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O REGRESSO DO JORNALISMO

14-09-2018 - Alexandra Borchardt

Depois de anos de saúde precária, a indústria noticiosa mostra finalmente sinais de uma recuperação modesta. Segundo o Digital News Report 2018 – o inquérito mais abrangente sobre o consumo de meios de comunicação digital – as assinaturas estão em tendência ascendente e a confiança dos consumidores estabilizou. Para um negócio tão vilipendiado e assente na confiança, estes ganhos frágeis representam um progresso significativo.

É certo que os meios de comunicação mundiais permanecem conturbados; o relatório, produzido pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, mostra que somente 44% dos consumidores de notícias acredita no que publicam as marcas consolidadas da comunicação social. Mas isto representa um aumento de um ponto percentual desde o ano passado, sugerindo que o défice de confiança no sector ou deixou de crescer, ou está na verdade a reduzir-se.

Outros inquéritos são ainda mais optimistas; por exemplo o anual Edelman Trust Barometer concluiu que os jornalistas estão a recuperar a sua credibilidade, ao mesmo tempo que a confiança global no jornalismo tradicional e exclusivamente   on-line   está no seu ponto mais alto dos últimos sete anos. Estas conclusões originaram declarações da empresa no sentido de que estaríamos a testemunhar “o regresso dos especialistas”.

Embora seja talvez demasiado cedo para que os executivos da comunicação social declarem vitória, estes são claramente bons auspícios para um sector cuja reputação tem sido agredida nos últimos anos. A polarização política tem aumentado a desconfiança das pessoas relativamente aos meios de comunicação que não secundam as suas opiniões, e a redução de custos nas redacções degradaram a qualidade da oferta do jornalismo. Mas, como sugerem os novos dados, os jornalistas parecem estar a encontrar modos de ultrapassar estes desafios.

Talvez a tendência mais reveladora no Digital News Report deste ano seja a desconfiança crescente nas notícias partilhadas através das redes sociais. Por exemplo, o nosso estudo descobriu que apenas 23% dos inquiridos confiam nas notícias que lêem nas redes sociais, e somente 34% acreditam no que encontram nos motores de busca. Estes valores serão provavelmente preocupantes para a Google, o Facebook e outros gigantes tecnológicos, cujos negócios dependem tanto da confiança como as organizações tradicionais da comunicação social.

Mas enquanto as plataformas como o Facebook tropeçam, muitos meios de comunicação tradicionais descobrem uma nova estabilidade; as tendências verificadas nas assinaturas apoiam esta conclusão. Dos 74 000 entrevistados pelo inquérito, 14% afirmaram que pagaram por notícias digitais pelo menos uma vez nos últimos 12 meses, sendo que a média nos países Nórdicos se aproximou dos 30%. Nos Estados Unidos, os ataques do presidente Donald Trump aos chamados “meios de comunicação de notícias falsas” (NdT: “fake news media”, no original) provocaram o efeito oposto, levando mais pessoas que nunca a apoiar o jornalismo independente. Em 2016, por exemplo, apenas 9% dos consumidores americanos pagara por notícias   on-line ; essa proporção subiu para 16% em 2017 e manteve-se constante este ano.

Mesmo em países como o Reino Unido, onde não existe escassez de   websites   de notícias grátis, as pessoas investem em comunicação de qualidade. O modelo de solicitação de donativos ou de pagamentos de adesão usado pelo   The Guardian   está a fomentar uma reviravolta financeira. Em quase todos os países inquiridos, os jovens provenientes da esquerda política demonstram a maior propensão a pagar.

Alguns críticos defendem que o modelo de pagamentos da comunicação social contradiz o espírito original da Internet, como um local de livre intercâmbio de ideias, notícias e informações. Transferir as melhores histórias para áreas pagas, dizem os opositores, provocará a ascensão de notícias de segunda categoria, destinadas a cidadãos de segunda classe.

Mas este argumento falha em três pontos cruciais. Para começar, pode presumir-se que o número de pessoas ligadas digitalmente, e que não conseguem suportar qualquer custo pelas notícias, seja bastante reduzido; a disponibilidade para pagar é, muito mais, uma questão de prioridades de despesa. Além disso, pagar por algo que se considera valioso ajuda a que isso se torne realmente valioso, como ilustra a prioridade dada aos modelos de adesão sobre as abordagens puramente transaccionais.

Finalmente, para aqueles que não possam realmente pagar, existem opções viáveis para aproximar o jornalismo de qualidade dos agregados de baixos rendimentos. Por exemplo, os códigos tributários poderiam ser reformados no sentido de tornar mais acessível a prática do jornalismo, e o financiamento governamental ou por fundações poderia aumentar os apoios à programação dos meios de comunicação públicos.

Quando as pessoas pagam pelos conteúdos, os jornalistas recebem um incentivo à produção: escrutinam os seus produtos quanto ao valor, confirmam minuciosamente os factos, inovam, investigam, e diminuem o ruído barato e captador de atenção que assola tantas plataformas nas redes sociais. O melhor de tudo é que estas tendências se reforçam mutuamente: quanto melhor for o jornalismo, mais valorizado será pelos consumidores.

Há muito tempo que a indústria da comunicação social não tinha boas notícias sobre si própria. Agora que as temos, é fundamental que trabalhemos mais arduamente que nunca para sustentar a evolução no sentido da qualidade, da credibilidade, e da viabilidade financeira.

Alexandra Borchardt

Alexandra Borchardt é Diretora de Desenvolvimento Estratégico do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo.

 

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