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Capturar os retornos elevados de África

23-03-2018 - Landry Signé

WASHINGTON, DC –Desde o ano 2000, pelo menos metade das economias mundiais em rápido crescimento tem estado situada em África. E até 2030, a África vai ser o lar de 1,7 mil milhões de pessoas, cuja combinação entre o consumo e os gastos das empresas totalizará 6,7 biliões de dólares.

Há sete anos, a publicação   Harvard Business Review salientou   que a África é também o lar de muitas das grandes oportunidades mundiais. E ainda assim, apesar do enorme potencial empresarial, África não tem aparecido como assunto prioritário nas agendas dos líderes empresariais ocidentais.

Na verdade, entre 2014 e 2016,   as exportações dos EUA   para África caíram quase para metade, passando dos 38 mil milhões de dólares para os 22 mil milhões de dólares. E embora os   investimentos do Reino Unido   no continente tenham mais que duplicado, entre 2005 e 2014, atingindo os 42,5 mil milhões de libras (57,6 mil milhões de dólares), apenas   2,5% do total das suas exportações são para África.

Os países ocidentais estão a perder rapidamente terreno para a China, que multiplicou mais de sete vezes as suas exportações para África – para 103 mil milhões de dólares –de 2005 a 2015. Se as empresas ocidentais quiserem continuar na corrida, terão de explorar os setores e países africanos que tiverem um elevado potencial de crescimento.

Até 2030, mais de metade da população de África irá residir em sete países: Nigéria, Etiópia, República Democrática do Congo, Egito, Tanzânia, Quénia e África do Sul. Mas, mais importante, 43% dos africanos irão pertencer à classe média ou alta,   face aos 39,6% em 2013, o que implica uma procura consideravelmente maior por bens e serviços. Em 2030, é esperado que o consumo das famílias chegue aos 2,5 biliões de dólares, face aos 1,1 biliões de dólares em 2015.

Quase metade desses 2,5 biliões de dólares será gasto em três países: Nigéria (20%), Egito (17%) e África do Sul (11%). Mas haverá também oportunidades lucrativas na Argélia, em Angola, na Etiópia, no Gana, no Quénia, em Marrocos, no Sudão e na Tunísia. Qualquer um destes países será uma boa aposta para as empresas que procurem entrar em novos mercados.

Em 2030, os setores que irão gerar mais valor em África serão o dos alimentos e bebidas (740 mil milhões de dólares), educação e transportes (397 mil milhões de dólares), e habitação (390 mil milhões de dólares). Mas haverá também um forte crescimento em bens de consumo (370 mil milhões de dólares), hotelaria e lazer (260 mil milhões de dólares), cuidados de saúde (175 mil milhões de dólares), serviços financeiros (85 mil milhões de dólares) e telecomunicações (65 mil milhões de dólares).

É claro que muito deste crescimento dependerá do facto de a União Africana aplicar corretamente, ou não, a sua nova   Zona de Comércio Livre Continental   (ZCLC), a qual irá criar um mercado único para bens e serviços, oferecendo às empresas muitos pontos de entrada. Além disso, a ZCLC irá aumentar a necessidade de conectividade, pelo que haverá novas oportunidades para se investir em infraestruturas e em setores variados, desde os transportes e energia até às tecnologias de informação e comunicação (TIC), e abastecimentos de água. Por seu lado, o Banco Africano de Desenvolvimento pode ajudar os investidores a encontrar projetos promissores através do seu   Programa para o Desenvolvimento de Infraestruturas em África .

Outra área de enorme crescimento entre o presente e 2030 será a área dos gastos entre empresas africanas, que irá atingir os 4,2 biliões de dólares, face aos 1,6 biliões de dólares em 2015. Aqui, os maiores setores serão: agricultura e transformação de produtos agrícolas (915 mil milhões de dólares), indústrial (666 mil milhões de dólares), construção, serviços e transportes (784 mil milhões de dólares), seguidos pelo comércio grossista e a retalho (665 mil milhões de dólares), recursos (357 mil milhões de dólares), banca e seguros (249 mil milhões de dólares), e telecomunicações e TIC (79,5 mil milhões de dólares).

O crescimento previsto na agricultura e transformação de produtos agrícolas reflete o facto de os alimentos e as bebidas virem a constituir a maior fatia da despesa total das famílias. Além disso, 60% da terra arável inutilizada está em África, que ainda assim contribui com uma proporção escassa das exportações agrícolas a nível mundial. Isso significa que ainda há muito espaço para crescer. E, uma vez que a fome extrema ainda afeta muitos países africanos, os investidores podem até contribuir para o bem público ao investirem em fertilizantes, maquinaria, sistemas de água e de irrigação e outras áreas do setor da agricultura.

Desde 2012, os países africanos que têm o maior valor acrescentado agrícola, em termos de crescimento anual, incluem Burquina Faso, Etiópia, Nigéria, Mali, Moçambique, Ruanda e Tanzânia. Além desses, os países Angola, Marrocos e África do Sul têm atualmente mercados consideráveis e comprometeram-se a expandir os seus setores agrícolas.

De acordo com a publicação   Harvard Business Review , a África também tem potencial para se tornar   “o próximo grande centro industrial do mundo” .   Espera-se que a China perca entre   85 a 100 milhões de trabalhos de baixo custo que utilizam mão de obra intensiva, até   2030, e a África prepara-se para captar muitos deles.

Isto ajuda a explicar o porquê de a indústria vir a ser o segundo maior setor em termos de gastos entre empresas. Outra razão é o facto de muitas das oportunidades industriais em África estarem nos setores globalmente competitivos, tais como automóveis e equipamento de transporte, petróleo refinado, computadores, e equipamento de escritório e maquinaria industrial. A África do Sul, o Egito e a Nigéria já estão a tornar-se lugares promissores para se investir nessas áreas. E os investidores também terão capacidade de encontrar elevados retornos e ambientes empresariais favoráveis na Etiópia, em Marrocos e no Ruanda.

A África é o último mercado fronteiriço mundial e as empresas ocidentais precisam de começar a tirar proveito do seu enorme potencial, à semelhança do que as empresas chinesas já fazem. A realização de negócios em África irá também criar empregos sustentáveis e promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas  para acabar com a pobreza e com a fome. E isso também será bom para o resultado final. Tal como a Comissão Empresarial e de Desenvolvimento Sustentável   demonstrou , cumprir os ODS   “poderia gerar biliões nas oportunidades do novo mercado de tal forma que alargaria a prosperidade a toda a gente

LANDRY SIGNÉ

Landry Signé é um discípulo de David M. Rubenstein do Programa de Economia Global e Desenvolvimento e Iniciativa de Crescimento de África na Brookings Institution, um distinguido seguidor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Stanford e um Líder Jovem Líder Global do Fórum Económico Mundial.

 

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