Motim na Marinha. Militares recusam embarcar em missão de acompanhamento a navio russo
17-03-2023 - ZAP
Segundo a Marinha, o comandante do navio reportou que, “apesar das limitações mencionadas, tinha condições de segurança para executar a missão”.
Mais de uma dezena de militares do navio-patrulha NRP Mondego, que se encontra na Madeira, recusaram-se no sábado a embarcar para cumprir uma missão, invocando falta de condições de segurança.
Esta ação levou a Marinha a considerar que os 13 operacionais “não cumpriram os seus deveres militares, usurparam funções, competências e responsabilidades não inerentes aos postos e cargos respetivos”.
“Estes factos ainda estão a ser apurados em detalhe, e a disciplina e consequências resultantes serão aplicadas em função disso”, referiu a Marinha, numa nota enviada à agência Lusa.
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De acordo com um documento elaborado pelos 13 militares em questão, a que a Lusa teve acesso, no sábado à noite o NRP Mondego recebeu ordem para “fazer o acompanhamento de um navio russo a norte do Porto Santo”, numa altura em que as previsões meteorológicas “apontavam para ondulação de 2,5 a 3 metros”.
Segundo estes 13 militares, o próprio comandante do NRP Mondego “assumiu, perante a guarnição, que não se sentia confortável em largar com as limitações técnicas” do navio.
Entre as várias limitações técnicas invocadas pelos militares constava designadamente o facto de um motor e um gerador de energia elétrica estarem inoperacionais.
Acrescia ainda, de acordo com os 13 militares, que o navio “não possui um sistema de esgoto adequado para armazenar os resíduos oleosos a bordo, ficando estes acumulados nos porões, aumentando significativamente o risco de incêndio”.
O Público refere que o NRP tem feito destacamentos sucessivos e está há 500 dias em prontidão para buscas e salvamento, o que terá impedido a manutenção.
Na nota enviada à agência Lusa, a Marinha confirma que o NRP Mondego estava com “uma avaria num dos motores”, mas refere que a missão que ia desempenhar era “de curta duração e próxima da costa, com boas condições meteo-oceanográficas”.
Aquele ramo das Forças Armadas refere ainda que o comandante do navio reportou que, “apesar das limitações mencionadas, tinha condições de segurança para executar a missão”.
Segundo a Marinha, a decisão do comandante do navio foi feita apesar de o Comando Naval lhe ter dado liberdade para abortar a missão “em caso de necessidade superveniente”.
A Armada sublinha que a “avaliação das prioridades das missões e estado do navio segue uma linha hierárquica bem definida e estruturada”, sendo que “cabe apenas à Marinha, e à sua linha hierárquica, a definição de quais os navios em condições de cumprir com as missões atribuídas”.
No que se refere às limitações técnicas do NRP Mondego, a Marinha refere que os navios de guerra “podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança”, uma vez que têm “sistemas muito complexos e muito redundantes”.
“Essa avaliação, mais uma vez, pertence à linha de comando e à Superintendência do Material, enquanto entidade técnica responsável. Ambas as entidades não consideraram estar o navio inseguro para navegar”, indica a Marinha.
Aquele ramo das Forças Armadas acrescenta ainda que “as guarnições dos navios são treinadas para operar em modo degradado, estando preparadas para lidar com os riscos inerentes, o que faz parte da condição militar”.
O NRP Mondego é o terceiro navio da classe Tejo da Marinha Portuguesa e foi comissionado a 5 de maio de 2016. Integra um conjunto de cinco navios adquiridos à Marinha Dinamarquesa para substituir os navios da classe Cacine, que operam há mais de 45 anos ao serviço de Portugal.
Militares serão alvo de processo disciplinar
Ao início da manhã, José Sousa Luís, comandante e porta-voz da Marinha, confirmou que os 13 militares serão alvo de processo disciplinar. O responsável explicou à Renascença que compete à linha de comando fazer “a avaliação das condições do navio enquanto entidade técnica responsável” e as conclusões foram que “o navio não estava inseguro para navegar”.
A mesma fonte avança que os militares podem ficar detidos na Marinha, por terem falhado a missão de acompanhamento do navio russo, a norte da ilha de Porto Santo. Já o Público, avança que os marinheiros serão substituídos, com a medida a estender-se a toda a guarnição de 29 homens e não apenas aos 13 que recusaram participar na missão.
O jornal escreve que os 13 militares estão retidos no navio, sem permissão de saída. As diligências da Polícia Judiciária Militar também já se iniciaram.
Fonte: ZAP // Lusa
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