Escalada de violência na Ucrânia
09-05-2014 - N.A.
O final de semana na Ucrânia foi extremamente violento, deixando um saldo de mais de oitenta mortos no país, 46 apenas da cidade de Odessa.
Depois de um fim de semana extremamente violento, deixando um saldo de mais de oitenta mortos no país, 46 apenas da cidade de Odessa, o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha propôs na segunda-feira, 5 de Maio, uma nova ronda de negociação entre Estados Unidos, Rússia, governo de Kiev e União Europeia para tentar ressuscitar o acordo de Genebra.
A atmosfera geral entre comentaristas da cena internacional é de que a Ucrânia caminha a passos largos para uma guerra civil ou já está nela.
As forças do governo de Kiev têm tentado retomar o controlo de várias cidades no leste do país, mas com um sucesso pequeno, porque depois que elas passam os separatistas voltam a erguer suas barricadas. Na segunda-feira o conflito se agravou em torno da cidade de Slavyanski. Há informes sobre mais mortos, sem precisarem números. Durante o fim-de-semana já foram registadas 42 mortes em confrontos na região.
Os acontecimentos mais graves se deram na cidade de Odessa, onde depois de um primeiro de Maio agitado, em que as manifestações de trabalhadores transformaram-se em protestos contra o governo de Kiev, grupos pró-Kiev, muitos de extrema-direita ligados ao chamado “Sector da Direita” assaltaram a sede do Sindicato dos Comerciantes, deixando um saldo de quarenta e seis mortos, na grande maioria descritos como “pró-russos”. Grande parte destas vítimas fatais morreram queimadas ou sufocadas pelo incêndio que tomou conta do prédio, ou ainda saltando pelas janelas para escapar ao fogo. A polícia nada fez, limitando-se a prender sobreviventes que conseguiam sair do prédio. No domingo um grupo de simpatizantes invadiu a principal delegacia de polícia, onde eles estavam detidos, e libertou os prisioneiros. Até mesmo autoridades de Kiev criticaram o comportamento omisso da polícia local durante o conflito entre os grupos, prendendo depois apenas os membros dos chamados "pro-russos".
É muito difícil atravessar a verdadeira cortina de “fobia-russa” montada na mídia ocidental e se informar com alguma segurança, ainda que relativa, sobre o que está acontecendo. A melhor atitude é a de buscar os relatos dos repórteres que estão nos locais dos acontecimentos, cujo relato seguidamente conflitua com a orientação editorial mais comum de que tudo se deve à renovação do apetite russo por alargar as fronteiras de sua influência. Um bom exemplo disto é a insistência na tecla de que o maior e mais iminente perigo é a invasão russa do leste da Ucrânia, enquanto o que aconteceu de fato até agora é que Moscovo enviou uma delegação para ajudar a convencer os grupos separatistas a libertar os reféns da missão de observadores militares da União Europeia que estavam em seu poder.
Há reportagens interessantes feitas in loco nos sites do The Guardian e do New York Times, pelo menos. A mídia oficial russa comporta-se como imprensa para-oficial russa também é muito parcial, mas há uma série de blogs independentes que comentam os acontecimentos com mais isenção, embora muitos destes estejam apenas em russo.
Na segunda, 5, e na terça, 6, os ministros de energia da União Europeia estarão reunidos para discutir o estado da situação no sector, diante da ameaça de que, caso o conflito se intensifique, a Rússia corte ou diminua as exportações de gás natural para seus países.
Como uma intervenção militar não parece ser a melhor opção para a Rússia, a possibilidade de uma retaliação no plano energético se torna mais provável.
A crise ucraniana está provocando um realinhamento internacional, com a Rússia voltando-se mais para os mercados asiáticos e tendendo a se aproximar mais dos BRICS, voltando a se editar um desenho bipolar, com Rússia/BRICS de um lado e EUA/UE do outro.
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