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“ALZAMIENTO NACIONAL” E INÍCIO DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA

17-07-2020 - Francisco Garcia dos Santos

A título de advertência, como os caros leitores que me honram com a leitura do que escrevo já terão reparado, a fotografia anexa a este artigo substituiu a anterior, uma vez que essa era já algo vetusta.

O Alzamiento - origens, protagonistas e consequências

Uma vez ser hábito dizer-seque“a História é a mãe da sabedoria”, e partilhando dessa tese, dedico as linhas de hoje a uma efeméride histórica, a qual é o “pronunciamento militar”espanhol de 17/07/1936,conhecido no país vizinho por Alzamiento Nacional, que hoje “celebra” precisamente 84 anos.

Tal pronunciamento militar, aliás prática habitual na história de Espanha (pelo menos até àquele a que se dedica este artigo), protagonizado pelos prestigiados generais do Exército de Terra espanhol José Sanjurjo (Pamplona, Navarra, Espanha, 1872-Estoril, Portugal, 1936), Emílio Mola (Cuba, colónia de Espanha, 1887-Alcocero, Espanha, 1937) e Francisco Franco (Ferrol, Galiza, Espanha, 1892-Madrid, Espanha, 1975), todos eles de direita conservadora, monárquica e cristã católica, ocorridoentre 17 e 20 de Julho de 1936, teve por objectivo o derrube do Governo republicano esquerdista da “Frente Popular”instalado em Madride sustentado por uma coligação de socialistas do actual PSOE (Partido Socialista) de Pedro Sánchez, do PCE-Partido Comunista Espanhol (hoje integrado na IU-Izquierda Unida) de Alberto Garzón Espinosa,e de anarquistas, dos quais é herdeiro o “Unidos Podemos” de Pablo Iglésias -curiosamente os mesmos que hoje governam Espanha-, governo esse liderado por Manuel Azaña.

Na sequência das eleições autárquicas de Abril de 1931, nas quais foram vencedores os republicanos, sobretudo de esquerda, na falta de apoio militar, o Rei Alfonso XIII (Madrid 1886-Roma 1941), bisavô do actual Rei Felipe VI de Espanha, abdicou da Coroa em 14/04/1931, dando lugar à II República espanhola.

O regime republicano, inicialmente moderado mas instável, foi-se radicalizando no curto espaço de cinco anos, e no primeiro semestre de 1936, a dita “Frente Popular” foi responsável por vários assassinatos, sendo uma das suas vítimas mais famosas José Calvo Sotelo (Tui, Galiza,1893-Madrid, 1936), ex-Ministro das Finanças, cujo homicídio ocorreu a 13/07/1936, bem como perseguições de opositores políticos, de católicos, assaltos e destruição de igrejas e mosteiros, etc., o que provocou uma reacção militar, sobretudo conservadora/monárquica, apoiada por partidos de direita ultra-conservadora como o CEDA-Confederación Española de Derechas Autónomas de José Maria Gil-Robles ou da nacional-revolucionária FET de las JONS-Falange Española Tradicionalista de las Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista (resultante da fusão da Falange de José António Primo de Rivera com as JONS de Ramiro Ledesma) e grande parte dos espanhóis -embora à data do Alzamiento José António já estivesse preso pelos Republicanos e posteriormente por eles fuzilado na Prisão de Alicante em 20/11/1936, na sequência de julgamento sumário e condenação à morte pela prática do crime de alta traição, devido a ter participado numa alegada conjura contra o Governo.

Após uma tentativa frustrada de pronunciamento militar liderada pelo prestigiado general conservador monárquico José Sanjurjo, Comandante da Guardia Civil (equivalente à portuguesa GNR, mas mais bem armada e poderosa), em Agosto de 1932, conhecida por “Sanjurjada”, e com epicentro em Sevilha, aquele foi preso, condenado à morte, indultado e libertado, exilando-sea seguir no Estoril, Portugal.

A partir do exílio, juntamente com os generais Emílio Mola, Francisco Franco, Queipo de Llano e Juan Yagüe, organizou o Alzamiento, o qual supostamente deveria liderar. Porém, logo após o pequeno avião que o transportaria para Espanha ter descolado do Estoril, este despenhou-se em Carcavelos, tendo Sanjurjo morrido no acidente. Depois, Mola, seu eventual sucessor na liderança da rebelião militar, morreu cerca de um ano depois num acidente rodoviário em Espanha.Assim, a chefia do Alzamiento acabou por recair em Franco, prestigiado Comandante da Legião Espanhola em Marrocos (à data, e ainda hoje, força de elite do Exército), que aí se sublevou.

Contrariamente ao esperado pelos revoltosos, a tentativa de golpe de estado falhou em Madrid,assim como noutras cidades importantes de Espanha, como Bilbau, a norte, e Barcelona, Málaga e Valência a sul; contudo obteve êxito em Burgos, Valladolid e Pamplona, a norte, Saragoça a leste, e Córdova, Sevilha e Cádiz a sul, o que resultou sensivelmente napartição da Espanha continental em duas metades, já que as ilhas mediterrânicas Baleares e atlânticas das Canárias, bem como os territórios de Marrocos e as então colónias do Sahara Ocidental e Guiné Equatorial ficaram neutras ou tomaram o partido nacionalista,provocando a eclosão da Guerra Civil de 1936-1939.

Franco, com um reduzido efectivo de Legionários, atravessou o Estreito de Gibraltar, juntou-se às tropas sublevadas na Andaluzia, instalou em Sevilha o seu primeiro quartel-general, e aí, até Outubro/Novembro de 1936, reuniu quase todo o efectivo da Legião com apoio de transporte aéreo da aviação militar alemã.

Tal facto permitiu a tomada e consolidação do domínio da maior parte do território andaluz, sobretudo a ocidente de Córdova e Granada inclusive, e a rápida progressão das suas tropas para norte, sempre junto à fronteira com Portugal, cujo Governo de Salazar lhes proporcionou apoio logístico.

As tropas nacionalistas comandadas pelo General Legionário Juan Yagüe apenas conheceram forte oposição na Extremadura, onde foi travada a Batalha de Badajoz, com capitulação desta cidade em 14/08/1936 -uma das mais importantes e sanguinárias da Guerra Civil. Vencida esta, as tropas franquistas, sem resistência digna de nota, ocuparam facilmente a Galiza e outros territórios da costa oeste espanhola, reunindo-se em Setembroa outras sublevadas no Norte de Espanha chefiadas por Mola, tendo Franco instalado o seu quartel-general definitivo e Capital provisória da Espanha “libertada” em Burgos (capital do País Basco).

Depois foi o continuar da guerra até à queda de Madrid e vitória de Franco, o que não se revelou fácil devido à forte resistência republicana na capital espanhola e seus arredores, tendo esta finalmente capitulado a 01/04/1939.

À laia de conclusão, a Guerra Civil de Espanha, na qual os nacionalistas de Franco foram apoiados em homens e armamento pela Alemanha e por Itália (mas também por um reduzido contingente português denominado de “Viriatos” -voluntários oriundos do Exército e da organização para-militar salazarista Legião Portuguesa), e os republicanos apoiados pela ex-União Soviética (Rússia) e México, bem como pelas “Brigadas Internacionais”que integravam voluntários principalmente franceses, ingleses enorte-americanos, entre outros (destacando-se nas mesmas o famoso escritor britânico anti-totalitarista George Orwell, autor dos romances, aliás passados à tela cinematográfica, “Animal Farm” -na edição e tradução portuguesa “O Triunfo dos Porcos”- e “1984”), foi eventualmente a primeira confrontação bélica de carácter verdadeiramente político-ideológico, já que a Guerra Civil Russa que se seguiu à Revolução Bolcheviquede 07/10/1917 entre comunistas e “Brancos” czaristas e moderados, e terminada em 16/06/1923, poderá não se considerar propriamente ideológica, o que, de qualquer forma é discutível.

Certo é que Espanha foi um verdadeiro “balão de ensaio” para novas armas, estratégias e tácticas militares utilizadas na II Guerra Mundial, sobretudo pela Alemanha, a qual eclodiu nesse mesmo ano a 01/09/1939 com a invasãoda Polónia pelo Exércitoalemão e a “declaração de guerra”àquela pelo Reino Unido (Inglaterra), Austrália, Nova Zelândia e França a 03/09/1939.

O que se seguiu à vitória do Generalíssimo Francisco Franco e instauração em Espanha do “Regime Franquista”, autoritário e conservador nacionalista, é assunto que não cabe aqui referir, nem tampouco susceptível de ser tratado num mero artigo de jornal devido à sua complexidade e longevidade.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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