Costa remodela Governo para "tapar" puxão de orelhas de Marcelo
18-09-2020 - João Pedro Henriques
António Costa tirou da cartola uma remodelação governamental, que se concretizará nesta quinta-feira, para atirar para segundo plano o puxão de orelhas que Marcelo já lhe tinha anunciado.
A notícia caiu nas redacções por volta das 19.45 desta quarta-feira. O primeiro-ministro decidiu remodelar cinco secretários de Estado e a tomada de posse será já nesta quinta-feira, no Palácio de Belém. Que iria haver uma remodelação de secretários de Estado já se sabia - o rumor circulava.
Mas não se sabia, porém, o dia. António Costa escolheu precisamente aquele para o qual o Presidente lhe preparava um puxão de orelhas por ter aceitado integrar a comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.
A tomada de posse será às 17.45. Quinze minutos depois, o Presidente da República conversará a sós com o primeiro-ministro na tradicional reunião entre os dois das quintas-feiras. Marcelo já tinha há dias anunciado que queria, nessa reunião, falar com o António Costa sobre a "questão benfiquista".
Também já tinha dito que não aceita o argumento do primeiro-ministro segundo o qual este seu apoio a Vieira foi uma atitude pessoal, enquanto cidadão, não o envolvendo como chefe do Governo. E deixou claro que há "um determinado contexto" que deve ser tido em conta -Vieira é arguido em processos judiciais complexos e, além disso, integra a lista dos grandes devedores do Novo Banco.
"É uma questão concreta, é uma determinada pessoa, exercendo uma determinada função, em relação a um determinado acontecimento desportivo, num determinado momento histórico e num determinado contexto", afirmou, logo no sábado, à margem de uma visita a um lar em Alcoutim.
E mais: dois dias depois, Marcelo fez saber, pelo Observador, que, sendo já Presidente da República, recusou em 2017 integrar a comissão de honra de uma candidatura de António Salvador ao Braga, clube de que é adepto.
Ou seja, estabeleceu o seu próprio comportamento como padrão, censurando assim implicitamente o procedimento em sentido contrário do chefe do Governo.
O "caso" Jamila
A escolha do momento para a remodelação foi mesmo de última hora.
Sinal disso é o facto de as redacções terem recebido pelas 11.00 desta quarta-feira um comunicado a anunciar para as 13.30 um briefing da Direcção-geral da Saúde sobre covid-19 com a presença de Jamila Madeira.
Depois o briefing foi adiado para as 17.00 e Jamila não apareceu. Quem apareceu foi, sim, a própria ministra da Saúde, Marta Temido. Jamila tinha sido remodelada - e pelos vistos não foi por sua iniciativa (ao contrário, por exemplo, de Susana Amador, que sai por razões pessoais).
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Jamila vai ser substituída por António Sales. No caso de Sales, há uma exoneração (de secretário de Estado da Saúde), mas logo a seguir uma nomeação (para secretário de Estado adjunto e da Saúde). Foi assim promovido a número dois do ministério de Marta Temido.
Deixam o Governo cinco secretários de Estado:
- Jamila Madeira (secretária de Estado adjunta da Saúde);
- Susana Amador (secretária de Estado da Educação);
- Alberto Souto (secretário de Estado adjunto e das Comunicações);
- Ana Pinho (secretária de Estado da Habitação);
- José Apolinário (secretário de Estado das Pescas).
Entram outros cinco:
- Inês Pacheco Ramires Ferreira (secretária de Estado da Educação);
- Diogo Serras Lopes (secretário de Estado da Saúde, ocupando o lugar que era de António Sales),
- Hugo Mendes (secretário de Estado adjunto e das Comunicações);
- Marina Gonçalves (secretária de Estado da Habitação);
- Teresa Coelho (secretária de Estado das Pescas).
A marca essencial do percurso anterior dos novos secretários de Estado é que todos eles já frequentavam gabinetes governamentais, como adjuntos, assessores ou chefes de gabinete.
Esta segunda recomposição do XXII Governo não altera a sua dimensão, assim como a primeira, que aconteceu há três meses, com a substituição de Mário Centeno por João Leão como ministro de Estado e das Finanças e a consequente mudança de três secretários de Estado, que tomaram posse no dia 15 de Junho.
Fonte: DN.pt
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