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A solidão da Palestina

18-07-2014 - Emir Sader

A nova ofensiva brutal contra Gaza revela, uma vez mais, a solidão dos palestinianos. Não podem contar com ninguém que detenha Israel.

“O mais difícil é ser a vítima das vítimas”, dizia Edward Said, para expressar uma das dimensões dos obstáculos que encontram os palestinianos para lutar contra a ocupação israelita dos seus territórios.

A solidão actual dos palestinos demonstra como essa era apenas uma das tantas dificuldades que eles têm que enfrentar para sobreviver. O direito elementar, aprovado há décadas pela ONU, de ter um Estado Palestino, da mesma forma que existe o Estado de Israel, é bloqueado pelo voto dos EUA no Conselho de Segurança e a ONU não faz nada para contornar essa atitude norte-americana.

A Palestina segue sendo dois territórios descontínuos – Cisjordânia e Gaza -, o primeiro esquartejado pelos muros, violado pelos assentamentos judeus e ocupado militarmente. Gaza, cercada e atacada a cada momento, impunemente, como de novo agora. Não existe como Estado e se busca que a Palestina deixe de existir como territórios isolados, ao fazer com que seja economicamente inviável e humanamente insuportável.

Todos deveriam ir à Palestina – à Cisjordânia e, se conseguissem, a Gaza – para ter uma ideia do que é viver sob ocupação de um Exército racista. Para ver o que significam quotidianamente os muros, que separam os vizinhos, os parentes, as crianças que antes brincavam juntas na rua. Como as senhoras palestinas tem que andar quilómetros para poder cruzar para o outro lado da sua rua, submetidas ao arbítrio de jovens militares racistas de Israel, que controlam as passagens.

Para ver como esse mesmo tipo de jovens saem, de noite, protegidos por forças militares de Israel, para destruir bens dos palestinos, incluindo oliveiras, que tardam um século para crescer. Que jogam lixo nas ruas dos palestinianos, que tem que colocar redes de protecção para se defender.

Para sentir como os palestinos são atacados também no seu orgulho, nos seus espaços mínimos de vida, é preciso ir à Palestina, à Cisjordânia e, se possível, também a Gaza.

Nada de todos estes sofrimentos justifica acções violentas, mesmo se a gente pensa, quando está lá, como fazem os palestinos para não reagir ao terrorismo quotidiano que se exerce contra eles.

Inclusive para o primeiro objectivo, que é a unidade nacional da Palestina, porque se trata de uma luta contra o invasor, é preciso unir o país para expulsá-lo. O segundo, dada a correlação de forças internacional, é que é preciso contar com sectores em Israel que se convençam de que não vale a pena a ocupação permanente da Palestina, com as incertezas que isso traz para os próprios israelitas.

Hoje se pode dizer que a construção de um Estado Palestino está no ponto zero. Há um acordo de reunificação entre Gaza e a Cisjordânia, mas Israel diz que não negoceia com um governo nascido desse acordo por que o Hamas não reconhece o Estado de Israel. Mahmoud Abbas já afirmou que o novo governo o reconhecerá, mas Israel usa qualquer pretexto para não avançar nas negociações, que só podem desembocar no reconhecimento do Estado Palestiniano.

A nova ofensiva brutal contra a desprotegida Gaza revela, uma vez mais, a solidão dos palestinianos. Não podem contar com ninguém que detenha Israel. Ninguém que se jogue contra os EUA, pela existência do Estado Palestino.

 

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