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O 25 DE ABRIL DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

24-04-2020 - Pedro Pereira

Quarenta e seis anos são passados desde que um golpe de Estado derrubou um velho e caduco regime de cerca de meio século: - O regime salazarista. Nos últimos anos já sem o seu mentor (Oliveira Salazar), dado que a parca havia levado, entretanto, na sequência da simples queda de uma cadeira de praia no Forte de S. Julião da Barra onde passava uns dias de descanso. Coisas que podem acontecer a qualquer um…

Chamaram-lhe, chamam-lhe ainda de Revolução dos Cravos, mas foi, antes, uma revolta castrense, que nas horas, dias e meses que se seguiram acabou numa espécie de revolução popular, que os militares não foram capazes de conter nas primeiras horas. Por outro lado, Revolução não foi, porque os responsáveis pelo regime, com os seus bufos, pides e quejandos, depois de terem matado, torturado e perseguido durante décadas milhares de cidadãos, até hoje continuam impunes, muitos deles bem instalados na vida, condecorados, reintegrados na função pública ou com boas reformas. E se com alguns isso não aconteceu, foi só porque a morte os levou logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.

A este propósito é de recordar que o regime salazarista foi, sem dúvida, o maior “fabricante” de comunistas, porque qualquer voz, escrito ou acto que se rebelasse contra o regime, era obra de “comunistas”.

Houve, sem dúvida, na sequência do dia 25 de Abril de 1974, profundas transformações nalguns sectores da vida portuguesa, mas naquilo que é mais importante no sentido de conduzir a uma verdadeira Revolução, tal nunca sucedeu até hoje, ou seja: uma profunda mudança de mentalidades, tendo por base valores como a solidariedade, a fraternidade, a justiça social… mas sobretudo, a tomada de consciência de que Portugal só será aquilo que cada um e todos nós portugueses quisermos que seja, e não, o que um qualquer governo queira, porque os " donos" dos País são todos os portugueses e não um grupo restrito que foi ocasionalmente eleito (é o caso do actual governo dito socialista) que descontada a percentagem de abstenções, de votos em branco, de votos nulos, não representa a vontade da maioria dos portugueses. É fácil de verificar. Qualquer um que faça as contas dentro do panorama que nos rege. A verdade é que foram legalmente eleitos.

Lamentavelmente verificamos em cada sufrágio que passa, existe um abandono, um deixar cair os braços, o demitir-se dos seus direitos de cidadania por parte de uma percentagem cada vez maior de portugueses, sintoma expresso nos crescentes índices de abstenção aos actos eleitorais.

O 25 de Abril foi um golpe de Estado eivado de equívocos, acabando no entanto por ser libertador, restaurador do direito de expressão, das liberdades cívicas, do direito de voto e com isso, do aparente direito à condução pelo povo, do seu destino. Fugaz ilusão, é que o voto só por si não resolve os problemas sociais, económicos e culturais, o voto – a delegação do poder de cada cidadão – que conduz ao poder personagens que a maior parte dos eleitores desconhece, não é uma varinha mágica que resolva os problemas de todos e cada um, e daí, o cada vez maior desencanto de milhões de cidadãos, que não só vêm de ano para ano o estado da Nação a ficar em muito mau estado, como sentem, também, que são cada vez menos escutados por banda daqueles que elegeram, tratados como meros espectadores do seu destino.

O divórcio entre eleitos e eleitores, entre dirigentes políticos (da cor política que seja) e o povo, é um facto cada vez mais evidente.

A maior parte dos políticos depois de eleitos, invariavelmente assumem posturas de “ donos” dos cargos que exercem, como se um cargo político fosse uma profissão e não uma missão transitória ao serviço dos seus concidadãos.

É uma tristeza esta constatação, à luz do conceito de democracia, mas também se pode solucionar esta questão, acabando-se com o equívoco, criando-se um sindicato dos políticos, enfim, regulamentando-se a profissão de político, e se acharem por bem podem até criar uma Ordem ou um clube recreativo, um grémio, uma cooperativa cujo hino pode ser “A Mula da Cooperativa” que era muito bem interpretada pelo saudoso Max… ou até, uma fundação, que parece que é o que está a dar. Deixem-se de utopias (os que ainda as têm) e clarifiquemos esta situação de uma vez por todas.

Temos de concordar, que quase cinco décadas de regime de ditadura, deixou marcas profundas na sociedade, sobretudo ao nível das mentalidades ( em boa parte do português reina a serôdia candura de um ditador). Durante o Estado Novo, a maior parte do povo foi habituado a ter quem decidisse do seu destino. Os poucos, aqueles que não se conformavam, iam malhar com os ossos nos curros da polícia política, quando não a sítios piores, ou com sorte conseguiam emigrar.

Quarenta e seis anos já são passados, mas grande parte da nação portuguesa continua a deixar mansamente quem decida do seu futuro. Muito embora barafuste em surdina contra os seus mentores, têem medo, por vezes terror, em se expressar publicamente contra o sistema. Não existe a PIDE, a censura oficial, mas existem outras formas mais subtis, modernaças, de coacção psicológica, de censura, de manipulação da informação, de controlo dos órgãos de comunicação social até outras “pidezinhas”, incluindo ligadas ao poder político. Bufaria instalada em todos os órgãos da administração central e local. Antes, nos tempos salazaristas, existia a censura que controlava a comunicação social. Hoje, que não há censura oficial, quem escreve ou se expressa publicamente, tem de se auto censurar em cada linha que escreve, não vá o diabo tecê-las e depois acabar enrolado em tribunais.

Os grandes media a nível nacional, esses, são propriedade de avantajados grupos económicos, que gerem a informação como se cozinhassem uma caldeirada rasca, ao serviço dos partidos políticos que estiverem no poder. São poucas as excepções.

Quem trabalha como subalterno quer numa empresa quer na função pública, tem de ter cautela com os seus ardores partidários, salvo se forem da cor dos do chefe, e por aí fora.

Enquanto o povo não tomar consciência da força que tem, do peso que tem o seu voto, que o seu destino só por ele pode ser feito, com as suas mãos, mas que para isso tem que estar unido, só nessa altura então, pode ter, – poderemos ter – esperança num futuro mais promissor, num Portugal mais coeso, mais justo, mais fraterno e solidário, que nos orgulhe de ser portugueses.

Pedro Pereira

 

 

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