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É tempo de deixarmos as mulheres prosperarem

02-02-2018 - Erna Solberg, Christine Lagarde

DAVOS – Em debates públicos por todo o mundo, a capacitação das mulheres é cada vez mais reconhecido como uma prioridade principal. A questão da disponibilização de mais oportunidades económicas às mulheres é um ponto assente na agenda da reunião anual do Fórum Económico Mundial em Davos deste ano. E os defensores das mulheres sentem-se motivados, já que muitos outros – tanto homens como mulheres – reconhecem hoje a urgência da tarefa.

Conceder às mulheres e às raparigas a oportunidade de terem êxito não é apenas algo que deve ser feito: poderá também transformar as sociedades e as economias no sentido do bem comum. Por exemplo, fazer com que a participação das mulheres na mão-de-obra aumente até ao mesmo nível dos homens impulsionaria o PIB até 9% no Japão e 27% na Índia.

O Fundo Monetário Internacional documentou muitos outros benefícios macroeconómicos associados à capacitação das mulheres. Demonstrou-se que a redução das disparidades de género no emprego e na educação ajuda a que as economias diversifiquem as suas exportações. A nomeação de mais mulheres para os conselhos de supervisão bancária pode impedir o desenvolvimento de uma mentalidade de grupo, assegurando assim uma maior estabilidade e resiliência no sector financeiro. E a redução das desigualdades de género também  reduz a desigualdade no rendimento, permitindo um crescimento mais sustentável.

A eliminação das disparidades de género pode parecer uma questão complexa, mas é essencial para o desenvolvimento e a prosperidade no longo prazo. O desafio para todos os países consiste em aproveitar ao máximo os talentos de todos os seus habitantes.

A concretização do potencial das mulheres é uma missão universal. Mas também são universais algumas das barreiras que travam actualmente as mulheres. Surpreendentemente, perto de 90% dos países apresentam no seu ordenamento jurídico uma ou mais restrições legais baseadas no género. Em alguns países, as mulheres ainda têm direitos de propriedade limitados, comparados com os dos homens; noutros, os maridos têm direito a proibir que as suas mulheres trabalhem.

Para além das barreiras legais, as mulheres também enfrentam obstáculos sociais e culturais que limitam o seu acesso à educação, ao trabalho, e ao financiamento. Isto é particularmente verdadeiro em países com sistemas políticos frágeis.

Agora que a consciencialização pública está a aumentar, é tempo de insistirmos em medidas concretas que ajudem as mulheres a permanecer no mercado de trabalho enquanto constituem família. Para um vislumbre de como isso pode ser feito, olhemos para a Noruega, onde os modelos de cuidados acessíveis para a infância e de licenças parentais provaram ser bem-sucedidos, ao permitirem que tanto as mães como os pais consigam trabalhar. Sim, estes programas são dispendiosos. Mas valem bem o investimento, dada a enorme contribuição das mulheres que trabalham para o crescimento económico.

Além disso, os programas que ajudam as mulheres a manterem os seus empregos também transformam o papel dos pais. Na Noruega e noutros países com políticas semelhantes, os pais partilham hoje as licenças parentais e a educação dos filhos. Como consequência, mais mulheres podem exercer cargos de liderança na vida laboral e pública.

Evidentemente que os países que ainda não se encontram no nível de desenvolvimento económico da Noruega enfrentam normalmente outros desafios relativos ao género, incluindo o acesso limitado à água e à educação. Infelizmente, apesar de muitos países terem feito progressos na redução das disparidades de género quanto à frequência da instrução primária, ainda há muito trabalho a fazer ao nível do ensino secundário e terciário. Enquanto persistirem estas disparidades, as mulheres não serão capazes de aspirar ao poder político e económico em igualdade de circunstâncias com os homens. Em conformidade, a Noruega tornou a educação das raparigas como uma prioridade principal nos seus programas de desenvolvimento internacional.

Para além do ensino, também é crítico garantir que as mulheres dos países em desenvolvimento consigam aceder ao financiamento, já que isso permitir-lhes-á participar de forma plena na economia, nomeadamente como empreendedoras. Sempre que as mulheres são capacitadas para começarem as suas empresas, conseguem impulsionar a inovação e ajudar os seus países a prosperar.

Como a participação das mulheres na mão-de-obra é tão importante para o crescimento, as organizações como o FMI estão empenhadas em colaborar com governos em todo o mundo, para que estes capacitem as mulheres do ponto de vista económico. Alguns programas apoiados pelo FMI no Egipto e na Jordânia, por exemplo, incluem medidas para impulsionar o investimento em creches públicas e transportes públicos seguros.

Para além de políticas específicas, o debate actual está cada vez mais centrado na necessidade de mudanças sociais mais abrangentes. E agora que os movimentos como o #Equalpay e o #MeToo ganharam tanto impulso, essas mudanças parecem estar para breve. Tem sido inspirador ver tantas mulheres, raparigas, e até homens, a denunciarem atitudes retrógradas contra as mulheres, que têm sido tão gravosas para todos nós.

Com a economia global a recuperar, os governos devem agora criar os alicerces para o crescimento de longo prazo, criando condições para que as mulheres de todo o mundo cumpram o seu pleno potencial. A discriminação e o abuso contra as mulheres não podem continuar. É tempo de as mulheres prosperarem.

ERNA SOLBERG

Erna Solberg é Primeira-Ministro da Noruega.

CHRISTINE LAGARDE

Christine Lagarde é Directora do Fundo Monetário Internacional. Anteriormente exerceu o cargo de ministro das finanças de França de 2007 a 2011 e, em 2009, foi nomeada pelo Financial Times como o melhor ministro das Finanças da zona do euro.

 

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