Medicamentos para emagrecer estão a ser testados contra outras doenças
05-01-2024 - Leonor Riso
Fármacos como o Ozempic ou Zepbound podem ter efeitos em doenças renais, na síndrome do ovário poliquístico ou na apneia do sono. Vários ensaios clínicos estão em curso e as primeiras respostas podem surgir já em 2024.
Os nomes Ozempic e Wegovy são já conhecidos de muitas pessoas: estes medicamentos tão usados para a perda de peso tornaram a empresa farmacêutica Novo Nordisk a mais valiosa da Europa e o seu CEO Lars Fruergaard Jørgensen a Pessoa do Ano do Financial Times , e ainda impediram que a Dinamarca entrasse em recessão.
A concorrência das outras farmacêuticas na classe de fármacos GLP-1 não tardou e agora empresas como a Eli Lilly ou Sanofi também se afirmaram e já apostam noutros mercados além do da perda de peso: as suas substâncias estão a ser alvo de ensaios clínicos para perceber o impacto noutras doenças, das renais à apneia do sono.
De acordo com a agência noticiosa Reuters, o tirzepatide da Eli Lilly - vendido como Mounjaro para a diabetes e Zepbound para a perda de peso - é alvo de um ensaio clínico em pacientes com obesidade que sofrem de doença crónica renal, que por sua vez se traduz na perda progressiva da função dos rins. 140 pessoas estão envolvidas. Além disso, o tirzepatide está ainda a ser testado em pessoas obesas com falência cardíaca, num trabalho que deverá terminar em julho de 2024 e que envolve 700 pessoas.
A mesma substância está a ser usada contra a apneia do sono, num ensaio com 469 pacientes obesos e que inclui quem já recorre a ventiloterapia - equipamentos para manter as vias respiratórias abertas - e que não o faz.
A Eli Lilly está ainda a testar outro fármaco GLP-1, o retatrutide (que é experimental), em pacientes com excesso de peso e que sofrem de osteoartrite, uma doença degenerativa, no joelho. 405 pessoas entraram no ensaio clínico.
O semaglutido, substância ativa do Ozempic e Wegovy criados pela Novo Nordisk, está a ser testado por investigadores da Universidade Chinesa de Hong Kong juntamente com terapias convencionais em 140 pacientes que sofreram AVC causados pelo bloqueio de grandes vasos sanguíneos no cérebro. Já no centro médico Rigshospitalet em Copenhaga, na Dinamarca, está a ser testado como tratamento para a hipertensão intracraniana idiopática, uma condição associada à obesidade que faz com que a pressão na cabeça aumente. Está a ser associado a uma dieta de baixas calorias. No mesmo local, espera-se que termine em 2025 um estudo acerca da sua ação em dores de cabeça convencionais, e está a ser feito outro estudo com 108 pessoas para perceber se o semiglutido também ajuda a reduzir o consumo de álcool para travar o alcoolismo.
A Novo Nordisk também está a verificar os efeitos do semaglutido na doença de Alzheimer através de testes em 1.840 pessoas, num trabalho que deverá completar-se no início de 2025. Os efeitos do mesmo fármaco estão a ser testados pela farmacêutica em quem sofre de esteatohepatite não-alcoólica ou metabólica - um tipo de "doença do fígado gordo" - num ensaio já bastante avançado que deverá terminar em 2028. A mesma doença está a ser alvo de um ensaio da Eli Lilly, com tirzepatide.
Um fármaco da Sanofi, o lixisenatide, está a ser usado em 156 pessoas recentemente diagnosticadas com doença de Parkinson num ensaio conduzido por investigadores do hospital universitário de Toulouse, França. Esta substância costuma ser vendida como Adlyxin para o tratamento da diabetes tipo 2. Até agora, a terapia - juntamente com os medicamentos convencionais - parece travar a progressão dos sintomas motores, mas são esperados mais dados no início de 2024.
Já a substância liraglutido - comercializada pela Novo Nordisk como Victoza - provou reduzir os níveis elevados de testosterona em mulheres obesas com síndrome do ovário poliquístico, a doença hormonal mais comum entre mulheres em idade fértil. O estudo está a ser conduzido no hospital feminino de Los Angeles e segue-se a outro, também na cidade norte-americana de Cincinnati, em que a substância mostrou reduzir a severidade da apneia do sono em 12 entre 18 pacientes adultos sem diabetes.
Fonte: Sábado. pt
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