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O futuro de África depende da melhoria do ensino

12-10-2018 - Aliko Dangote

Chegou o momento de uma revolução empresarial e do conhecimento em África. Só uma mão-de-obra e uma classe empresarial devidamente formadas terão as competências e a motivação necessárias para prosperar, enquanto as novas tecnologias alteram a natureza do trabalho, do lazer, do ambiente e da sociedade – e para enfrentar os desafios mais prementes do nosso continente.

Esta opinião é partilhada por muitas pessoas em África, e não só. Quando o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou a Nigéria em Julho de 2018, fez uma previsão ousada: se os empreendedores mais jovens de África trabalhassem duramente e inovassem, mudariam os seus países e transformariam o mundo.

De modo semelhante, quando Mark Zuckerberg, do Facebook, visitou um Centro para a Co-Criação em Lagos em 2016, ficou impressionado pela “energia” dos jovens inovadores do país – os empreendedores sociais, as empresas tecnológicas, e os investidores que estão a colaborar para resolver alguns dos desafios mais difíceis da Nigéria.

Mas, sem o ensino, essa energia não irá longe. Na verdade, embora Macron e Zuckerberg tenham razão em serem inspirados pela juventude de África, a revolução empresarial e do conhecimento que é necessária à garantia de um futuro próspero para o continente só poderá ocorrer se acontecer uma revolução no ensino. Em termos simples, precisamos que todas as crianças de África frequentem a escola, para que a próxima geração de empreendedores tenha as aptidões de que necessita para o êxito.

A África enfrenta enormes desafios na reforma do seu sector educativo. Embora o acesso ao ensino tenha crescido bastante nos últimos 25 anos, e mais rapazes e raparigas frequentem hoje a escola como nunca o fizeram, muitos jovens ainda não aprendem o que precisam para prosperarem agora e no futuro. Se as tendências actuais se mantiverem, em 2050 perto de um terço dos mil milhões de jovens africanos não possuirão conhecimentos básicos de matemática, leitura, e outras matérias. Milhões não conseguirão emprego, e serão improdutivos.

As deficiências actuais do ensino minam a capacidade de desenvolvimento de África. Segundo o Fórum Económico Mundial, a África precisa de mais um milhão de investigadores com formação universitária para enfrentar os seus desafios mais prementes nas áreas da saúde, da energia e do desenvolvimento.

Mas a formação destes cientistas e potenciais empreendedores é uma batalha difícil. A tecnologia transformou o local de trabalho moderno, mas os currículos, os modos de aprendizagem e de instrução, e a qualidade dos professores continuam deficitários. Até as melhores escolas apresentam lacunas entre as aptidões de que os estudantes necessitam – como o espírito crítico e a resolução de problemas – e aquilo que lhes é ensinado. A menos que estas carências sejam resolvidas, a futura mão-de-obra africana não será capaz de liderar o tipo de mudanças que muitos esperam.

Na verdade, a África não enfrenta este desafio sozinha. Segundo um relatório de 2016 realizado pela Comissão Internacional para o Financiamento de Oportunidades Globais para o Ensino (a Comissão para a Educação), em que participo como comissário, até 2030, mais de 800 milhões de crianças – metade da população mundial em idade escolar – terminarão ou interromperão os estudos sem as aptidões necessárias a um emprego decente. Isto prefigura uma crise global do ensino, e exige uma solução global.

O financiamento é um dos maiores obstáculos à melhoria da qualidade do ensino. Actualmente, só 10% das ajudas oficiais ao desenvolvimento financiam programas educativos em países desfavorecidos. É evidente que esta proporção precisa de aumentar. Mas mesmo um aumento nos níveis internacionais de financiamento não chegaria para garantir que todas as crianças, em todas as escolas, estariam a aprender. Para conseguir isso, precisamos de novas abordagens para apoiar o ensino, e novos mecanismos para solicitar e distribuir financiamento.

Durante vários anos, reuni-me a colegas de todo o mundo oriundos de governos, da sociedade civil, e do sector privado, para ajudarmos a Comissão para a Educação a estudar soluções para o financiamento. A nossa grande e inovadora ideia consiste na criação de um Mecanismo Financeiro Internacional para o Ensino (IFFEd), que reúne fundos de doadores, facilitando a cedência de empréstimos de instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento. Também procura ajudar os países de rendimentos médio-baixos a aceder ao crédito a taxas favoráveis, e a evitar a armadilha dos empréstimos de taxas elevadas. Em última análise, ao alavancar 2 mil milhões de dólares em garantias de doadores, o IFFEd reunirá 10 mil milhões de dólares em subsídios e financiamento condicional, disponíveis para alguns dos países mais desfavorecidos do mundo.

Mas a mudança precisa de começar localmente. Este mecanismo só será bem-sucedido se os países Africanos aumentarem os seus gastos nacionais com o ensino. Em média, os países mais pobres só atribuem 3% dos seus orçamentos nacionais ao ensino, ao passo que os países de rendimento médio atribuem uma média de 4%. Os nossos dados indicam que estes valores deveriam aumentar entre 5 a 6% para promoverem uma alteração duradoura. Embora os investimentos em infra-estruturas físicas como estradas e caminhos-de-ferro sejam críticos, os investimentos nas mentes jovens são igualmente importantes.

Em África, custa perto de 400 dólares por ano educar uma criança em idade escolar. Isto é uma fortuna, para uma família pobre que se debata com problemas económicos. Mas para os governos de África e de todo o mundo, é um pequeno preço a pagar para formar os criadores da prosperidade futura. Afinal, nas famosas palavras de Nelson Mandela, “o Ensino é a arma mais poderosa que podemos usar para mudarmos o mundo”.

ALIKO DANGOTE

Aliko Dangote, fundador e presidente do Grupo Dangote e presidente da Dangote Foundation, é co-fundador do Grupo Africano de Líderes Energéticos e membro da Comissão de Educação.

 

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