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Educar a Commonwealth

20-04-2018 - Jakaya Kikwete, Ngozi Okonjo-Iweala

Com 53 países membros e 2,4 mil milhões de pessoas, a Commonwealth é uma força poderosa para a mudança positiva. Há quase sete décadas que os estados da Commonwealth têm sido líderes no comércio, no empoderamento das mulheres, na proteção dos recursos humanos e em muitas outras questões.

Mas à medida que a Commonwealth avança para enfrentar novos desafios no desenvolvimento humano, a sua liderança não está a dar ênfase suficiente ao fator mais importante de todos: a educação. Sem um compromisso renovado com este alicerce essencial de prosperidade, o progresso noutros objetivos será inatingível.

Hoje, cerca de 140 milhões crianças de países da Commonwealth não estão na escola. De acordo com um   relatório recente da UNESCO,   a situação é mais desastrosa nos países mais pobres da Commonwealth. No Paquistão, por exemplo, quase 20 milhões de crianças não estão matriculadas no ensino oficial, enquanto sete milhões não andam na escola em Bangladesh, 2,3 milhões em Moçambique, 1,8 milhões no Gana e 1,6 milhões nos Camarões.

A situação é particularmente preocupante na Nigéria, onde quase nove milhões de crianças em idade de frequentar o ensino primário não estão matriculadas e outros milhões de crianças – especialmente raparigas –não têm acesso ao ensino secundário. As oportunidades educacionais também estão distribuídas de forma altamente desigual entre os países mais ricos e mais pobres da Commonwealth, enquanto a discriminação de género assola muitos estados.

Se as atuais tendências continuarem, quando chegarmos ao ano 2030 – o prazo para cumprir os 17   Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas   –mais de 70% das crianças de países da Commonwealth   não saberão ler nem fazer contas. Isso representaria mais de   metade do número totalprevisto de jovens que não terá as competências necessárias para vingar no mercado de trabalho do século XXI.

Quando uma criança não frequenta a escola, essa ausência perpetuará o ciclo de pobreza nas famílias, comunidades e nos países. Os líderes da Commonwealth não se podem dar ao luxo de falhar com os jovens dos seus países por não investirem na educação.

A boa notícia é que as oportunidades educacionais podem ser dadas de forma eficaz e a baixo custo a uma maioria de pessoas atualmente excluída. Na verdade, a maior parte das crianças que mora em países da Commonwealth que estão em vias de desenvolvimento poderia beneficiar de uma solução inovadora desenvolvida pela   Comissão Internacional do Financiamento da Oportunidade para uma Educação Global, onde atuamos como comissários. A abordagem, intitulada como o   Mecanismo de Financiamento Internacional para a Educação   (IFFEd), pretende alavancar os próprios investimentos dos países na educação com o apoio de doadores públicos e privados.

O programa IFFEd, que foi   reconhecido pelo G20 no ano passado, iria assegurar garantias financeiras provenientes de doadores na Austrália, no Canadá, na Nova Zelândia, no Reino Unido e em outros lugares para aumentar as capacidades de empréstimo dos bancos multilaterais de desenvolvimento em África e na Ásia. Por cada dólar em garantias, são disponibilizados até cinco dólares para gastos com a educação. Vários bancos multilaterais de desenvolvimento já reconheceram o valor deste procedimento e estão a trabalhar com a comissão para um maior desenvolvimento do mecanismo.

Para maximizar o impacto desta estratégia de financiamento, o IFFEd irá favorecer os países que se comprometeram com reformas educativas e que sejam capazes de controlar e monitorizar os resultados. O nosso objetivo é potencializar cerca de dois mil milhões de euros iniciais em financiamento garantido durante o primeiro ciclo de financiamento.

Acreditamos que este mecanismo poderia ajudar até 16 países desfavorecidos da Commonwealth a melhorar oportunidades educacionais a milhões de jovens – especialmente raparigas marginalizadas. O financiamento adicional iria complementar recursos internos, ajuda bilateral e doações multilaterais que já estão disponíveis através de programas como a   Aliança Mundial para a Educação.

São necessárias medidas ousadas, se o objetivo for a resolução das deficiências no campo educacional da Commonwealth. É por isso que estamos a incitar os líderes da Commonwealth a apoiarem o IFFEd quando se reunirem em Londres, no final deste mês, para a sua   Reunião dos Chefes de Governo   bienal. Com uma agenda focada na construção de prosperidade, democracia e paz, a Commonwealth está claramente empenhada num “futuro mais comum” e mais sólido .   E a forma mais rápida de atingir os seus objetivos é tornando a educação uma prioridade máxima em cada estado membro.

“Se quisermos alcançar a verdadeira paz neste mundo” , disse Mahatma Gandhi em 1931, quase duas décadas antes da Commonwealth ser criada, “temos de começar com as crianças”.   As suas palavras não são menos proféticas nos dias de hoje; num mundo que parece ser cada vez mais propenso a conflitos internos e internacionais, não há tempo a perder quando se trata de investir na educaçãoo.

Jakaya Kikwete

Jakaya Kikwete, ex-presidente da Tanzânia, é membro da Comissão Internacional de Financiamento da Oportunidade Global de Educação.

Ngozi Okonjo-Iweala

Ngozi Okonjo-Iweala, ex-ministra das Finanças da Nigéria e directora-geral do Banco Mundial, é actualmente presidente do Conselho de Administração da Gavi, a Aliança de Vacinas, e membro da Comissão Global sobre Economia e Clima.

 

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