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A NATO conseguirá lidar com a Rússia?

04-04-2014 - Jonathan Marcus

“Vamos ser claros desde o início. A Guerra Fria não está de volta. Apesar seu poderio militar e postura, a Rússia não é a antiga União Soviética. Esta não será uma reedição da batalha ideológica que dividiu o mundo durante a maior parte do século passado.”

De forma resumida, essa foi a visão de um diplomata de alto escalão da Nato (aliança militar ocidental) com quem conversei recentemente.

Mas algo mudou na esteira da captura da Crimeia pela Rússia e sua ameaça militar contínua sobre a Ucrânia oriental.

Moscovo quebrou um padrão de comportamento que vinha caracterizando a diplomacia na Europa desde o fim da Guerra Fria e que possivelmente vigorou na Europa ocidental desde o colapso da Alemanha nazista.

A ideia de que disputas serão resolvidas por meio da diplomacia e não da força, de que a moeda do poder é cada vez mais a economia em vez da força militar.

Pior ainda, o discurso de Putin no Kremlin há cerca de dez dias sinalizou que isto não deve acabar por aqui. Porta-vozes russos dizem que o país não deseja enviar suas tropas à Ucrânia, mas as movimentações militares na fronteira sinalizam o contrário – e isso é precisamente o que eles pretendiam fazer.

Até onde Putin pode chegar?

O discurso de Putin foi significativo pois pareceu ser verdadeiro. Os franceses chamam isso de revanchismo – um termo que incorpora o conceito de vingança e restituição depois de uma grande derrota; algo que os próprios franceses experimentaram nas mãos da Prússia em 1870, e algo que muitos russos – certamente aqueles no círculo de Putin – acreditam ter sofrido nas mãos do Ocidente com o colapso da União Soviética.

Putin sinalizou que a Rússia está de volta e que pretenderia se impor em seu próprio quintal, e, para muitos russos, a Ucrânia é o maior quintal de todos.

Não está claro até onde Putin está disposto a ir. Mas a ameaça é evidente – para a Ucrânia; e para a Moldávia (onde há a possibilidade da Rússia formalizar uma anexação no enclave da Transnístria). E onde mais pode acontecer além da Moldávia?

É por isso que países como as três repúblicas bálticas estão aliviados por terem se juntado á Nato há dez anos. Também é essa a razão de subitamente os assuntos de protecção e confirmação de seus membros se tornaram subitamente tão importantes na agenda da Nato.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte não consegue saber as intenções do Kremlin. Ela pode apenas analisar capacidades e criar hipóteses a partir dos sinais e acções registadas até agora.

Então, o que a Nato pode fazer? O primeiro passo é acalmar seus aliados inquietos no norte da Europa.

Apoio para a Ucrânia

Em primeiro lugar, poderia haver uma série de pequenos envios de tropas para reforçar a presença de unidades da aliança nas repúblicas bálticas e na Polónia. Exercícios militares de pequena escala poderiam fornecer uma presença quase permanente da Nato naqueles países se isso for o que os líderes da aliança decidirem.

Também haverá mais apoio para a Ucrânia. Não para trazer o país para o guarda-chuva da Nato, pois o actual governo ucraniano não parece desejar fazer parte da aliança.

Mas a Ucrânia é uma parceira da Nato. A aliança já ajudou a melhorar o controle civil ucraniano sobre suas forças militares, com planos de defesa e aí por diante. É esperada mais ajuda dessa natureza além de assistência de carácter não letal para tornar as moribundas forças militares do país mais efectivas.

A Nato está sinalizando que não vai mudar de direcção. Alguns críticos sugeriram que a expansão da organização desde o fim da Guerra Fria levou de alguma maneira a Rússia a agir na Ucrânia, o que provocou uma sensação de cerco em Moscovo.

Os diplomatas da Nato rejeitam essa interpretação. O secretário-geral Anders Fogh Rasmussen, em um artigo publicado na terça-feira em jornais dos 12 países que se juntaram à Nato desde o fim da Guerra Fria, insistiu que a ampliação da organização foi boa para a Europa, para a Nato, e para os membros mais recentes. Ele afirmou que esse processo vai continuar e que cabe aos países determinarem suas próprias alianças.

Coincidentemente, a reunião da Nato nesta semana será marcada por um aniversário triplo: 15 anos desde que a Polónia a Hungria e a República Checa se juntaram à aliança; dez anos da adesão de Bulgária, Estónia, Letónia, lituânia, Roménia, Eslováquia e Eslovénia; e cinco anos das entradas da Albânia e da Croácia.

Este é um aniversário que os ministros da Nato marcarão com uma breve cerimónia, cujo simbolismo será percebido por Moscovo.

Acima de tudo, os ministros de relações exteriores da Nato precisam de planear o futuro.

E como a organização deve responder aos novos ventos que sopram de Moscovo?

O trabalho será iniciado nesta semana e alimentará a próxima reunião, programada para acontecer em setembro, no País de Gales.

As regras do jogo

Isso dará direcção e directrizes para uma série de estudos. Entre eles o de como será a relação entre a Nato e a Rússia no futuro? Esse é um esfriamento temporário? OU como um diplomata me disse: todo o esforço para construir uma parceria com Moscovo está ameaçado?

Se as regras do jogo mudaram na Europa, quais serão as implicações militares? Países que sofrem com falta de recursos financeiros talvez tenham que reavaliar seus orçamentos de defesa ou ao menos levar mais a sério as possibilidades de defesa conjunta.

Os Estados Unidos terão que reforçar seu compromisso com a segurança na Europa e formas tangíveis. Novos padrões de exercícios terão que ser considerados e a estrutura de força terá que ser revista.

Simplesmente, não será um caso trivial, não porque a Guerra fria esteja de volta, mas porque o propósito fundamental da Nato – a defesa territorial de seus membros – se tornou muito mais importante do que era há algumas semanas.

 

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