Edição online quinzenal
 
Sábado 27 de Abril de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Fim-de-semana

08-08-2014 - Henrique Pratas

Dando continuidade ao meu texto já apresentado em tempo oportuno, na passada sexta-feira desloquei-me de novo para o Arripiado, onde encontrei o meu “cantinho” para uns fins-de-semana sem televisão, sem jornais e muito sossego, longe dos maus e dos bons Bancos. Mais um novo conceito que eu não conhecia, estou sempre a aprender, só gostava que informassem as pessoas o que é que distingue e quem é que diz quem são os bons dos maus, a confiança nos Bancos em geral está afectada, recordo das palavras dos meus avós em que bancos só os que se punham perto da chaminé para as pessoas se aquecerem. A confiança está abalada não só nos Bancos mas em tudo o que compõe esta sociedade, como retomá-la, vai dar muito trabalho e levar anos.

Todavia, não quero deixar de partilhar convosco alguns acontecimentos que ocorreram.

A viagem de ida como já referi decorreu na sexta-feira, costumo fazer a A1 saio em Santarém, faço a estrada do campo que me leva a Alpiarça. Faço esta estrada porque nesta altura do ano os campos estão plantados com milho e na altura em que passo por lá coincide com o tempo de rega e cheiro que fica no ar é para mim simplesmente delicioso, o ar fica mais fresco e com um cheiro a milho ainda verde.

Antes de chegar a Alpiarça, na última curva à direita da estrada do campo, perto de um ribeiro e de árvores com sombras saborosas está instalado um local de vendas de melão e melancias. Entrei no espaço e comprei alguns melões e melancias para consumo caseiro e para dar, porque o preço é significativamente mais barato do que aquele a que normalmente compramos e ajudamos alguns seareiros a escoar o seu produto de qualidade que se recusam a vendê-lo a um preço baixo oferecido por um intermediário que nada acrescenta ao processo produtivo, a não ser o de um ganho que lhe não é devido.

Quando foi para pagar, tive a oportunidade de verificar que com destreza a senhora que estava a vender se curvou e flectiu as pernas e com o indicador direito fez as contas num ápice no chão que era de terrabatida e eu senti-me útil não foi em vão em que andei nas campanhas de alfabetização, por aquelas bandas, tinha produzido efeitos, não esperava e de tão desanimado que ando com isto tudo recebi de imediato uma recompensa que nunca pedi, mas que foi bom ver que o meu esforço tinha servido para alguma coisa. Fico feliz com pouco. Na altura em que andei nas campanhas de alfabetização existiam muitos miúdos que não iam à escola porque tinham que ajudar os pais na lida do campo e eu tive o privilégio de poder contribuir com algo para que aqueles miúdos mereciam isso e muito mais.

Feliz, com o sucedido, enquanto fiz o resto da viagem até ao Arripiado, fui pensando tanta tecnologia, tanta máquina de calcular e às vezes temos à nossa disposição meios mais imediatos e que satisfazem as nossas necessidades é preciso é que a nossa cabeça funcione e aproveite o que nos é colocado à disposição, foi isso que quando lá andei lhes tentei transmitir, há que olhar a nossa volta e ver o que temos à nossa disposição para que possamos satisfazer as nossas necessidades.

O fim-de-semana como pretendia foi sossegado, porque nesta altura do ano a minha resistência já anda em níveis muito baixos, ansioso por ir de férias no início de setembro, como não me resta outra alternativa vou rastejando até lá.

No sábado de manhã o som emitido pelo NORATLAS, já não esteve presente, pudera estamos em agosto e a aeronave também merece férias e o silêncio foi mais ensurdecedor do que nunca, numa aldeia voltada ao abandono onde poucas pessoas restam e os pontos de comércio já fecharam quase todos, não há nenhum ruído e o descanso é absoluto e retemperador.

Apesar de todo este silêncio as notícias correm e tomámos conhecimento que o “João Semana”, daquele concelho médico de profissão e de nome Barbosa, com 57 anos tinha falecido, pois tinha sofrido um aneurisma enquanto dava consultas de urgência na Chamusca e apesar de ser evacuado para o Hospital de Santa Maria, não resistiu a este ataque à traição. Existe sempre ou quase sempre um “João Semana” nestas zonas, gostava da profissão que exercícia e não tinha horários e a sua disponibilidade para ver as pessoas era total e sem horas marcadas, sei que chegou a deslocar-se a casa de muitas pessoas enfermas às 3 às 4 horas da manhã, para as assistir e estava sempre disponível através do telefone.

Para um concelho do interior foi mais uma grande perda, já existem poucos meios no interior e estas pessoas que se dedicam a uma profissão que abraçaram e que gostam de a desempenhar complica ainda mais as coisas. Mas enfim, cumpriu-se a única coisa que temos certa na vida e quando nascemos, a morte, veio sem avisar e causou danos como sempre, familiares e sociais.

Aliás a propósito, eu ando numa fase em que não me apetece nada morrer e ando cheio de medo que isso que aconteça, não me apetece que ocorra agora, tenho ainda muita coisa para fazer e sinto que não vou ter tempo para fazer tudo o que tenho em mente é assustador, não conseguimos controlar nada, nem sequer somos senhores da nossa vida.

Durante o fim-de-semana eu, a minha mulher e amigos aproveitamos para pôr a conversa em dia e então tomei conhecimento que uma cadeia de supermercados, ou grande superfície como queiram, obrigam as pessoas que estrão na caixa a trabalhar 5 horas seguidas, sem se puderem levantar. Esta conversa veio porque uma senhora que é diabética e que trabalha na referida superfície teve que ir ao médico de família para que este lhe fizesse um relatório indicando que sofria de diabetes e que tinha que fazer pausas para se puder alimentar e assim controlar os níveis de insulina, sem esse relatório estava proibida de se levantar havia que aguentar estoicamente as 5 horas exigidas.

Só pensei par onde estamos a caminhar e pensando na divulgação que o nosso amigo João Andrade da Silva fez sobre o foco de esclavagismo no Alentejo, onde é que os que os direitos humanos estão a ser respeitados, considero estas situações aviltantes e não era isto que queria para o meu País, quando é que isto muda, ou dá a volta?

Rapidamente se fez segunda-feira e lá voltámos nós a mais uma semana de trabalho, à espera de mais um fim-de-semana, aguardando que as férias cheguem, quem seria que inventou isto.

Henrique Pratas

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome