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Exército. Uma demissão esperada empurrada pelo PS

19-10-2018 - Manuel Carlos Freire

A saída do general Rovisco Duarte era há muito uma questão de tempo, dada a forma inábil como geriu o caso de Tancos e deixou subordinados sem apoio no caso dos Comandos, por exemplo. Carlos César terá dado o golpe final.

A demissão do general Rovisco Duarte como chefe do Exército era há muito esperada e, horas antes de ser conhecida, dava-se como certo que o poder político só o manteria uma semana em funções, até ao Dia do Exército. Agora que saiu, aguarda-se também a saída do tenente-general Martins Pereira, o ex-chefe de gabinete do então ministro Azeredo Lopes e que será ouvido em breve no Ministério Público.

No caso provável de ser constituído arguido - como o DN noticiou - e face aos alegados crimes que cometeu ao saber, e não informar, as autoridades da operação simulada e ilegal da PJ Militar (PJM) para recuperar as armas de Tancos, Martins Pereira "não terá condições para se manter em funções" no Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) onde é adjunto para o Planeamento e Cooperação. Fontes militares asseguram que a personalidade do chefe do EMGFA (CEMGFA), almirante Silva Ribeiro, não permitirá que Martins Pereira continue.

Quanto a Rovisco Duarte, o major-general Carlos Chaves diz ao DN que a decisão da demissão surgiu "em função" de o presidente do PS, Carlos César, ter defendido a sua saída na TSF. "Foi a sentença de morte" para quem já "não tinha ninguém que o defendesse: nem o novo ministro nem o CEMGFA e com problemas tremendos a surgirem" por causa de Tancos e da morte de dois instruendos no curso de Comandos.

A verdade é que a saída de Azeredo Lopes, consequência política do furto de Tancos dias após o seu ex-chefe de gabinete confirmar que tinha sido informado da operação forjada da PJM para recuperar as armas, tornou insustentável a situação de não haver quem, no Exército, também assumisse responsabilidades por um caso estritamente militar.

Aliás, como lembram várias fontes, o facto de as chefias militares não terem sido informadas de que estava a ser preparado um assalto era irrelevante - porque é uma obrigação militar guardar os paióis e porque "evitar o roubo é uma responsabilidade das forças e serviços de segurança", enfatiza uma das fontes ouvidas pelo DN.

O coronel Nuno Pereira da Silva lembra o enorme grau de contestação interna que Rovisco Duarte suscitou ao decidir exonerar temporariamente - figura jurídica inexistente - os cinco comandantes das unidades responsáveis pela segurança dos paióis, o que motivou a demissão de dois tenentes-generais. "A partir daí houve uma cisão no Exército e a ala mais conservadora andou a fazer tudo para que aquele saísse". O coronel do Exército diz que o chamado movimento das espadas e os protestos em torno da saída do coronel Pipa Amorim do cargo de comandante do Regimento de Comandos foram nesse sentido.

Mas "a outra ala também queria que saísse", reconhece o antigo comandante do regimento de Tavira, pois Rovisco Duarte "estava completamente em cheque porque foi incapaz de gerir uma crise" - e, na lógica castrense, "quem é incapaz de gerir uma crise é incapaz de gerir uma guerra".

Recuperar o Exército

Com a demissão de Rovisco Duarte, além da escolha do sucessor está também na mesa conseguir recuperar a imagem negativa em que o Exército mergulhou, admitem as fontes. "Tem que ser possível inverter" essa imagem, até porque "o Exército é mais do que isso" - leia-se também é a participação nas missões de paz como a da República Centro-Africana ou o apoio dado à Proteção Civil, assinala um oficial.

Segundo Carlos Chaves, "não basta substituir o chefe" e o sucessor, "qualquer que ele seja, tem de olhar" para quem vai escolher como braços direitos a fim de rejuvenescer o ramo e assumir o corte com os acontecimentos dos últimos tempos.

O processo de sucessão começou na própria quarta-feira, com o ministro da Defesa a ouvir os tenentes-generais do Exército no ativo para escolher um nome. Isso exige a audição prévia do CEMGFA, o qual dá o seu conselho depois de ouvido o Conselho Superior do Exército (onde têm assento os generais do ramo).

Recebido o parecer do CEMGFA, o Governo propõe o nome escolhido ao Presidente da República, a quem compete nomear os chefes militares - e exonerá-los, o que fará com Rovisco Duarte quando receber do primeiro-ministro a proposta para esse efeito.

Os principais candidatos são sete, quatro no Exército e três na GNR. No ramo estão Fernando Serafino (vice-CEME), Cóias Ferreira (comandante da Logística), Guerra Pereira (comandante operacional) e Fonseca e Sousa (Pessoal); na Guarda, são Botelho Miguel (comandante-geral), José Nunes da Fonseca (segundo comandante-geral) e Rui Clero (comandante operacional).

Contudo, a generalidade das fontes do ramo ouvidas pelo DN entende que alguns deles têm menores probabilidades de ostentar agora quatro estrelas prateadas.

O primeiro deles é precisamente o vice-CEME: apesar de mais antigo e de ser praticamente consensual o reconhecimento da "competência e serenidade", o seu nome surgiu nas escutas ao caso de Tancos e esteve na República Centro-Africana com o antigo porta-voz da PJM e principal investigador militar do caso, major Vasco Brazão.

Sem fazer juízos de valor e dando como adquirido que Fernando Serafino nada tem com o caso, as fontes argumentam que o simples facto de ter sido indiretamente envolvido num processo ainda em segredo de justiça não permite que os decisores políticos corram riscos com essa escolha.

Cóias Ferreira e Fonseca e Sousa também não são vistos como fortes candidatos, por estarem ligados a Rovisco Duarte e o seu valor suscitar reservas em vários setores militares.

Assim, no Exército só é verdadeiramente considerado Guerra Pereira: embora muito ligado ao anterior CEMGFA, general Pina Monteiro, esse tenente-general estava colocado no quartel-general da NATO em Valência quando rebentou o caso de Tancos e depois se montou a operação simulada para recuperar o material.

Esse pormenor é relevante, face ao que refere o coronel Nuno Pereira da Silva: se "a encenação e a receção à pressa das armas" agravaram o sentimento de "vergonha para o Exército" que resultou do furto, o facto de "não deixarem entrar a PJ" no Campo Militar de Santa Margarida aconteceu porque "o CEME tinha dado ordens para isso".

Tudo somado, acrescenta Pereira da Silva, "dava a entender que o Estado-Maior do Exército sabia do que se estava a passar". Para este oficial de infantaria, o grau de vergonha no ramo seria de tal ordem que tornaria admissível a operação forjada da PJM. Como? "A tentativa de encobrimento resolvia o problema de estarem a bater" publicamente no Exército, "era bom e virava-se a página", indica o coronel na reserva, evocando o ar de satisfação exibido por Rovisco Duarte ao anunciar a recuperação de uma caixa de petardos a mais face ao que oficialmente tinha sido furtado.

São estas as razões que, segundo as fontes, tornam mais provável a escolha de um dos generais que estão na GNR - mesmo que isso não seja muito bem recebido no Exército, à luz de casos semelhantes no passado.

Dos três nomes, o do tenente-general Rui Clero é indicado como o mais provável: trabalhou alguns anos num gabinete contíguo ao da agora secretária de Estado da Defesa, Ana Pinto, quando ambos integravam a equipa do ministro Nuno Severiano Teixeira.

Além de ter estado alguns anos em Bruxelas e ligado à UE - onde o ministro João Gomes Cravinho era embaixador - Rui Clero foi depois chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco e, lembram algumas fontes, foi para a GNR já com este Governo porque a então ministra Constança Urbano de Sousa o queria nomear como comandante-geral da GNR (e só não terá acontecido porque mudou o titular da pasta).

Fonte: DN.pt

 

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