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28 DE MAIO DE 1926 – OS CAMINHOS DA DITADURA NACIONAL

12-06-2020 - Pedro Pereira

Curiosamente, o mês de Maio que agora findou, levou-nos a recordar um importante acontecimento que teve lugar há 94 anos.

Desta forma…

O dia 28 de Maio contempla uma efeméride extremamente importante da História de Portugal do século XX.

Assim, nessa data,em 1926, há 94 anos, teve lugar um pronunciamento militar em Braga, chefiado pelo general Gomes da Costa (herói da 1ª Grande Guerra Mundial), que alastrando nos dias seguintes ao resto do país, irá instaurar uma ditadura militar, a qual dará origem, poucos anos após, a um novo regime, auto denominado de «Estado Novo» em oposição ao que os homens da União Nacional, partido único dentro do quadro da ditadura, à frente do qual pontificava o lente da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar,chamavam de «República Velha» (a 1ª República). No entanto, não se assumiam como um partido político, antes se denominavam de uma «associação de homens de boa vontade».

O 28 de Maio foi um movimento eivado de equívocos e é nesse sentido que se explica que a ele tenha aderido muita gente, de boa fé, que lenta e gradualmente nos tempos que se seguiram se irá afastar ou ser afastada desse assalto ao poder.

O golpe militar contou com o apoio das classes dominantes, as chamadas «forças vivas», das classes intermédias e até da classe operária; operários industriais e assalariados agrícolas.
No estado caótico em que o país de encontrava, quer económico, quer social e outros, era previsível um golpe militar no estilo do ocorrido. Aliás, na sequência de uma série de outros que tinham vindo a suceder-se sem que tivessem, no entanto, a amplitude deste último, para o sucesso do qual contribuiu decisivamente o apoio da classe operária e do movimento sindical, vítimas do regime republicano, cuja expressão máxima se consubstanciou (e corporizou) no 1º Ministro Afonso Costa, justamente alcunhado de «racha sindicalistas».

O país havia chegado a um tal estado de degradação social, político e económico, que a maioria do povo estava de acordo em fazer intervir o Exército, onde o nível de vida dos seus oficiais havia atingido um estado degradante, em termos de vencimentos, carreiras, equipamentos armamentos obsoletos e por aí fora. Aludindo ao brilho dos galões, o povo havia-os e rotulado de «miséria dourada».

Por outro lado, o exército durante anos havia sido preterido em favor da GNR - Guarda Nacional Republicana, um corpo militarizado criado pelo então 1º Ministro Afonso Costa, para defender os governos da nação, como tropas pretorianas.As historicamente prestigiadas forças armadas portuguesas, estavam praticamente desmanteladas.

Pairava no ar o fantasma da Flandres/França, onde pereceram milhares de militares portugueses e muitos mais ficaram estropiados nesse conflito que passou à História como a 1ª Grande Guerra Mundial. Enfim, o Exército desmoralizado será conduzido a assumir a direcção política do país contra o republicanismo que havia deixado cair bem fundo. A República dissolvia-se por falta de apoio.

Até 31 desse mês (Maio de 1926) altura em que o presidente da República se demite transmitindo os seus poderes ao oficial da Armada, Mendes Cabeçadas, natural de Loulé, a revolta ainda tinha algo de constitucional face a essa mesma transmissão de poderes. Enquanto o General Gomes da Costa avança sobre Lisboa, o General Óscar Fragoso Carmona, vislumbrando a vitória, ordena o avanço das suas tropas a partir do Alentejo sobre a capital, apoiando assim, o movimento. Em Novembro desse ano, Carmona assume a chefia do Estado.
De 1926 a 1933/34, houve como que um estado de guerra civil não declarada entre várias facçõesrepublicanas e a ditadura militar. A situação não é muito definida. Este período de transição da ditadura militar para o Estado Novo, irá ser muito conturbado, com uma base de apoio muito complexa. Só se poderá falar de consolidação do Estado Novo a partir de 1934, ano do primeiro Congresso da União Nacional, de remodelação do governo e das primeiras eleições legislativas, saindo delas a primeira Assembleia Nacional.

Em Junho de 1932, Salazar havia sido formalmente nomeado chefe do governo. Ainda nesse ano apresenta uma proposta de Constituição que entrará em vigor em 11 de Abril de 1933, a qual vigorará com pequenas alterações até 1976. Como exemplo para se entender o sucesso da revolução do 28 de Maio de 1926, no Barreiroregistou-se uma adesão idêntica às que se passaram um pouco por todo o país.

Os grupos civis conspiratórios eram constituídos por elementos quase todos ligados ao Partido Radical, enquadrados por chefes oriundos de Lisboa.

O apoio logístico, fundamental para o avanço das tropas do sul sobre Lisboa foi dado pelos ferroviários do Sul e Sueste, vítimas do regime republicano que os havia sempre tratado com uma enorme sobranceria, de resto, retribuída pelos ferroviários em permanente luta por melhores e mais dignas condições de vida, manifestas nas lutas empreendidas ao longo da existência do regime, algumas delas bastante longas como a registada entre Setembro e Dezembro de 1920, que durou setenta dias e à qual o quinzenário barreirense Acção de 20 de Dezembro desse ano se refere na 2ª página sob o título «Ferroviários», como tendo: «(…)contado prejuízos incalculáveis(…), prejuízos esses, cremos, a todos os níveis».

Pela mesma data, a propósito desta greve, o semanário lisboeta A Luz, de cariz maçónico, refere na sua 4ª página: «(…) teve enfim termo. Já não era sem tempo (…) a greve dos ferroviários não teria lugar se a administração da Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses não fosse uma soberba amostra do que, em regra, é toda a administração em que entra o portuguesinho (…) cabe pois, à direcção da Companhia a responsabilidade de todos os prejuízos que esta lamentável greve ocasionou (…)».

A realidade é que a direcção da Companhia era o espelho da Administração do Estado, da coisa pública.

Porém, os princípios da generosidade, a luta pelos ideais de Liberdade e por melhores condições de vida que levaram ao ferroviários a apoiar o golpe do 28 de Maio, serão os mesmos que os levarão a participar poucos meses passados, na primeira revolta contra a ditadura militar, mais concretamente em Fevereiro de 1927, com a paralisação de comboios e a sabotagem de máquinas. Tal como milhares de cidadãos, grupos sociais, agrupamentos políticos e classe operária, também os ferroviários cedo constataram o logro em que haviam caído. Se a República não os tinha tratado bem, a ditadura militar não os tratava melhor. Porém, a força das armas impunha-se, propiciando um novo regime que perduraria até ao 25 de Abril de 1974 e haveria de fazer escola nalguns países europeus (casos de Espanha e de Itália, por exemplo), até ao final da 2ª Grande Guerra Mundial.

Pedro Pereira

 

 

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