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O FUTURO RADIOSO DE MANCHESTER

02-06-2017 - Jim O'Neill

MANCHESTER – Tenho orgulho em ser mancuniense (assim se chamam as pessoas de Manchester), apesar de não ter permanecido lá desde que acabei a escola e fui para a universidade, aos 18 anos. Nasci no hospital de St. Mary, perto do centro da cidade, fui criado num subúrbio agradável de Manchester Sul, e frequentei o ensino primário e preparatório num bairro vizinho e mais complicado, antes de frequentar Burnage no ensino secundário. Trinta e oito anos depois de eu ter frequentado Burnage, também aparentemente o fez Salman Abedi, o presumível bombista da Manchester Arena.

A atrocidade perpetrada por Abedi, e reivindicada pelo Estado Islâmico, é talvez pior que o terrível atentado à bomba do Exército Republicano Irlandês, que destruiu partes do centro da cidade há 21 anos, num acontecimento que muitos acreditam ter desempenhado um papel central no renascimento de Manchester. Pelo menos nesse caso, os bombistas deram um aviso de 90 minutos que ajudou a evitar a perda de vidas. O acto bárbaro de Abedi, pelo contrário, matou pelo menos 22 pessoas, muitas das quais crianças.

Nos últimos anos, tenho estado fortemente envolvido nos aspectos políticos do renascimento económico desta grande cidade. Presidi a um grupo consultivo económico da Junta da Grande Manchester, e fui Presidente da Comissão para o Crescimento das Cidades, que defendia o “Motor Setentrional”, um programa para ligar as cidades do norte Britânico numa unidade económica coesa. Depois, participei brevemente no governo de David Cameron, para ajudar a implementar as fases iniciais do Motor Setentrional.

Nunca assisti a um concerto na Manchester Arena, mas parece ser um excelente espaço para a cidade. Tal como o aeroporto de Manchester emergiu como plataforma de transportes para servir o Motor Setentrional, a arena desempenha um papel semelhante no entretenimento ao vivo. Como indicam os tristes relatórios sobre as pessoas afectadas, os assistentes vieram de muitos lugares da Inglaterra setentrional (e de mais longe).

Nos últimos anos, Manchester recebeu muitos elogios pelo seu renascimento económico, nomeadamente pela sua posição no centro geográfico do Motor Setentrional, e tenho a certeza de que isso continuará a acontecer. Os níveis do emprego e os inquéritos regionais ao PMI (PMI: Purchasing Manager’s Index/Índice dos Gestores de Compras) indicam que nos últimos dois anos a actividade económica foi mais forte na Inglaterra do Noroeste do que no país como um todo, incluindo Londres. É difícil concluir que isto acontece devido à política do Motor Setentrional; independentemente da razão, é extremamente bem-vindo e é importante que seja sustentado.

Para minha irritação ocasional, muitas pessoas ainda se perguntam o que é exactamente o Motor Setentrional. Na sua essência, representa a zona económica que fica entre Liverpool no oeste, Sheffield no leste, e Leeds no nordeste, com Manchester no meio. A distância de Manchester ao centro de qualquer uma das outras cidades é inferior a 40 milhas (64 quilómetros), menos do que as linhas Central, Piccadilly ou District do metropolitano de Londres. Se os 7-8 milhões de pessoas que vivem nessas cidades (e nas inúmeras vilas, aldeias, e outras áreas entre as mesmas) puderem ser ligados através de infra-estruturas, podem funcionar como uma única entidade nos seus papéis de consumidores e produtores.

O Motor Setentrional tornar-se-ia um genuíno factor estrutural para alterações na economia da Grã-Bretanha. Aliás, juntamente com Londres, seria uma segunda e dinâmica zona económica, com impacto à escala global. Foi este pressuposto simples que levou o anterior governo a colocar as minhas ideias no centro das suas políticas económicas, e foi por isso que o Motor Setentrional se tornou tão atraente para as empresas aqui no Reino Unido e no estrangeiro.

O panorama é emocionante e, apesar de ter menos de três anos, demonstra sinais de evolução. Com efeito, dados os benefícios económicos alargados da aglomeração, o mantra do Motor Setentrional pode ser alargado a todo o Norte de Inglaterra, não esquecendo Hull e o Nordeste. Mas é o que eu muitas vezes apelido deselegantemente de “Man-Sheff-Leeds-Pool” que distingue o Motor Setentrional, e Manchester, que fica no coração do mesmo, está sem dúvida entre os seus primeiros beneficiários.

Apesar disso, tenho frequentemente dito a líderes políticos e empresários locais, aos membros do mundo da filantropia, e a outras pessoas, que enquanto as áreas que estão fora da vizinhança imediata do centro de Manchester não beneficiarem com o dinamismo regional, o êxito da Grande Manchester estará longe de assegurado. Qualquer pessoa que olhe pouco mais de uma milha para norte, sul, este ou oeste da Albert Square de Manchester (sem falar de zonas ligeiramente menos adjacentes, como Oldham e Rochdale) pode ver que há muito que precisa de ser melhorado, nomeadamente na educação, na formação profissional, e na inclusão, para garantir o sucesso no longo prazo.

Qualquer que fosse a motivação distorcida de Abedi, de 22 anos, que se fez explodir juntamente com as vítimas inocentes, o seu acto condenável não manchará o futuro brilhante e promissor de Manchester. Não tenho a pretensão de compreender o mundo do terrorismo, mas sei que quem mora em Manchester e nos arredores, e noutras cidades, precisa de sentir que faz parte da sua comunidade e de partilhar os seus anseios. Os residentes que se identificam com a sua comunidade têm menos probabilidades de a prejudicar, e mais probabilidades de contribuir de forma activa para o seu vigor renovado.

Agora, mais do que nunca, Manchester precisa da visão que o Motor Setentrional proporciona. Esta é uma visão que outras cidades e regiões fariam bem em imitar.

Jim O'Neill

Jim O'Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management e ex-secretário de comércio para o Tesouro do Reino Unido, é professor honorário de Economia na Universidade de Manchester e Chairman do Review on Antimicrobial Resistance.

 

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