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Inconsciência

05-09-2014 - Henrique Pratas

Vou-vos contar uma história verídica que se passou comigo há uns meses atrás, mais propriamente no dia 31 de março do corrente ano.

No dia 28 de março entrei nas urgências do Hospital da CUF na Infante Santo, com queixas de uma má disposição, que não me passava nem vomitando nem evacuando porque mesmo provocando não conseguia que as mesmas acontecessem, como sei teimoso e não gosto nem de hospitais, nem de médicos, nem de tudo o que esteja ligado à Saúde porque são áreas que não domino e quando recorremos a elas temos que nos sujeitar, ao que alguém supostamente qualificado, nos quer fazer e no estado em que se encontra a saúde no nosso País temos que pensar pelo menos três vezes, senão mais.

Bem mas indo direito à história aguentei-me dois dias em casa 26 e 27 de março, na madrugada de 28 pelas 2 horas da manhã, as dores aumentaram e como já não as suportava, muito contrariado, mas com a insistência da minha mulher lá fui a caminho do Hospital, depois de ter bebido quase toda a fonte da água das pedras e de tomar um gel para me fazer deitar fora o que tinha cá dentro, tudo isto e nada, cada vez pior.

Quando lá cheguei por volta das 2 horas e 30 minutos, fui visto nas urgências e mandaram-me de imediato para o SO, vá de meterem soro e de me dizerem para repousar o mais possível, desconfiei pois eu sentia-me mal disposto e tinha que fazer repouso, pensei para comigo isto não está bom. Fiz exames, radiografias, tomografias axiais computorizadas (tac’s) e nada de ficar com outra disposição, repeti estes exames pelo menos duas vezes, a prescrição mantinha-se repouso. Na manhã de 28 entra no SO, pelas 8 horas, uma gestora do Hospital e diz para a minha mulher que eu provavelmente teria que ser intervencionado, porque os meus intestinos tinham bridado. Eu que não sabia o que era estranhei e disse para a minha mulher, então eu estou mal disposto e vão-me operar, não concordo nada com isso, o médico chegou de imediato mandou-me fazer mais exames e análises, para confirmar o diagnóstico e por volta das 11 horas veio-me explicar o que tinha utilizando uma linguagem muito técnica mas correcta mas que eu não entendi nada do que disse, como sempre fui pessoa que gosto de entender tudo, pedi-lhe para me explicar por outras palavras o que é que me estava a acontecer, foi aí que percebi que a situação passava pela intervenção cirúrgica. Eu que tinha feito uma intervenção cirúrgica em setembro de 2013, argumentei com o médico e ele condescendeu, mas com a condição de continuar com a sonda que me introduziram, logo, quando cheguei, situação que não desejo a ninguém. Aceite a negociação o médico saiu e eu lá me fui aguentando estando sossegado para ver se os intestinos normalizavam e estabilizavam pois estavam já a fazer nós. Aguentei até à madrugada de 31 de março altura em que me deu um vómito que sujei tudo cama, quarto, paredes e o que mais houvera o pessoal de enfermagem entrou em contacto com o médico e logo cedo ele apareceu ao pé de mim e disse-me peremptoriamente que não iria esperar mais tempo e que no final do dia me viria realizar uma cirurgia, aqui eu que já estava a aguentar dores há muito tempo, disse-lhe muito bem faça o que entende que deve fazer que eu de medicina não sei nada.

Bem ao final do dia por volta das 20 horas, já depois de estar todo espicaçado e farto de estar entubado mal sabia eu que iria ficar naquele estado até o médico me dar alta, já estava por tudo e entrei naquela que seja o que Deus quiser, o cadáver estava à disposição. Ainda consciente quando estava para entrar para o blocooperatório, a senhora que empurrou até lá contou-me a história dos seu filho que estava desempregado, situação actual nos nossos dias nada e anormal e eu dei-lhe o meu endereço electrónico para o filho me mandar o curriculum vitae para eu o enviar a algumas pessoas para ver se se resolvia a situação. Quando entrei no bloco, pergunta-me um enfermeiro o que é que eu queria naquele momento, respondi-lhe de imediato, que queria água muita água, se fosse possível colocar o meu corpo numa tina de água, melhor. Isto porquê porque desde que entrei no hospital apenas podia molhar os lábios, apesar de estar com soro para me hidratar não era a mesma coisa que beber água ou poder tomar banho, riram-se, depois disto quando a enfermeira me veio para picar e constatou que as minhas veias eram difíceis como eu já sabia, muito simpática disse-me que o seu nome era Nicole, tentou ver onde me podia picar e torceu o nariz, entretanto a anestesista começa a falar comigo a explicar-me o que vai acontecer. Quando a enfermeira me disse que se chamava Nicole pensei para comigo, logo agora que estou neste estado e aparece-me a Nicole Kidman e eu estou neste preparo e sem condições para “falar” com ela.

A intervenção cirúrgica correu bem o pós-operatório com sonda durante 4 dias foi insuportável, mas quando as coisas acontecem temos que nos aguentar, que é isso que o “figurino” manda.

A mensagem que vos quero fazer chegar é que não seja teimosos como eu e em situações que não se sintam bem não se armem em heróis e suportem a dor de forma estóica, só agora no momento em que vos estou a escrever esta mensagem, sem entrar muito em pormenores, quanto mais por maiores, eu podia ter morrido, por não ir de imediato a uma urgência hospitale exerçam os vossos direitos ao tratamento e de assistência médica em tempo oportuno, mas sempre com um olho no burro e outro no cigano, não calhou tive sorte, actualmente tenho conhecimento que muitas pessoas já morreram com o tipo de ocorrência que eu tive, que só agora tenho consciência o que tive é designado vulgarmente por volvo ou seja os intestinos tomaram a iniciativa de iniciarem um processo de nós sem minha autorização.

Esta é mais uma das minhas experiências vivida ao vivo e a cores e mais uma “cicatriz” para o curriculum que o cadáver vai registando, por isso costumo dizer entre amigos que já estou muito “velho”, não pela idade mas pelas coisas que já passei, devo estar perto dos 150 anos.

Henrique Pratas

 

 

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