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Combater a cibercriminalidade com a neurodiversidade

26-01-2018 - Gavin Patterson

LONDRES - A cibersegurança é um dos principais desafios da era digital. Todos, desde famílias, empresas e governos, têm uma participação na protecção do bem mais valioso da nossa época: os dados. A questão é saber como alcançar este objectivo.

A dimensão do desafio não deve ser subestimada. Num contexto em que os atacantes se revelam cada vez mais ágeis e inovadores, equipados armas cada vez mais diversificadas, os ciberataques ocorrem a um ritmo mais rápido e com um nível de sofisticação mais elevado do que nunca. A equipa de segurança da minha empresa, a BT (operador de rede e prestador de serviços de Internet), detecta diariamente 100 000 amostras de   malware , ou seja, mais do que 1 por segundo.

O pensamento criativo dos atacantes cibernéticos exige o pensamento criativo por parte daqueles que os combatem. Neste ponto, o primeiro passo consiste em assegurar a existência de um número suficiente de indivíduos com talento e formação, empenhados no combate a estes crimes. Afinal de contas, segundo um inquérito efectuado recentemente pela International Data Corporation, 97% das organizações manifestam preocupações quanto às suas competências em matéria de segurança. Um outro estudo levado a cabo em 2002 estima que haverá 1,8 milhões postos de trabalho não ocupados no sector da cibersegurança.

Perante esta grave escassez de especialistas em segurança, torna-se imperativo o desenvolvimento de novas abordagens para atrair, formar e reter indivíduos talentosos, a fim de criar uma bolsa de especialistas altamente qualificados, preparados para vencer os cibercriminosos virtuais no seu próprio jogo.

A chave para o sucesso é a diversidade de talentos e perspectivas. Isto inclui a diversidade neurológica, como a que representam as pessoas com autismo, síndrome de Asperger e distúrbio de défice de atenção. As pessoas com síndrome de Asperger ou autismo, por exemplo, tendem a pensar de forma mais literal e sistemática, o que os torna particularmente hábeis para a matemática e o reconhecimento de padrões, competências que são essenciais para a cibersegurança.

O problema é que as pessoas excepcionais do ponto de vista neurológico tendem a ser prejudicadas com o tradicional processo de entrevista, que depende grandemente de boas competências a nível da comunicação verbal. Consequentemente, estas pessoas defrontam-se muitas vezes para encontrar emprego, e mesmo quando conseguem um emprego, o seu ambiente de trabalho poderá não ter condições para apoiá-las de forma adequada.

A Sociedade Nacional de Autistas do Reino Unido revela que, na Grã-Bretanha, apenas 16% dos adultos autistas têm um emprego a tempo inteiro remunerado e apenas 32% têm algum tipo de trabalho remunerado, quando comparados com 47% das pessoas com deficiência e 80% das pessoas sem deficiência. Esta situação salienta a dimensão do desafio enfrentado por tais candidatos, assim como o vasto recurso por explorar que eles representam.

Reconhecendo o potencial da diversidade neurológica para contribuir para o reforço da cibersegurança, na BT reformulámos a forma como interagimos com os candidatos durante as entrevistas. Incentivamo-los a falar sobre os seus interesses, em vez de esperar que respondam apenas a perguntas típicas sobre os seus objectivos de emprego ou que enumerem os seus pontos fortes e fracos. Esta abordagem já foi aplicada com grande sucesso pela Microsoft, a Amazon e a SAP nos domínios da codificação e do desenvolvimento de software, e pela agência de informações e segurança do Reino Unido, GCHQ, um dos maiores empregadores de pessoas autistas do país.

É evidente que uma abordagem actualizada para entrevista dos candidatos não irá surtir efeito para todos. No entanto, é um começo. De forma mais abrangente, é necessário fazer mais, não só para expandir as oportunidades disponíveis para os candidatos excepcionais do ponto de vista neurológico, mas também para garantir que estas oportunidades sejam adequadamente divulgadas.

A concretização desta mudança exigirá a liderança de — e cooperação entre — governos e empresas. Apraz-me afirmar que, neste domínio, a BT já está a assumir um papel de liderança, nomeadamente através da colaboração com o governo britânico no programa Cyber Discovery, uma iniciativa especial destinada a atrair alunos para a ciberindústria, e através dos nossos próprios programas de aprendizagem.

Na era digital, a neurodiversidade deveria ser vista como uma vantagem competitiva, e não um obstáculo. Temos agora uma oportunidade para investir em pessoas talentosas, que muitas vezes são deixadas para trás quando se trata de trabalho, beneficiando-as, beneficiando as empresas e a sociedade como um todo. Ao reconhecer e desenvolver as competências desta vasta bolsa de talentos ignorados, poderemos resolver a escassez de competências essenciais nas nossas economias e melhorar a nossa capacidade para combater a cibercriminalidade. Estas oportunidades não devem ser desperdiçadas.

GAVIN PATTERSON

Gavin Patterson é o CEO da BT Group.

 

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