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Esquerda alemã escolhe uma 'máquina' para corrida à sucessão de Merkel.

14-08-2020 - Susana Salvador

Olaf Scholz, que é atualmente ministro das Finanças, não conseguiu ser eleito líder do SPD, mas foi escolhido para liderar candidatura às eleições federais do próximo ano, nas quais a atual chanceler não irá participar. CDU, cujo novo líder só será escolhido em dezembro, ainda não tem candidato.

ex-presidente da Câmara de Hamburgo era o favorito à eleição como líder dos sociais-democratas alemães (SPD, centro-esquerda) em 2019, junto com Klara Geywit, mas ambos acabaram por perder essa corrida para a dupla Norbert Walter-Borjans e Saskia Esken. Agora, Olaf Scholz foi escolhido pelos antigos adversários para ser o candidato do partido às eleições federais do próximo ano, que vão eleger o sucessor da chanceler Angela Merkel.

O atual ministro das Finanças e vice-chanceler, de 62 anos, tem visto a sua popularidade aumentar por causa da forma como a Alemanha respondeu ao novo coronavírus. Com a disponibilidade para abrir os cordões à bolsa para enfrentar a pandemia - os apoiantes dizem que teve um papel fundamental no plano de recuperação europeu de 750 mil milhões de euros -, afastou-se da disciplina orçamental e do défice zero que sempre defendeu, tal como o seu antecessor, Wolfgang Schäuble.

"Já é público. A proposta dos nossos presidentes Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans, a presidência e o conselho do SPD acabam de nomear-me candidato de forma unânime. Espero, com alegria, uma campanha fantástica, justa e de sucesso numa forte equipa", escreveu o próprio Scholz na sua conta do Twitter, anunciando ser ele o candidato às eleições de 2021.

As eleições de 2021 representam uma novidade: são as primeiras desde o final da II Guerra Mundial em que o chanceler (neste caso a chanceler) não é candidato. Após quatro mandatos à frente dos destinos da Alemanha, Angela Merkel decidiu afastar-se e, apesar das sondagens, o SPD espera que o candidato certo possa significar uma vitória e o regresso à hegemonia que o partido perdeu em 2005.

Esken e Walter-Borjans qualificaram Scholz como "parceiro de confiança orientado para o trabalho em equipa, que pode e quer lutar por uma política social-democrata" na Alemanha, e com quem partilham "a visão de uma sociedade justa".

Os sociais-democratas alemães estão em queda nas sondagens desde que, em 2013, voltaram a apostar na Grande Coligação com os conservadores de Merkel. Quatro anos depois, apesar das promessas eleitorais do então líder, Martin Schulz, de que voltariam à oposição, o pior resultado eleitoral de sempre do partido em 2017 levou a uma repetição da aliança (e à demissão de Schulz).

Na última sondagem YouGov, os sociais-democtatas estavam em terceiro, atrás da CDU e dos seus parceiros bávaros da CSU (36%) e dos Verdes (18%), com cerca de 14% das intenções de voto - nas eleições de 2017, conseguiram 20,5%. A Alternativa para a Alemanha (FdP, extrema-direita) surge em quarto, com 11%.

O Scholzomat

Nascido em Osnabrück, Scholz juntou-se ao SPD quando tinha 17 anos e esteve envolvido com a ala mais à esquerda do partido durante a juventude. Eleito pela primeira vez para o Bundestag em 1998, foi secretário-geral entre 2002 e 2004 (tendo defendido as impopulares reformas liberais do chanceler Gerhard Schröder), sendo líder partidário na região de Hamburgo entre 2000 e 2004 e entre 2009 e 2018, sendo presidente da câmara da cidade entre 2011 e 2018, quando durante uns meses foi líder interino do SPD a nível nacional.

Na primeira Grande Coligação de Merkel, ocupou a pasta de ministro do Trabalho (entre 2007 e 2009), tendo sido responsável pelo aumento da idade da reforma para os 67. Ficou então conhecido como Scholzomat, porque sabia de cor toda a informação que debitava quase como um robô, sendo comparado a uma máquina (Automat, em alemão). Em 2013, explicou ao jornal Die Zeit que não gostava da alcunha e que tinha de agir assim: "Eu estava a vender uma mensagem. Tinha de mostrar uma certa implacabilidade. Não havia espaço para manobra."

Desde março de 2018 que assumiu a pasta das Finanças e o cargo de vice-chanceler, ao abrigo do acordo de governo negociado com a CDU de Merkel após as eleições de 2017.

Para os críticos, há duas manchas no seu currículo. Scholz é acusado, por um lado, de não ter coragem para ir atrás dos bancos envolvidos no esquema de fraude fiscal conhecido como Cum-Ex, e por outro de não ter detetado e prevenido o escândalo de contabilidade da Wirecard.

Cum-Ex é o nome dado a um grande volume de transações antes de 2012 que envolveu a exploração de um vazio legal no pagamento de dividendos, que permitiu que várias entidades reclamassem a mesma devolução de impostos. Só na Alemanha o esquema terá custado dez mil milhões de euros aos cofres públicos.

Alegadamente, enquanto Scholz estava à frente dos destinos de Hamburgo, as autoridades terão sido cautelosas na forma de lidar com um banco privado envolvido no esquema, tendo havido contactos com o dono do banco quando este já estava sob investigação. Segundo o Die Zeit, Scholz nega qualquer interferência na investigação, indicando que era função do presidente da câmara o intercâmbio regular com representantes empresariais da cidade. Mas o banqueiro escreveu no diário que teria conversado com ele, interpretando a sua reação como um "não precisamos de nos preocupar".

Em relação à Wirecard, Scholz terá tido conhecimento da alegada manipulação de mercado da empresa prestadora de serviços financeiros quase um ano e meio antes de esta declarar falência, em junho deste ano, depois de admitir que provavelmente 1,9 mil milhões de euros do seu dinheiro "provavelmente não existiam". O ministro das Finanças já foi questionado sobre o tema na Comissão de Finanças do Parlamento alemão, alegando que o Governo fez tudo para investigar o caso. A oposição questiona, contudo, porque é que o ministro fez lóbi pela empresa durante uma viagem à China, já depois de saber dos problemas.

CDU ainda sem líder

Foi em outubro de 2018 que a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que não tencionava voltar a candidatar-se à liderança da CDU e que o seu atual mandato, o quarto, seria o último. Uma saída antecipada que dava bastante tempo para encontrar um sucessor à altura.

A aposta de Merkel, que fará 67 anos em 2021, era Annegret Kramp-Karrenbauer, que em dezembro de 2018 foi eleita para a liderança dos conservadores. Mas uma série de gafes e maus resultados eleitorais provaram que AKK, como é conhecida, não era uma nova Merkel. E o escândalo nas eleições na Turíngia, quando os eleitos da CDU acabaram por votar com a extrema-direita da AfD para eleger um líder do governo liberal, foi a gota de água.

AKK anunciou em fevereiro que se demitia da liderança da CDU, ficando até ser eleito um sucessor no verão. Mas a pandemia de coronavírus trocou os planos aos conservadores, que só em dezembro vão escolher um líder e eventual candidato às eleições do próximo ano. Armin Laschet, Friedrich Merz e Norbert Röttgen, os três da Renânia do Norte-Vestefália, são os candidatos.

Entretanto, ganha força a possibilidade de não ser a CDU, mas os aliados bávaros da CSU a apresentarem uma candidatura. Markus Söder, líder do governo bávaro e patrão da CSU, é o favorito nas sondagens. No último Politbarometer da ZDF, de julho, 64% dos inquiridos consideram que é adequado para o cargo de chanceler, frente a 27% que dizem que não (em março, só 30% tinham uma opinião favorável, com Söder a beneficiar da resposta à pandemia de covid-19).

Na mesma sondagem, o candidato do SPD surge com 48% de opiniões favoráveis, contra 42% de opiniões desfavoráveis, sendo certo que os dois são os únicos com mais opiniões a favor do que contra. Em relação a simpatia e performance, ambos surgem com 2.0 (numa escala de mais cinco a menos cinco), tendo Söder subido 0,1 em relação à sondagem anterior, em junho, e Scholz 0,2.

Fonte: DN.pt

 

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