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Sentença de morte para o Hospital dos Covões?

10-07-2020 - Cândido Ferreira

São assim os escritores: alternam fases de grande produção com outras em que o mar se enrola na areia e não deita peixe que possam "vender". É esta a praia que frequento desde há dias, depois de muito pregar sobre o covid-19.

“Cansado” com a desorientação a que assisto, só mesmo o choque televisivo entre dois amigos - Correia de Campos de quem eu “disse bem” no meu último livro e Diogo Cabrita que o apresentou - faria quebrar a quarentena de silêncio a que me remeti.

Mas valerá a pena escrever mais, quando a OMS está a saque e o Infarmed/DGS têm a lata de promover reuniões à “porta fechada”? Se o “tuga” se irrita porque o PM foi a Elvas “falar espanhol”, mas nem repara no descomando dos agentes policiais que nem máscara protetora aí usaram? E será possível dialogar com uma classe dirigente que dispensa a razão e a ética e se limita a sobreviver, submissa a outros interesses dominantes?

Como diria Adriano, vão dizer que só “trago tempestades”. Que importa isso, na semana em que a comunidade médica mundial ainda nenhuma certeza assentou sobre a eficácia da baratucha cloroquina e em que um novo e dispendioso medicamento é anunciado como milagre? Ponho o pescoço no cepo: este “desenvolvimento da ciência” poderá ajudar, mas nunca será mais eficaz do que a vulgar cortisona que, escrevi eu em março, assim em letras gordas, “INCRIVELMENTE” ainda não havia sido ensaiada. E ainda não o foi, devidamente…

O jogo está por demais viciado e Diogo Cabrita bem sentiu o que outras vozes livres passam, quando ousam afrontar os poderes instituídos: convidado para tratar do SNS e do “seu” hospital, foi surpreendido com uma troca pelo covid-19, matéria que a sua honestidade enjeitaria por não ser da sua especialidade; para depois ainda ser atropelado por uma gestão de tempos e de interrupções, que demonstraram muita falta de isenção. Até as notas de rodapé deram em delírio. Onde já viram isto? Eu sei!

Ficou, contudo, da brilhante entrevista de Diogo Cabrita, para além de uma demonstração de enorme coragem e sensatez, a noção de que a eficácia do combate ao covid-19 é peditório para o qual já ninguém dá e de que o desmantelamento do SNS prossegue, sendo as ruínas do Hospital dos Covões um futuro local de peregrinação a visitar. Subscrevendo, sem reservas e por inteiro essas suas conclusões, irei, sem bairrismo ou interesse pessoal, cingir-me ao exemplo que apresentou: Vale a pena, afinal, manter o hospital dos Covões?

Com um grande hospital de construção recente em Coimbra, e que integra uma área urbana que mal ultrapassa a centena de milhar de habitantes, diria liminarmente que NÃO. Se o nosso país fosse um “país normal”...

Só que em Portugal, onde a antiga “terceira cidade” se pôs a jeito, esta opção merece melhor reflexão: desde logo, porque Coimbra é a metrópole de uma grande área quase toda em “desertificação” sanitária e não só; depois, por aí dominar uma gestão corporativa, que combate a crítica e restringe a livre opinião. Ao contrário da Igreja Católica, por exemplo, a sua Universidade ainda não foi capaz de reconhecer erros e excessos e prestar homenagem às suas vítimas. E tantas foram…

E assim chegamos ao Hospital dos Covões que, historicamente, foi o degredo ou o refúgio que muitos “exilados” da margem direita encontraram na margem esquerda. Eu próprio, a certa altura da minha vida profissional, obtive do meu saudoso amigo Lourenço Gonçalves essa “proteção”.

Não falo de “goleada”, mas o “obscuro” CHC conseguiu a confiança do rio Mondego para sul e até afirmar-se como referência em diversas especialidades, em que prestou inestimáveis serviços. Se mais casos não existissem, e muitos há, bastariam a ORL dos dois reconhecidos irmãos Filipe ou a Cirurgia Toráxica de Carlos Janelas, para nos fazer refletir um pouco mais.

Perante o estado atual de uma nação que construiu recentemente um hospital desfasado das realidades, e que nitidamente não consegue responder com qualidade às ambições de milhões de portugueses, que fazer?

Ex- médico e sempre cidadão, com um grande bem-haja ao Diogo Cabrita, sem dúvida que só poderei estar ao lado de quem quer evitar a “morte temida” que o Ministério da Saúde anuncia, para o Hospital dos Covões.

Cândido Ferreira

 

 

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