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COMO SAIR DA PANDEMIA?

01-05-2020 - Cândido Ferreira

Tal como acontece com os terramotos, há décadas que se previa o eclodir de uma peste. E esta nem resulta do consumo de espécies selvagens ou de criação laboratorial. A ciência apenas nos mostra que o homo sapiens tem mesmo de sobreviver numa biosfera muito diversa e em constante mutação.

Afastadas as teorias conspiratórias, o covid-19 terá surgido no país mais populoso e dos mais insalubres do planeta, onde, a par de grandes inovações, predomina uma “medicina tradicional”. Mesmo em centros de referência, as suas práticas médicas ficam aquém da ciência ocidental, de que Portugal é bom exemplo. Sabemos hoje, por exemplo, que, com milhares de vítimas registadas, a China só reportou três autópsias.

Para a “tempestade ser perfeita”, aí vigora um sistema totalitário onde até a circulação dos cidadãos é controlada. Não admira assim que, durante semanas, o poder político tenha abafado uma terrível realidade, que redundou num desastre à escala global.

Porém, quando o vírus galgou a muralha e salpicou o planeta, foi com espanto que confirmei que o Ocidente, ao contrário da Oriente, “não estava preparado para enfrentar uma guerra biológica, mais que esperada”.

Perante a desorientação a que assistia, cedo lancei “a discussão sobre a estratégia a seguir: deixar andar e, na lógica dos terramotos, enterrar rapidamente os milhões de mortos e relançar a economia; ou, retardando a progressão, evitar contágios e picos catastróficos, preparando arsenais e salvando o máximo de vidas humanas”.

Defensor acérrimo da segunda hipótese, estava longe de imaginar o drama que me estava reservado, com a “negação de evidências científicas por autoridades estrangeiras e portuguesas e a desvalorização da ameaça que pairava sobre Portugal”. Com o caos instalado, era o poder político-económico, e não orientações técnico-científicos, quem ditava regras. E até a OMS desvalorizava a pandemia, erro em que também a nossa DGS, controlada pelo MS, incorreu.

Escrevi então dezenas de textos de alerta. Neles afirmei que a estratégia, sob uma linha forte de comando, passaria pela rápida formação sanitária da população e da proteção civil, pelo confinamento social e pelo uso obrigatório de máscaras. Travada desse modo uma possível avalanche, o nosso SNS, se equipado a tempo, estava mais que preparado para a “batalha mais heroica da sua vida”.

“Ao ver as barbas dos vizinhos a arder", os portugueses depressa iriam pôr trancas à porta e, como é nossa tradição, “aviar meias-receitas”. Medidas tardias e sem fio condutor, sobretudo evidentes nas áreas de risco, mas que evitaram o temível pico, hoje transformado em planalto que teima em não baixar: cada português infetado, sem o uso generalizado de máscara, “não desiste” de contaminar outro, prolongando assim a cadeia de transmissão.

Registam-se, como saudei, algumas exceções onde as autoridades locais enfrentaram a crise a sério e o surto foi contido.

“Farto” de um confinamento que é económica e socialmente insustentável, Portugal prepara-se agora para a “reabertura”. Para nossa alegria, e num setor que não regista vítimas, nem sequer entendo porque, à porta fechada, o futebol ainda não regressou. Faz falta o futebol, para animar a malta…

As variáveis que ainda temos pela frente são imensas e os raios ultravioleta de um maio soalheiro podem até travar o avanço da pandemia. Por que não sonhar com uma época balnear quase normal e com Portugal a antecipar-se ao mundo, enquanto “paraíso turístico”? Possibilidade que, ainda que remota, tem mesmo de ser analisada. E já.

Porém, para que a nossa recuperação aconteça, a reabertura da atividade deverá ser faseada por setores, por faixas etárias e concelho a concelho. “Tudo à molhada”, como se anuncia, “à balda” e datas fixadas sem critério, pode mesmo redundar em “buraco”.

E, por fim, não esqueçam: Quem tiver de sair de casa, no mínimo use máscara e óculos.

Cândido Ferreira – ex-médico e escritor

 

 

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