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Diabetes está a aumentar em Portugal e médicos exigem nova estratégia para travar a doença

17-03-2023 - Ana Mafalda Inácio

O Observatório Nacional da Diabetes vai divulgar no dia 16 a última avaliação feita aos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde referentes aos últimos três anos (2019, 2020 e 2021). E o balanço é preocupante: o número de pessoas com a doença aumentou 20%, em sete anos, e Portugal integra o top 3 da Europa em termos de prevalência. A comunidade científica diz que algo está a falhar e que é preciso aumentar a resposta em consultas, rastreios e tratamentos.

À pergunta que retrato traçam do nosso país os últimos dados analisados pelo Observatório Nacional da Diabetes (OND), o médico João Raposo, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, é perentório: "É o retrato de um país que tem evoluído muito pouco no sentido de alcançar melhores resultados de saúde." Ou seja, "há anos que consideramos a diabetes um problema prioritário, que tem um plano nacional para travar o seu crescimento, mas não estamos a conseguir efetivar essa missão".

O dado puro e duro que consta do último relatório do OND, que será apresentado no dia 16, durante o 19.º Congresso Nacional sobre a Diabetes, não engana: "De 2014 a 2021 há mais 20% de pessoas com diabetes em Portugal."

O documento, a que o DN teve acesso, reflete a avaliação feita aos dados de 2019, 2020 e 2021, fornecidos pelo próprio Ministério da Saúde, revelando que a prevalência estimada da doença na população entre os 20 e os 79 anos (num total de 7,8 milhões de indivíduos) é de 14,1% - cerca de 1,1 milhões de pessoas desta faixa etária. O que significa que "não podemos baixar a guarda na luta sem tréguas contra a pandemia da diabetes". BSCREVER

Por isto mesmo, João Raposo diz que este relatório, que já vai na sua 10.ª edição, pretende ser "um alerta para a diabetes, mais do que um instrumento de monitorização, uma via para a discussão de políticas", defendendo estar na hora de se repensar "as estratégias de ação". E explica porquê: "O número de pessoas com a doença está claramente a aumentar. E isto não está a acontecer só à conta de se fazerem diagnósticos às pessoas que estão por diagnosticar, isto significa que as nossas políticas de promoção da saúde e de prevenção da doença estão a falhar,"

A questão, destaca ainda, "é que quando estas falham, não falham só para a diabetes, mas também para uma série de outras doenças crónicas, nomeadamente para a obesidade e para as doenças cardiovasculares".

Portugal no top 3 da Europa na prevalência da doença

Segundo refere o presidente da SPD, Portugal está no top 3 da Europa em relação à prevalência da doença, a par da Alemanha e de Espanha. O cenário não é animador e a causa está "nos nossos estilos de vida, nos modelos de sociedade que não estamos a conseguir modificar". Ao contrário de outros países europeus, sublinha, "Portugal está ainda num ambiente francamente mais promotor de doença do que de saúde. E o resultado é este, são os números que temos".

Mas não só. O resultado reflete-se também no facto de já sermos dos países europeus com "uma das mais elevadas taxas de excesso de peso na faixa etária das crianças e dos jovens. Se nada fizermos, estes chegarão à idade adulta com diabetes, e muito mais cedo do que a população diagnosticada nesta altura".

Como diz João Raposo, "não estamos ao nível da América do Norte, em que a doença já é diagnosticada em crianças e adolescentes, mas, se os nossos hábitos não mudarem, isso significa que teremos muito mais pessoas com a doença e a viver mais tempo em tratamento, o que tem custos para o próprio e para o Estado".

"A atividade de acompanhamento e de rastreio a estes doentes foi grandemente influenciada pelo período pandémico, com uma quebra superior a 50% no número de rastreios em 2020."

Segundo o relatório, "o impacto do envelhecimento na estrutura etária da população portuguesa dos 20 aos 79 anos foi de 2,4 pontos percentuais (p.p.) na taxa de prevalência da diabetes, entre 2009 e 2021, o que corresponde a um crescimento na ordem dos 20,5% neste período." E em relação à taxa de prevalência a doença já tinha sido diagnosticada em 56%, mas em 44% ainda não, o que significa que "também estamos a falhar neste aspeto", refere o médico. "Temos calculado que há 1,1 milhões de pessoas com diabetes, mas sabemos que a proporção de pessoas não diagnosticadas é da ordem dos 40%, o que é elevado e mostra que também não estamos a conseguir mudar aquilo que era a nossa história da diabetes."

Todos os anos 680 novos casos por 100 mil habitantes

Para o médico, "a situação é preocupante", dizendo mesmo que o que "choca mais nos números é a monotonia dos resultados ao longo dos anos, não se notando grande inflexão". E argumenta: "Precisamos de dar sequência a decisões que já foram tomadas no passado no sentido de se saber quais são as pessoas que estão em risco de desenvolver diabetes, porque estas têm de ser diagnosticada o mais cedo possível para serem melhor tratadas. Senão vamos continuar a queixar-nos de que os custos com a doença são um dos problemas principais, porque continua a custar muito dinheiro."

E salienta que "já não se morre de diabetes no nosso país, mas ela está na origem de muitas outras doenças, como as cardiovasculares (acidentes vasculares cerebrais e enfartes), infeções e cancros. O agravamento da diabetes irá agravar também estas situações, e isto revela uma falta de estratégia para a prevenção e promoção da saúde".

Nos três anos analisados (2019, 2020, 2021) realizaram-se menos 374.426 consultas a doentes com diabetes nos centros de saúde, comparativamente aos números pré-pandemia.

De acordo com o relatório, há vários indicadores com evoluções preocupantes, nomeadamente "o aumento da despesa com medicamentos", "a quebra na prestação de cuidados de saúde primários em diabetes associada ao período pandémico, que em muitos indicadores ainda não atingiu os valores de 2019", e "o peso crescente da presença da diabetes nos internamentos hospitalares, o aumento da letalidade intra-hospitalar e a manutenção do número das amputações dos membros inferiores nas pessoas com a doença".

Os dados demonstram ainda que "o número de utentes saídos de internamentos nos hospitais públicos portugueses em que a diabetes se assume como diagnóstico principal registou uma ligeira diminuição nos últimos anos, da ordem dos -2,7% entre 2017 e 2021", mas, por outro lado, o número de utentes saídos de internamentos em que a diabetes surge como diagnóstico associado aumentou, tendo crescido 3,3% entre 2017 e 2021. "É preciso não esquecer que mais de um quarto das pessoas entre os 60 e os 79 anos tem diabetes", estimando-se que em 2021 existiram 680 novos casos por cada 100 mil habitantes.

Acompanhamento a doentes caiu 50% durante pandemia

Outra grande preocupação revelada na análise do OND tem a ver com "o aumento registado de amputações major", apesar do número total de episódios com amputações dos membros inferiores em doentes com diabetes ter-se mantido estável nos três anos analisados. A mesma preocupação é referida quando se fala do número de pessoas com a doença abrangidas pelos programas de rastreio de retinopatia, uma consequência da doença, que cresceu significativamente, tendo atingido um quarto da população com diabetes inscrita nos cuidados de saúde primários em 2018 e em 2019.

Mais uma vez os dados indicam que a atividade de acompanhamento e de rastreio a estes doentes "foi grandemente influenciada pelo período pandémico, com uma quebra superior a 50% do número de rastreios em 2020". Em 2021 "verificou-se uma recuperação desta atividade, mas ainda aquém do registado no período pré-pandémico" .

Estima-se que 1,1 milhões de portugueses vivam com a doença, mas esta está subdiagnosticada.

O documento revela ainda que "a representatividade das consultas de diabetes, no total das consultas médicas realizadas nos cuidados de saúde primários, decresceu significativamente em sete anos, passando de 8,1% em 2014 para 5,6% em 2021". Uma perda de representatividade que, nos três anos analisados (2019, 2020 e 2021), correspondeu a menos 374.426 consultas realizadas, algo contrário à tendência de crescimento verificada no movimento assistencial global dos cuidados primários (+21,1% de consultas médicas entre 2014 e 2021, com especial realce para o crescimento registado nos últimos dois anos, de +14,2%).

Em termos de reflexo na atividade médica, o relatório refere que em 2020, e comparativamente com o ano de 2019, foram realizadas menos 261.922 consultas, o que traduz uma diminuição de 12,3% na assistência médica. O número de consultas voltou a crescer em 2021, mas o saldo ainda é deficitário em relação ao período pré-pandémico.

Estado gastou mais de 1400 milhões de euros em 2021

Em relação aos gastos com a diabetes, o documento refere que estes representaram em 2021 um custo direto estimado entre 1400 a 1700 milhões de euros. O que representa 0,7% a 0,8% do PIB português nesse ano, bem como 6% a 7% da despesa em saúde. Por outro lado, se considerarmos o custo médio das pessoas com diabetes em 2021, este representou um custo de 2,128 milhões de euros (para todos os indivíduos com diabetes entre os 20 e os 79 anos). Se apenas se considerar a população com diabetes diagnosticada em Portugal em 2021, o custo aparente desta doença representa 1200 milhões de euros (para todos os indivíduos com diabetes diagnosticada entre os 20 e os 79 anos).

João Raposo diz que custa muito dinheiro tratar a diabetes, o que se agravará ainda mais se nada for feito para se mudar os hábitos ou se os doentes continuarem a não ser diagnosticados precocemente. E o que está a falhar, segundo o especialista, "é a falta de um planeamento estratégico para se fazerem opções e tomarem decisões".

FACTOS E NÚMEROS

Positivo.  Apesar do alerta, a 10.ª edição do relatório do Observatório Nacional da Diabetes regista haver alguns indicadores, nomeadamente
a nível hospitalar - em que destaca a diminuição do número absoluto dos internamentos associados a descompensação e complicações da diabetes - e a nível dos cuidados de saúde primários, onde se destaca alguma recuperação relativamente a 2020.

Negativo. Esta 10.ª edição do relatório do OND representa também uma inversão da tendência de expansão na informação disponibilizada pelo Ministério da Saúde, que passou a limitar o acesso direto aos registos de morbilidade hospitalar. Isto mesmo está expresso no documento e João Raposo referiu ao DN que o resultado "é o empobrecimento da informação". O médico diz que o OND espera que esta tendência na restrição da informação seja alterada, para que "a dimensão de análise volte a ser a mesma, já que mostrou ser fundamental para o conhecimento sobre a diabetes no nosso país". E refere que o relatório do OND já deu bons resultados, nomeadamente quando alertou para o aumento de amputações major, o que levou a uma intervenção e estas vieram a diminuir.

Fonte: DN.pt

 

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