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Criar um local de trabalho que promova a igualdade de géneros

02-02-2018 - Kathy Bloomgarden

NOVA IORQUE – A vaga de casos de assédio sexual com grande visibilidade que começou com revelações de Hollywood está a ter um profundo impacto em ambientes de trabalho muito menos glamorosos. Do mesmo modo que os grandes estúdios cinematográficos foram forçados a tomar medidas contra o abuso, uma revolução semelhante — dinamizada pelo movimento de mulheres #MeToo - está a ocorrer nos locais de trabalho de todo o mundo.

É terrível tomar conhecimento do abuso de que as mulheres foram vítimas às mãos de homens poderosos como Harvey Weinstein, Matt Lauer e Al Franken. No entanto, é igualmente muito gratificante ver o mundo empresarial levar a sério esta questão, ao tentar criar um "futuro partilhado" para as suas trabalhadoras. A resposta colectiva ao movimento #MeToo poderia assinalar um ponto de viragem na forma como os empregadores pensam sobre o assédio sexual e outras questões que envolvem os géneros — como a remuneração e o poder.

Mas a revolução no local de trabalho está longe de ter terminado. São necessárias novas estratégias para incentivar interacções sãs entre os trabalhadores. Quando tratada de forma adequada, a igualdade de géneros promove o rendimento e a produtividade das empresas, ao passo que a discriminação sexual, quando ignorada, pode destruir a cultura do escritório — ente muitas outras coisas.

As empresas levam tradicionalmente a cabo uma abordagem de preenchimento de quadrículas para tratar o problema do assédio, utilizando políticas estabelecidas por escrito e formações, numa fraca tentativa de incentivar o respeito. Mas esta abordagem do topo para a base demonstrou não ser eficaz, como o comprovam os comprovam os escândalos na Uber  e noutras empresas de tecnologia. Para que seja possível pôr termo ao abuso no local de trabalho, os líderes empresariais e os responsáveis ao nível dos cargos de chefia deverão adoptar uma nova abordagem.

A primeira prioridade consiste em alcançar o equilíbrio entre homens e mulheres nas posições de topo. A diversidade na liderança incentiva a cooperação dos trabalhadores leva a organizações mais salutares. Esta ideia não é nova; um estudo de 2016 publicado na   Harvard Business Review   constata que as empresas com um número mais elevado de executivos do sexo feminino gerar maiores lucros superiores. Outros estudos demonstraram que as mulheres têm um melhor desempenho sob pressão, tomando frequentemente decisões mais inteligentes. Contudo, apesar das vantagens evidentes proporcionadas pelas mulheres, estas continuam a estar sub-representadas nas posições de liderança das empresas a nível mundial.

São igualmente necessárias mudanças nos locais de trabalho digitais. Os predadores podem estar à espreita junto ao refrigerador da água, mas estão igualmente em actividade na Internet, nomeadamente em comunidades, salas de chat e fóruns. A preocupações suscitadas pelo movimento #MeToo propagaram-se de forma viral nas redes sociais em apenas algumas horas, e uma ira semelhante poderia atingir uma organização em qualquer momento. Por conseguinte, as empresas devem premiar a promoção da compostura em linha, e levar os comentários e preocupações expressos pelos seus trabalhadores. A maioria das empresas já procede ao controlo das redes sociais em termos dos riscos de reputação e da satisfação do cliente; deviam proceder de igual forma para proteger os seus trabalhadores.

Por fim, as empresas devem ser sensíveis às preocupações dos seus trabalhadores mais jovens, que serão os herdeiros do escritório do futuro. Face à entrada crescente de jovens da “geração Y” no mercado de trabalho, que exigem maior igualdade, os trabalhadores mais jovens já têm uma voz mais forte no trabalho do que as gerações anteriores. Um estudo recente efectuado pelo Boston Consulting Groupd concluiu que os trabalhadores jovens do sexo masculino têm frequentemente maior abertura de espírito do que os seus superiores sobre questões como as licenças para assistência à família e a diversidade, sugerindo que a verdadeira liderança relativamente à igualdade entre homens e mulheres pode, efectivamente, vir dos membros mais jovens do pessoal de uma empresa.

Além disso, os investigadores da Universidade de Rutgers demonstraram que mais de 50% dos jovens da “geração Y” aceitaria uma remuneração mais baixa se tal implicasse trabalhar para uma empresa que partilhasse dos seus valores, enquanto a Society for Human Resource Management conclui que 94% dos trabalhadores jovens querem utilizar as suas competências em benefício de uma boa causa. Em vez de mostrar-se resistentes a estas tendências, as empresas deviam procurar aproveitar a benevolência dos seus jovens talentos.

Para desenvolver um local de trabalho mais inclusivo, a gestão deve criar narrativas favoráveis às mudanças reivindicadas elos seus trabalhadores. Mais importante ainda, os trabalhadores precisam de modelos. A disponibilidade de celebridades como Salma Hayek, Rose McGowan, e Reese Witherspoon para partilhar as suas histórias de assédio sexual conferiu autonomia a mulheres de todos os estratos sociais para contarem também a sua história. A mudança de cultura no local de trabalho exigirá igualmente uma forte liderança.

Essa mudança está no horizonte, e inspiram-me as mulheres e os homens que estão apelam às gerações futuras para que cooperem de forma mais equitativa. É fácil sentirmo-nos oprimidos pela complexidade destas questões, mas se os gestores e os trabalhadores puderem empenhar-se na criação de ambientes de trabalho com uma finalidade precisa e inclusivos, a mudança é inevitável.

As mulheres de Hollywood podem ter iniciado o que veio a tornar-se um apelo global à igualdade no trabalho, mas a revolução no local de trabalho não é menos significativa para aqueles que caminham sobre tapetes menos coloridos.

KATHY BLOOMGARDEN

Kathy Bloomgarden é CEO da Ruder Finn.

 

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