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BORIS JOHNSON – O “AMIGO DE PENICHE”

10-07-2020 - Francisco Garcia dos Santos

Surpreendentemente, o Primeiro-Ministro britânico Boris Johnson anunciou que todo e qualquer cidadão que, a partir do território continental português,chegue a Terras de Sua Majestade,fica obrigado a um período de isolamento profiláticode 14 diascontados da data de chegada às mesmas.

À data em que escrevo estas linhas (4ª feira, 08/07/20), os números de habitantes em milhões (M) e segundo censo de 2019,bem como os totais agregados de infectados, recuperados e mortos per capita em Portugal e no Reino Unido (UK)por Covid-19são os seguintes:

Portugal : habitantes 10,28 M; infectados 44.859; recuperados 29.714; mortos 1.631; ratios per capita: infectados 0,4363%, recuperados 0,2890%, mortos 0,0158%.

UK : habitantes 66,65 M; infectados286.979; recuperados (não foi possível obter números); mortos 44.517;ratios per capita: infectados 0,4305%; mortos 0,06679%.

Sendo os ratios per capita os que interessam para qualquer tipo de análise deste tipo, verifica-se serem os portugueses e britânicos sensivelmente idênticos no que concerne a infectados(a prejuízo de Portugal, com mais 0,0058%, algo desprezível e variável todos os dias), e quanto a mortos o português é inferior ao daquele país em 0,0509%, diferença esta que, no presente contexto, é muito relevante.

Mas também o Governo da Bélgica anunciou que os idos de Portugal para esse país estão numa “lista negra”, com necessidade de prévio despiste de Covid-19 ou quarentena, mas neste caso os números são muito discrepantes e altamente favoráveis a Portugal.

Assim, temos que a população belga éde pouco mais de 11,46 M; infectados 60.550; recuperados 16.771; mortos 9.696. Deste modo, os respectivosratios per capita são: infectados 0,5283%, recuperados 0,1463%, mortos 0,0846%. Portanto, face à Bélgica Portugal temcerca de menos 1,2 M de habitantes, e per capita: infectados menos 0,0920%, recuperados mais 0,1427%; e mortos menos 0,0688%.

Não se compreende assim a decisão dos Governos de Sua MajestadeIsabel IIe do Rei dos BelgasFilipe Irelativamente a Portugal, sendo que no primeiro caso me faz lembrar a estória dos “amigos de Peniche”com origem na Guerra Peninsular e Invasões Francesas de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte no início do Séc. XIX.

Tal estória, que me foi contada por uma penichense, resume-se ao facto de a cidade “praça forte” de Peniche (toda amuralhada e com a sua famosa fortaleza), estando sob cerco francês,resistia na esperança deque Inglaterra lhe enviasse reforços para romper tal cerco, conforme prometido pelo Governo britânico. Porém, o contingente inglês, que deveria ter chegado por mar, estando já com Peniche à vista, devido a receio de ser derrotada pelas tropas francesas, foi-se embora e nunca chegouà cidade, levando a que a mesma capitulasse.

Daí a expressão jocosa e pejorativa “amigos de Peniche”, aplicada aos supostos amigos que se propõem sempre ajudar enquanto não é preciso, mas que quando chega o momento de o fazerem, “esquecem-se” e não ajudamem nada.

Quanto à Bélgica, é um país “artificial” e sem um verdadeiro Povo, já que a sua fundação data de 04/10/1830 mediante revolta popular em Bruxelas contra o governo de Guilherme II de Orange, Rei do Reino dos Países Baixos(Holanda) onde se integrava, proclamando a sua independência.A mesma foi reconhecida em 1831 por conveniência política internacional das grandes potências europeias lideradas por Inglaterra e França, ratificada na Conferência de Londres desse último ano, com vista a servir de “tampão” entre a França e a Alemanha e Países Baixos, tendo por primeiro Rei o Príncipe alemão Leopoldo I de Saxe-Coburg-Gotha (irmão do Rei Consorte Dom Fernando II de Portugal, marido da Rainha Dona Maria II), o qual foi convidado para o efeito pelos belgas. A sua população é composta por flamengos de origem holandesa, valõesde origem francesa e ainda uma pequena comunidade de origem alemã -todos com língua própria (holandês, francês e alemão), assim como culturas, o que faz com que não se possam considerar como um único Povo -aliás, é bem conhecido o movimento secessionistaflamengo/holandêsface à restante parte do território belga valão/francês e alemão. Portanto, a aceitação pelo Presidente da República e do Governo portugueses desta discriminação por parte de um Estado “menor” face ao quase milenar Portugal, é não só incompreensível, como revoltante.

No que concerne ao UK, é caso para dizer que Boris Jonhson (com quem até simpatizo pessoal e politicamente), após contrair a Covid-19, ter estado em internamento hospitalar e sob permanente observação nos “cuidados intensivos”, e uma vez regressado a casa agradecerpublicamente nas tvs ao jovem enfermeiro português Luís Pitarma, juntamente com a também jovem enfermeira neo-zelandesa Jenny McGee, ter-lhe salvado a vida, afinal parece, mas para pior, ser um “amigo de Peniche”. E isto não por ter prometido qualquer ajuda a Portugal e não cumpridoa promessa -porque nada lhe foi pedido nem prometeu-, mas sim porque, segundo o próprio, deve a vida a um português, e se este vier agora a Portugal visitar a família, no regresso a Londres terá de ficar em quarentena, o que é inaceitável por vergonhoso.

Uma “palavra”final e muito séria para o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, Primeiro Ministro António Costa e Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva.

Estes três altos responsáveis políticos titulares de órgãos de soberania, em vez de retaliarem com iguais medidas, sobretudo contra o UK, com quarentena face a cidadãos provenientes deste último, limitaram-se a bacocos e tímidos protestos para consumo interno, e a, cobardemente, ficarem quietos, não agindo em conformidade.

É dos “livros” sobre política internacional que quando um Estado soberano é alvo de qualquer medida prejudicial aos seus interesses (justificada ou não -e no caso não!) por parte de outro Estado, deve retaliar com igual medida, e só depois procurar a resolução ou sanação do “problema” ou diferendo pela via diplomática. Porém, tais responsáveis políticos aceitaram de “cócoras” as medidas anti-portuguesas, apenas se propondo, segundo palavras do próprio MNE Santos Silva proferidas na tv, a “tentar explicar e convencer” os Governos britânico e belga de que o território continental português é seguro -particularmente o Algarve-, com vista a que os mesmos revoguem as suas decisões.

Estoumesmo a ver que à hora em que esta edição d´O Notícias de Almeirim estiver disponível para os caros leitores, o britânico Boris Johnson e a desconhecida Primeira Ministra belga SophieWilmès já estarão “convencidíssimos” por Santos Silva, tendo até já “batido com a mão no peito”,confessado “mea culpa”e, por conseguinte, revogado as suas decisões.

Depois admirem-se de sermos achincalhados e humilhados internacional e publicamente por um qualquer badameco ministro holandês ou sueco.

Mas, enfim… É o que temos!

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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