OS IDIOTAS ÚTEIS

03-04-2020 - Francisco Pereira

Esta nossa sociedade está cheia, como bem sabemos, de sabujos, não adianta lutar contra isso, os sabujos dominam os escalões inferiores deste miseranda sociedade de trastes, dominam portanto a arte do “lambe-botismo”, dentro dessa tão essencial classe de gentalha, distinguimos uma sub classe a que chamaremos o “idiota útil”.

O “idiota útil” não é um sabujo genuíno, é antes um sabujo amador, que não colhe os frutos do verdadeiro sabujo, nem os procura deliberadamente, contentando-se com palmadinhas nas costas, é um sabujo para quem bastam umas festas do dono para continuar dócil e a abanar a cauda.

O “idiota útil” pessoa que passa por intelectual, culto e viajado, tem por maior missão, auto imposta, espalhar o “evangelho” do seu dono. Por «dono» entenda-se, alguma instituição, partido político ou pessoa a quem o “idiota útil” se dedica de alma e coração e a quem defende de forma absolutamente canina, replicando sempre que pode os discursos e as palavras do «dono», palavras e discursos que encara com uma verdadeira «bíblia» se bem que ao “idiota útil” se aplica mais o adágio “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz não faças o que ele faz”.

O “idiota útil”, até escreve nos jornais, artigos bem-sonantes e bem-falantes, que mais não são, que meros ecos das palavras e das cassetes requentadas do seu «dono», seja um politiqueirote importante lá da santa terrinha, seja um comité central de um partido ou um presidente de um qualquer clube de empurra bolas.

Embevecido consigo próprio, estimulado pelo «dono» o “idiota útil” próspera na sua missão, quase mística, de propagandear a palavra do «dono», o “idiota útil” é acéfalo, no fundo é um biltre, um pulha miserável, um patético exemplo de ser humano, medíocre, despojado de intelecto, incapaz de uma séria reflexão critica limita-se ao “copiar colar” panfletário, pintalgado de lugares comuns e citações, O “idiota útil”, adora citar outros, dá-lhe um ar superiormente intelectual, afinal quem faz citações é um letrado, um intelectual, é nisso que o “idiota útil” acredita piamente e é nisso que investe o seu melhor.

Felizmente para o seu «dono» no seu percurso, o “idiota útil”, não procura cargos, não procura comendas nem se deixa iludir pelo vil metal, facto que mais faz elevar o estatuto do “idiota útil” junto da sua corte de apaniguados que o escutam como se o mesmo fosse um profeta, ao “idiota útil”, bastam-lhe uns sorrisos do «dono», umas palmadas nas costas, uma referência em público um aperto de mão especial num dia de inauguração de uma qualquer obra pública, em que o chefe quebra o protocolo para dar a merecida atenção ao seu “idiota útil” que tão bons serviços lhe presta, esses actos com que o «dono» ciente da natureza do “idiota útil”, distribui consciente e calculadamente para que o “idiota útil” se mantenha na sua esteira a fazer aquilo que tão bem faz, a lamber-lhe as botas, mendigando a sua atenção revelando um desvelo canino de fazer inveja a qualquer canídeo de quatro patas.

Francisco Pereira

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