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IA para o desenvolvimento humano

11-01-2019 - Michael Chui, Martin Harrysson

O actual entusiasmo em torno da inteligência artificial reflecte não apenas o modo como as aplicações da IA podem transformar empresas e economias, mas também a esperança de que possam resolver desafios como o cancro e as mudanças climáticas. A ideia de que a IA pode revolucionar o bem-estar humano é obviamente tentadora, mas até que ponto será realista?

Para responder a esta questão, o McKinsey Global Institute examinou mais de 150 cenários onde a IA está a ser aplicada, ou poderia ser aplicada, para o bem social. O que concluímos foi que a IA poderia contribuir de forma importante para a resolução de vários tipos de desafios societais, mas que não se trata de um remédio milagroso – pelo menos, por enquanto. Embora o alcance da IA seja amplo, devem ultrapassar-se constrangimentos no desenvolvimento e riscos aplicacionais antes que possam extrair-se benefícios à escala global.

Na verdade, a IA já está a alterar o modo como enfrentamos desafios do desenvolvimento humano. Em 2017, por exemplo, equipas de salvamento em Houston foram ajudadas por   software de detecção de objectos e imagens de satélite durante o rescaldo do Furacão Harvey. Em África, algoritmos ajudaram a reduzir a caça furtiva em reservas naturais. Na Dinamarca, são usados programas de reconhecimento de voz nas chamadas de emergência para detectar se os interlocutores estão a sofrer uma paragem cardíaca. E no MIT Media Lab perto de Boston, investigadores usaram “aprendizagem por reforço” em ensaios clínicos simulados que envolveram pacientes de glioblastoma, a forma mais agressiva de cancro cerebral, para reduzirem as doses de quimioterapia.

Além disso, isto é apenas uma fracção do que é possível. A IA já pode detectar sinais precoces de diabetes a partir de dados de sensores do ritmo cardíaco, ajudar crianças com autismo a gerirem as suas emoções, e orientar os portadores de deficiência visual. Se estas inovações estivessem amplamente disponíveis e usadas, os benefícios sociais e para a saúde seriam enormes. Com efeito, a nossa avaliação conclui que as tecnologias de IA poderiam acelerar a evolução de cada um dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Mas para que qualquer uma destas soluções de IA possa marcar a diferença em termos globais, a sua utilização deverá ser grandemente alargada. Para conseguirmos isso, precisamos primeiro de resolver os obstáculos ao desenvolvimento e, ao mesmo tempo, mitigar os riscos que podem tornar as tecnologias de IA mais prejudiciais que úteis.

No que diz respeito ao desenvolvimento, a acessibilidade dos dados está entre as barreiras mais significativas. Em muitos casos, dados confidenciais ou comercialmente viáveis que têm aplicações societais são detidos por privados, e não estão acessíveis a organizações não-governamentais. Noutros casos, a inércia burocrática bloqueia dados que seriam de outra forma úteis.

Os chamados desafios da implementação no “último quilómetro” (NdT: no original, “last-mile”, descrição para a última fase de um processo) são outro problema comum. Mesmo nos casos em que os dados estão disponíveis e a tecnologia está amadurecida, a escassez de especialistas em dados pode dificultar a aplicação local de soluções de IA. Um modo de ultrapassar a escassez de recursos com as aptidões necessárias ao fortalecimento e implementação de competências de IA consiste nas empresas que empregam esses trabalhadores devotarem mais tempo e recursos a projectos de beneficência. Deveriam encorajar os peritos em IA a aceitar projectos   pro bono , e recompensá-los por tal.

Evidentemente que existem riscos. As ferramentas e as técnicas de IA podem ser mal utilizadas, tanto de forma intencional como inadvertidamente. Por exemplo, podem ser incorporados enviesamentos nos algoritmos ou conjuntos de dados da IA, e isso pode amplificar as desigualdades inexistentes aquando da utilização das aplicações. Segundo um estudo académico, as taxas de erro em   software   de análise facial são inferiores a 1% para os homens de pele clara, mas podem atingir os 35% no caso das mulheres de pele escura, o que levanta questões importantes sobre como prever o preconceito humano na programação de IA. Um outro risco óbvio é a utilização indevida da IA por quem pretenda ameaçar a segurança física, digital, financeira e emocional das pessoas.

As várias partes interessadas nos sectores privado e público devem colaborar para abordarem estas questões. Para melhorar a disponibilidade dos dados, por exemplo, os responsáveis públicos e os intervenientes privados devem conceder um maior acesso a quem procure usar dados em iniciativas que sirvam o bem público. Actualmente, as empresas de satélites são signatárias de um acordo internacional que as compromete a fornecerem acesso livre em caso de emergências. Parcerias centradas na informação, como esta, devem ser alargadas e tornar-se rotineiras na actividade das empresas.

A IA está a tornar-se rapidamente uma parte inestimável do estojo de ferramentas do desenvolvimento humano. Mas se pretenderem concretizar completamente o potencial da IA para o bem global, os seus proponentes devem concentrar-se menos na propaganda e mais nos obstáculos que impedem a sua assimilação.

MICHAEL CHUI

Michael Chui é sócio da McKinsey Global Institute, especializado em big data.

MARTIN HARRYSSON

Martin Harrysson é sócio do escritório da McKinsey & Company em Silicon Valley office.

 

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