Para milhões a epidemia chegou quando sofriam os efeitos de outra: o neoliberalismo
05-06-2020 - AbrilAbril
O intelectual cubano Abel Prieto analisou os efeitos da pandemia, lembrando que «caíram muitas máscaras, o egoísmo que é intrínseco ao sistema capitalista, sobretudo na versão neoliberal».
Abel Prieto, escritor, intelectual e político cubano, é o actual presidente da Casa das Américas e foi ali, na Casa que levanta a voz da América Latina, em Havana, que no mês passado concedeu uma entrevista ao jornalista Omelio Esteban Borroto Leiseca, do portal Cubadebate, cuja segunda parte se centra nas «implicações da pandemia» a vários níveis.
«Foi trágico, dramático, mas deixou um saldo em termos de reflexão, análise, auto-análise em muitos casos, de pensar nas coisas que valem a pena, em toda essa falsa felicidade consumista que nos venderam como meta», disse.
O escritor cubano referiu-se ao golpe duro sofrido pelo «nosso planeta e sobretudo as pessoas mais vulneráveis, porque para milhões de pessoas no mundo esta epidemia chegou quando já estavam a sofrer os efeitos de outra epidemia: o neoliberalismo».
Neste sentido, sublinhou que a desigualdade se reflectiu nas «quarentenas» e nas «distâncias sociais», e destacou a situação daqueles que vivem nas ruas, debaixo dos túneis ou em casas de cartão e lata. «Os pobres da Terra, como dizia Martí, com esses se pegou esta terrível doença», disse.
«O neoliberalismo foi um genocídio quotidiano, não tão espectacular como a Covid-19, mas sem dúvida tão letal como este vírus, que em termos ideológicos, culturais está a deixar um saldo analítico importantíssimo», disse, acrescentando que «as pessoas concordam que não se pode voltar ao ponto inicial; muita gente diz "não quero voltar à normalidade", porque naquela normalidade já estava o problema».
«Caíram muitas máscaras, o egoísmo que é intrínseco ao sistema capitalista, sobretudo na sua versão neoliberal, esse egoísmo verdadeiramente desapiedado», afirmou Abel Prieto, que lembrou as disputas entre países ocidentais «aliados» pelas máscaras. «Apercebes-te de que, quando se solta esse egoísmo desenfreado, não há alianças que valham, nem muito menos amizades ou afinidades», disse.
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