujo desígnio no início da sua presidência em 2013 era (e continua a ser) a RPC, a curto-médio prazo, alcançar a posição de primeira potência económica mundial, suplantando os EUA, assim como tornar-se a médio-longo prazo numa terceira super-potência militar -no mínimo igualando a Federação da Rússia de Vladimir Putin, quer em termos convencionais como nucleares.

Não é exigível aos caros leitores que se recordem do que escrevi, mas para “refrescar memórias” alertei para o facto de o crescimento económico chinês ser “galopante” face ao dos EUA e da UE (considerada esta no seu conjunto), estando aquele sempre acima dos 7%/ano, enquanto o americano e europeu invariavelmente bem abaixo dos 5% (2%-3%). Mais referi que em 2020 (precisamente neste ano) a RPC contaria na sua frota de guerra com dois porta-aviões comparáveis aos da “classe Nimitz” norte-americana, a mais moderna e poderosa deste tipo de navios, sendo o último denominado “Shandong”e da “classe Tipo 001A”, integralmente produzido com tecnologia chinesa, o que ora se verifica com a sua entrada ao serviço em Dezembro de 2019 (estando ainda, ao que consta, um segundo desta “classe” em construção) -note-se que estes navios têm capacidade de transporte de cerca de 35 aeronaves, entre aviões e helicópteros e respectivas “guarnições” de apoio e protecção, constituídas por fragatas, submarinos e outros vasos de guerra. E por fim, não tendo dotes de “adivinho”, vislumbrava uma potencial guerra comercial e escaramuças navais entre a RPC e os EUA e/ou vice versa, no caso das últimas travadas no Mar do Sul da China, o que hoje é uma realidade.Como ao tempo era impensável, e não tendo uma “bola de cristal”, desconsiderei a hipótese duma pandemia a curto prazooriginária na RPC e “exportada” pela mesma para todo o Mundo, com especial incidência na Europa Ocidental e nos EUA, que “arrasasse” as respectivas economias, deixando a primeira de fora e a lucrar económica e financeiramente com a mesma.

Porém, o imprevisível aconteceu, e com ou sem “teorias da conspiração” (das quais até nem sou adepto), aí está a Covid-19 e os seus efeitos desastrosos para a economia mundial (leia-se dos países ditos desenvolvidos do mundo euro-ocidental, onde incluo países do denominado Espaço Ásia Pacífico, como a Austrália e a Nova Zelândia, e puramente asiático-pacíficos, como é o caso do Japão, o qual, aliás, não tem sido muito noticiado, mas que depende economicamente -e muito- dos mercados europeus e norte-americano), sobretudo em termos de exportação automóvel -tendo grandes fábricas na Europa e nos EUA- e de alta tecnologia.

No que concerne à Europa, as sua produção agro-pecuária e respectiva indústria, bem como a metalo-mecânica “pesada”, tecnológica e serviços concentrados dagrande banca internacional (mormente em Genebra, Londres e Luxemburgo) e turismo cultural, salvo o sector bancário, todo o restante tecido empresarial está a ser fortemente fustigado pelos efeitos da Covid-19. E só no que concerne à indústria, veja-se como meros exemplos:o fecho de fábricas da NISSAN em países como Espanha (Barcelona) e redimensionamento da de Sunderland no Reino Unido, e, devido à parceria desta com a francesa Renault, a gaulesa estar também a ver-se afectada, pois, à semelhança da sua parceira nipónica, vai ter de reduzir muito a gama ou modelos fabricados, já se falando no eventual encerramento de algumas das suas fábricas;depois temos o colosso industrial aeronáutico europeu AIRBUS, que devido à brutal contracção do mercado da aviação civil, também já se está a ressentir-se por via de cancelamento de encomendas de aviões comerciais, e cujas unidades fabris se encontram em França, tendo anunciado a eliminação de 15.000 postos de trabalho até ao Verão de 2021.

E por mencionar a indústria aeronáutica, lembro um outro colosso americano, a BOING, que se antes da Covid-19 já estava a enfrentar graves problemas devido à grande concorrência da AIRBUS, a que acresceu o problema técnico de pressurização ou ventilação no seu último modelo, agora vê-se igualmente a “braços” com a contracção do mercado. Mas o problema da economia norte-americana não se resume àquela grande empresa de Seattle, antes muitos outros, pois para além da produção para consumo interno, a mesma depende fortemente de exportações para a Europa e para o Espaço Ásia Pacífico, onde começa a imperar a RPC e, logo a seguir, a Índia (o Japão é um caso àparte).

Quanto à grande banca mundial, ainda que com capital social difuso e disperso em “bolsa”, mas sobretudo sedeada na Europa e nos EUA, com excepção do britânico HSBC com sede em Hong Kong, poderá vir a sofrer um “rombo” bem maior do que o provocado pela crise financeira de 2008 despoletada em 2007 pelo subprime norte-americano e falência do grande grupo financeiro americano encabeçado pelo banco Lehman Brothers. Porém, com as recentes e unilaterais alterações ao Estatuto de Hong Kong por Xi Jinping que havia sido negociado com o Reino Unido, o colosso HSBC poderá ter de mudar de “poiso”, o que potencialmente significará uma enorme quebra de operações e consequentemente de lucros -esse território chinês, que para além de ser a maior “praça financeira” offshore mundial (“paraíso fiscal” absoluto) devidoà sua legislação bancária sera mais “opaca” ou protectora do segredo bancário do Mundo, permite aos bancos nele sedeados, ou com sucursais nele localizadas, fazerem aí toda a sorte de negócios longe de qualquer controlo político e fiscal.

Se a isto se acrescentar que, com a ganância do lucro fácil, as grandes empresas europeias e norte-americanas deslocalizaram para a RPC e seus países “satélites” da Indochina muitas das suas unidades fabris, assim como para a Índia que, para além de já ter ultrapassado 1 milhão de infectados com Covid-19 (mas segundo fonte independente local pode ascender a 6 milhões), está à beira de um grave conflito militar com aquela, facilmente se concluirá que o Mundo, está quase nas “mãos” de Xi Jinping -e esse “quase” que falta será a Federação da Rússia.

Mas como se isto não bastasse, já veio de Pequim um aviso de eventual nova pandemia, desta feita a terrível “peste negra”, cuja bactéria transmitida por pulgas e ratos se julgava extinta desde o Séc. XVIII, mas que no Séc. XIV dizimou entre 1/3 e 1/2 da população europeia e entre 100 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, ou seja, desde Portugal à China.A verificar-se a mesma (mas que Deus nos livre!), não obstante poder ser “combatida” com antibióticos, ignora-se quais os adequados e a capacidade dos laboratórios europeus e norte-americanos para osproduzirem em larga escala, assim como a respectiva vacina.

Portanto, como soi dizer-se, estamos todos a “ir de mal a pior” e, talvez uma vez mais, o Ocidente a ter de voltar a “correr” para a RPC em busca de salvação.

Por fim, vivemos numa paz global periclitante!

À “conta” da Covid-19 e seus danos económico-sociais, que ocupa quase toda a comunicação social europeia e norte-americana, ou seja, euro-ocidental, deixa as respectivas populações “às escuras” face a outras realidades, como se nada mais se passasse no Mundo.

Alguém já se deu conta nos media generalistas (os mais lidos e vistos) de notícias sobre a nova “corrida ao armamento” por parte da RPC, seguida da Federação da Rússia e, a Ocidente quase sozinha, a América de Donald Trump?

De igual modo o cidadão comum conhece a celebração há cerca de dez dias dum tratado bilateral de assistência e protecção militar mútua entre Vladimir Putin e Xi Jinping?

E que dizer de Xi Jinping não aceitar que a RPC faça parte de um tratado trilateral conjunto com os EUA e a Federação da Rússiavisando a redução, ou pelo menos a manutenção, dos arsenais nucleares estratégicos e tácticos com o número de ogivas existentes, enquanto a primeira não atingir igual número às dos dois últimos?

Costuma-se dizer que “há quem brinque com o fogo”, mas no caso dos media e povos euro-ocidentais, parece que há quemande muito distraído, apenas temendo o espirro ou a tosse do vizinho…

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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