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Medo e raiva ganharam a eleição no Brasil. É um alerta para o mundo

09-11-2018 - Simon Jenkins

A democracia liberal está provando não ser páreo para as mentiras e ódio espalhados pelas redes sociais.

Lá se vai o Brasil, lá se vai a democracia? Não adianta muito estrangeiros dando opinião sobre Jair Bolsonaro, vitorioso da eleição presidencial brasileira no domingo. Ele é a escolha do seu povo. Para os não brasileiros, o que importa é o que ele representa não o que ele fala.

O Brasil é uma das nações emergentes mais excitantes do mundo, no entanto, sua evolução, depois de 30 anos de ditadura, para uma democracia hesitante parece ter estagnado. Bolsonaro explorou a velha política, a do interesse próprio, e a nova, a da raiva, polarização e medo. Os eleitores engoliram seu desgosto pelos gays, feministas, florestas e pela aplicação da lei, para se livrarem de um regime corrupto de esquerda incapaz de conter a violência nas ruas. Uma nação conhecidamente tolerante optou por disciplina econômica e militar.

Em qualquer país, o aparente colapso da ordem social leva os eleitores ao extremismo. Essa mensagem se provou popular ao redor do mundo, desde Rodrigo Duterte das Filipinas, Andrés Manuel López Obrador do México, Viktor Orbán da Hungria, Recep Tayyip Erdo%u01Fan da Turquia, até Donald Trump dos EUA. Valores liberais, sejam quais forem suas definições, não sobreviverão quando seus defensores não conseguirem transmitir suas virtudes aos eleitores.

A lição para os campeões da democracia aberta é evidente. Seus valores não podem ser subestimados. Quando o debate não é mais pela mídia regulamentada, côrtes e instituições, a política não comparece perante a multidão. As rede social – uma vez tida como agente da concordância global – se tornou a fornecedora de falsidade, raiva e ódio. Seu algoritmo polariza opiniões. Sua pseudo-informação leva os argumentos aos extremos. Até mesmo uma democracia aparentemente estável como a Alemanha, nessa semana, viu seu consenso centrista desfeito, enquanto o eleitorado se divide entre extrema direita e esquerda radical.

Todos os continentes estão vendo, agora, a emergência de disruptores (em sua maioria) de direita. Eles apelam aos que se sentem excluídos pelas “políticas identitárias”, vistas como concessões liberais às minorias. Se alimentam de intolerância religiosa e da falta de segurança pública. Cospem raiva em qualquer tipo de establishment. Esganiçando em sua van estão os chacais da rede social, espalhando medo.

Sob a luz da ascensão da nova direita, não é suficiente para os liberais ficarem em silêncio. Mentiras e ódio não podem ser fornecidos ao redor do mundo para gerar lucro. Histeria e raiva não podem se tornar discursos políticos padrões. As modalidades chatas da democracia – regular eleições, restringir censura, domar o extremismo, lutar contra a corrupção – todas importam muito.

A liderança democrática está ficando habituada à moderação. A Grã-Bretanha não é exceção. O que deveria ser um debate sensível sobre política comercial ficou polarizado e poluído pela raiva. Coalizão e concessões parecem impossíveis. O resultado pode ainda ser desastroso. Essa é a mensagem do Brasil.

*Publicado originalmente no The Guardian | Tradução de Isabela Palhares

 

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