Sócrates e o alegado desejo de controlo sobre a banca
14-06-2019 - RTP
“Pura e velhaca maledicência”. É desta forma que José Sócrates descreve as acusações de Filipe Pinhal, antigo presidente do BCP, depois de este ter dito, perante a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, acreditar que o ex-primeiro-ministro influenciou Joe Berardo a comprar ações do Banco Comercial Português. Pinhal acredita também que Sócrates queria controlar a banca e que aconselhou a Sonangol numa "conjunção de interesses".
“Nunca discuti, conversei ou orientei o senhor José Berardo em qualquer investimento. Nunca tive sequer conhecimento, fosse por quem fosse, da sua intenção de reforçar a sua posição acionista no Banco Comercial Português”, refere Sócrates numa nota enviada à agência Lusa na terça-feira.
“Acrescento ainda que nunca interferi nem influenciei nenhuma decisão dos acionistas do banco relativas à escolha da sua Administração. As despudoradas “sugestões” feitas a esse propósito não passam de pura e velhaca maledicência”, concluiu.
A reação do antigo primeiro-ministro surge depois de Filipe Pinhal ter sugerido, durante uma audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD, que José Sócrates influenciou o empresário José Berardo a reforçar a posição no BCP com recurso a financiamento da Caixa Geral de Depósitos.
Filipe Pinhal contou que, numa conversa que teve com Berardo, lhe perguntou porque é que se já tinha “3,88 por cento, uma posição qualificada, queria subir para 7 por cento”, e por que motivo iria “investir 400 milhões de euros”.
José Berardo terá respondido que “ainda estava para saber como é que aquele homem o enfeitiçou”. “Como é que aquele homem me deu a volta, como é que eu me meti nesta de ir comprar financiado desta maneira”.
Para o ex-administrador do BCP, o “homem” mencionado por Berardo “só podia ser ou Paulo Teixeira Pinto (ex-presidente do BCP), ou o senhor José Sócrates”, sendo que “a palavra do senhor primeiro-ministro valeria mais” para o empresário.
De acordo com Filipe Pinhal, a alegada influência de José Sócrates sobre Berardo estaria relacionada com a “guarda da coleção (de arte, no Centro Cultural de Belém) com despesas pagas pelo Estado”.
“Que o senhor Berardo era devedor do engenheiro José Sócrates pelo favor que lhe tinha feito de acolher a coleção Berardo também não tenho dúvida nenhuma”, firmou.
“Quem é que enfrentava o senhor Berardo nessa altura, quando era uma das pessoas mais poderosas deste país? De 2008 a 2012 o presidente do BCP foi o senhor Berardo”, considerou Pinhal sobre o empresário. “Metralhava sobre quem quisesse”.
Sócrates e a Sonangol
O antigo presidente do BCP alegou ainda que José Sócrates queria controlar a banca e que, para isso, contou com o apoio do governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, e do então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.
Filipe Pinhal fez também referência ao aumento de capital da petrolífera angolana Sonangol quando, em junho de 2007, esta “anunciou a tomada de posição de dois por cento no capital do BCP” depois de “se aconselhar com o senhor José Sócrates”.
“A Sonangol estava interessadíssima em controlar o BCP. Se nós nos lembrarmos do namoro que o engenheiro José Sócrates fazia nessa altura a Angola, está tudo visto. Foi uma conjunção de interesses que fez nascer o enorme desejo do engenheiro José Sócrates para controlar o BCP”.
“Operação política” de Constâncio
O antigo presidente do BCP mencionou reuniões promovidas por Vítor Constâncio enquanto governador do Banco de Portugal para a transferência do presidente da CGD, Carlos Santos Ferreira, e do vice-presidente, Armando Vara, para o BCP, caso que considerou “insólito”.
“Para mim, esta transferência é uma operação política pura e simples, do princípio até ao fim”, argumentou.
Vítor Constâncio já rejeitou a acusação, garantindo à RTP que se trata de uma calúnia. “Já não é a primeira vez que ele [Filipe Pinhal] a faz. Eu não tive nada a ver com qualquer operação especial no contexto da chamada luta pelo BCP”.
Voltar |