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A perigosa política da China para Taiwan

18-01-2019 - Minxin Pei

O desenvolvimento da disputa geopolítica entre a China e os Estados Unidos tem sido descrito por muitas pessoas como uma nova guerra fria. Se algum dia esta deflagrar num conflito armado, o ponto de ignição poderá ser Taiwan, em grande parte devido à política chinesa para a ilha.

O governo da China suspendeu o contacto diplomático com Taiwan em Junho de 2016, porque o independentista Partido Democrático Progressista (PDP), que voltara ao poder, recusou reconhecer o denominado Consenso de 1992, a base política do princípio Uma Só China. Desde então, porém, a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, tem seguido uma política moderada, decepcionando os apoiantes da linha mais dura do PDP.

Isso não é suficiente para a China, que continuou a aumentar a pressão sobre Taiwan. Por exemplo, persuadiu mais cinco países a seguirem-na no corte de relações diplomáticas, reduzindo o número de países que mantêm relações formais com a ilha para apenas 17. A China também tomou medidas para reprimir o turismo proveniente do continente: enquanto quase 4,2 milhões de turistas chineses do continente   visitaram   Taiwan em 2015, quando o governo pró-Beijing do Kuomintang detinha o poder, esse valor caiu para apenas 2,73 milhões em 2017.

O governo de Taiwan não pestanejou. Mas, em Novembro passado, o PDP sofreu perdas arrasadoras nas eleições locais, principalmente por causa do fraco crescimento económico – um resultado que levou a politicamente enfraquecida Tsai a demitir-se da liderança do partido.

Para a China, este pareceu o momento ideal para intensificar as posições. Portanto, a 2 de Janeiro, o presidente Xi Jinping proferiu um importante discurso sobre Taiwan, onde deixou claro que a China permanece resoluta na procura da reunificação.

Xi rejeitou o argumento de que o sistema político e autocrático da China seja fundamentalmente incompatível com a vibrante democracia de Taiwan, insistindo em que a fórmula “um país, dois sistemas”, aplicada pela primeira vez a Hong Kong quando a sua soberania foi devolvida pelos britânicos à China em 1997, seria suficiente para a protecção dos interesses e autonomia de Taiwan. Porém, essa fórmula está actualmente a perder-se em Hong Kong, onde as liberdades têm sido reduzidas durante o mandato de Xi.

Xi também não indicou se faria concessões para atrair Taiwan de volta à mesa das negociações. Pelo contrário, apesar de declarar que “chineses não combaterão com chineses”, recusou renunciar ao uso da força para evitar que Taiwan procure a independência formal. A China deve, nas suas palavras, “reservar a opção de tomar quaisquer medidas necessárias”, embora afirme que a ameaça é dirigida a “forças externas e um número extremamente pequeno de separatistas que apoiam a ‘independência de Taiwan’”.

Novamente, o governo de Taiwan não mostrou sinais de abalo. Tsai respondeu com um desafiante  discurso, onde rejeitou categoricamente tanto o princípio “Uma Só China” como a fórmula “um país, dois sistemas”, e apelou à comunidade internacional que apoiasse a independência   de facto   de Taiwan.

Embora a firmeza da posição de Xi perante Taiwan possa acabar por reforçar o apoio a Tsai e ao PDP, não existem motivos para pensar que este a abandonará brevemente. Nem existem motivos para pensar que a política da China deixará de ter o resultado oposto ao pretendido. Ainda que os ataques económicos e a humilhação diplomática de Taiwan possam originar alguma satisfação psicológica de curto prazo para a China, a ilha ajustar-se-á gradualmente, e as acções chinesas terão cada vez menos impacto.

Por exemplo, depois de a China restringir o número de visitantes oriundos do continente, Taiwan passou a tentar atrair turistas de outros países. Apesar do declínio de visitantes do continente, 11 milhões de turistas  – um novo recorde – visitaram a ilha em 2018. Para reduzir a sua dependência económica do continente, Taiwan também tem estado a diversificar agressivamente os seus mercados no exterior.

Por outro lado, embora a economia da China seja muito maior, Taiwan possui alguns importantes pontos de influência. Por exemplo, impedir a sua indústria da electrónica – que constitui um elo vital entre as cadeias de aprovisionamento chinesas e globais da informática – de desenvolver actividades com o continente aceleraria de forma significativa o êxodo de fabricantes chineses especializados em exportações, motivado pelas crescentes taxas aduaneiras dos EUA às importações.

Talvez a consequência mais perigosa da política da China para Taiwan seja o surgimento de mais tensões com os Estados Unidos. Sendo os protectores em última instância da independência   de facto   de Taiwan, os EUA já tomaram medidas para transmitirem a mensagem de que não ficarão parados, caso a China force a ilha à submissão. No passado mês de Fevereiro, o Congresso dos EUA aprovou por unanimidade a Lei sobre Viagens a Taiwan, que permitirá a visita de responsáveis americanos a Taiwan, e vice-versa. Embora a medida seja principalmente simbólica, enfureceu a China, porque equivale a um reconhecimento oficial do governo de Taiwan.

Além disso, em Setembro, os embaixadores dos EUA na República Dominicana, em El Salvador e no Panamá foram mandados regressar, como protesto pela decisão destes países quanto ao corte de relações diplomáticas com Taiwan. E estão a ser discutidas propostas para o fortalecimento da cooperação EUA-Taiwan em matéria de defesa, nomeadamente através da venda de armamento mais avançado.

Até agora, a China respondeu a estes desafios à sua política de Uma Só China acentuando a pressão sobre Taiwan – o que promove uma dinâmica altamente perigosa numa altura em que as relações EUA-China já se encontram tensas. A menos que os líderes chineses interrompam este ciclo, a intensificação do confronto de vontades com os EUA poderá deflagrar num conflito directo.

MINXIN PEI

Minxin Pei é professor de governança no Claremont McKenna College e autor do Capitalismo de Compadrio da China.

 

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