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COSTA E MARCELO - O FIM DO TABÚ

15-05-2020 - Francisco Garcia dos Santos

Aparentemente o facto político da semana foi a injecçãodirecta ou indirecta de mais 800 milhões de Euros do erário público no Novo Banco,ex-BES.

Para refrescar memórias, no último debate quinzenal no plenário da Assembleia da República António Costa foi confrontado com a pergunta de Catarina Martins do BE sobre tal injecção, lembrando ao Primeiro Ministro de que este havia dito que enquanto durasse a auditoria independente em curso àquele Banco pela Deloitte o Governo não poria mais 1 cêntimo no mesmo, sendo a réplica de que tal não tinha sucedido nem sucederia. Mas depois, alegando desconhecimento da operação (!?), veio a público confirmar a mesma e pedir desculpa à líder e deputada do BE.

Seguidamente, e de forma subliminar, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa deu um “puxão de orelhas” ao Ministro Mário Centeno e partidos da oposição com assento parlamentar, sobretudo o PSD pela voz do seu Presidente Rui Rio, pediram a demissão do mesmo. Para encerrar o assunto António Costa chamou Mário Centeno a São Bento e anunciou que mantinha a sua confiança pessoal e política no seu Ministro, o que não é de espantar, pois não tinha outra alternativa. É que não se pode esquecer o seguinte: colhendo os frutos da austeridade do governo de Passos Coelho e do alívio da dívida pública herdado dos seus antecessores Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, bem como bafejado pela sorte de a economia mundial ter estado em franco crescimento e baixíssimas ou negativas taxas de juroaté à pandemia da Covid-19, mostrou-se competente não só a gerir a herança e as circunstâncias positivas da conjuntura, mas também a acrescentar valor às mesmas, o que lhe permitiu obter pela primeira vez na história desta III República um saldo positivo de execução orçamental relativamente a 2019 -um brilharete!-; faceà sua performance ao leme das finanças públicas portuguesas ganhou prestígio entre os seus colegas do Eurogrupo e foi eleito Presidente do mesmo, estando a desempenhar o cargo da melhor forma possível com vista à procura de consensos políticos para a criação e organização de mecanismos financeiros que auxiliem financeiramente os tecidos económico e social europeus face à grave crise gerada pela pandemia do SARS-Cov2 e Covid-19; está em cima da mesa a necessidade de elaboração dum orçamento de Estado suplementar para 2020 devido à Covid-19; um ministro “criticado” pelo P. R. e objecto de pedido de demissão por parte da oposição parlamentar jamais será exonerado por qualquer P. M. com um mínimo de inteligência e bom senso político, pois fazendo-o (ainda que gostasse de o fazer) transmitiria para dentro do próprio Governo e da(s) força(s) política(s) que o apoia(m) e para fora, i. e. oposição e população em geral, uma imagem de fraqueza.

E António Costa é tudo menos estúpido e inábil político, o que tem vindo a demonstrar desde ter “passado a perna” a Passos Coelho, pois não obstante ter perdido as eleições legislativas de 2015 foi indigitado Primeiro Ministro e formou governomediante a criação da “geringonça” de esquerda que o apoiou (e ainda apoia), gerindo-aexplorando a rivalidade entre PCP e BE,vencer sem maioria absoluta, mas com reforço da bancada parlamentar do PS, as eleições legislativas de 2019, tornar-se menos dependente daqueles, até à captação de apoios pontuais à sua direita para equilibrar os “pratos da balança”, mormente do PSD de Rui Rio, que até tem sido acusado dentro e fora do seu partido de não fazer oposição e ser subserviente a Costa.

Porém o importante e verdadeiro facto político da semana ocorreu na passada quarta-feira, 13 de Maio, na Autoeuropa, aquando da visita ao respectivo complexo fabril em Palmela pelo P. R. Marcelo e pelo P. M. Costa.

Com efeito, nessa visita e perante as câmaras das tvs, ao lado de Marcelo, Costa disse que após as eleições presidenciais de 2021 ali iriam ambos almoçar como P. R. e P. M., o que o primeiro não só não desmentiu, como confirmou nas “entrelinhas”, ao referir-se ao trabalho de equipa (entre ele e Costa), dizendo que no próximo ano lá estariam, e por fim, perguntado directamente por um jornalista se se recandidatava ou não a 2º mandato, respondeu que em certos momentos é necessário abdicar de interesses ou vontades pessoais em prol do interesse público -como quem diz, “até poderia não me recandidatar, mas nestas circunstâncias da Covid-19 tenho de o fazer”. E conhecendo-se como se conhece a vaidade de Marcelo, tendo a popularidade de que goza junto da população -e de forma transversal-, bem como tendo o apoio da direita tradicional com representação parlamentar e do PS, não deixará de se recandidatar com vista a conseguir bater em termos de votos e percentuais o General António Ramalho Eanes nas primeiras eleições para o cargo ocorridas em 1976, que obteve 2.967.137 votos e 61,59%; e Mário Soares nas “presidenciais” de 1991, em que conseguiu o record desde então imbatido de 3.459.521, representativo de 70,35%; sendo que em 2015 o atual Presidente obteve em 2015 2.410.130, correspondente a 52%.

Ora desde 2015 Marcelo e Costa têm sido “cara e coroa” da mesma “moeda”, entendendo-se politicamente e, diria mesmo, pessoalmente, sendo que o primeiro tem sido o seguro de vida político do segundo, e este contribuindo a manutenção dos alto nível de popularidade do primeiro, crescendo e consolidando-se assim a de ambos-e no que concerne à do P. M., sobretudo desde inícioda pandemia do SARS-Cov2 e Covid-19. Popularidade essa que no caso de Marcelo faz com que a sua base eleitoral nas “presidenciais” de 2021 se estenda do CDS ao PS, passando obviamente pelo PSD, cujo apoio Rui Rio confirmou há alguns dias, e quiçá conte com a neutralidade ou até complacência do BE, que não institucionalmente do PCP, pois, mais não seja para ter tempo de antena, apresentará como sempre um candidato próprio, o que não significa necessariamente que uma parte relevante do seu eleitorado não vote no recandidato Marcelo Rebelo de Sousa.

Apoiando Costa e seu PS a recandidatura de Marcelo, colherá frutos da reeleição deste e da sua popularidade, aumentando a própria, o que não será despiciendo para, se tudo correr razoavelmente bem, almejar uma vitória nas “legislativas” de 2023 com maioria absoluta.

E no caso de Marcelo completar um 2º mandato presidencial, tal ocorrerá em 2026, sendo que se Costa for à data P. M., levará 3 anos de legislatura, o que lhe permitirá “largar” o Governo, legando o cargo a quem então for o seu número 2 para a completar, à semelhança do que Durão Barroso fez relativamente a Santana Lopes quando se demitiu para ir exercer as funções de Presidente da Comissão Europeia, e candidatar-se à sucessão daquele como Presidente da República, “secando” qualquer candidatura com significado à sua esquerda e causando grandes problemas à sua direita para encontrar alguém que com ele se consiga bater de igual para igual.

Portanto, o facto político da semana é o anúncio de recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Presidente da República e o de Costa já se perfilar para lhe suceder a longo prazo.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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