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Alemanha, por quem os sinos dobram ao entardecer?

24-02-2017 - Flavio Aguiar, de Berlim.

Pela primeira vez em uma década uma pesquisa de intenção de voto colocou o Partido Social Democrata na frente da União Democrata Cristã de Angela Merkel.

Entre as “trumpices” que já estão se tornando rotina (desta vez foi o suposto ataque terrorista na Suécia, que não houve) e a expectativa pelo resultado da eleição equatoriana (que, entre outras coisas, pode decidir o destino de Julian Assange), prefiro dar destaque a notícia divulgada com alguma discrição nas grandes mídias internacionais.

Pela primeira vez em uma década uma pesquisa de intenção de voto colocou o Partido Social Democrata alemão da frente da União Democrata Cristã (apoiada pela União Social Cristã da Baviera) de Angela Merkel.

O SPD teria 33% dos votos e a CDU/CSU (siglas em alemão), 32%. Há um empate técnico, mas também há um impacto nada técnico nos meios políticos e midiáticos do país, quiça da Europa, se a tendência de confirmar.

Em grande parte da mídia alemã esta nova situação aparece como a resultante da troca de comando no SPD. Saiu Sigmar Gabriel, atual vice-chanceler e ministro da Economia (cargo não equivalente ao nosso ministro da Fazenda, que aqui é o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble), subiu Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu. Outra alteração significativa foi o afastamento de Franz-Walter Steinmeier, também do SPD, que, de ministro das Relações Exteriores passou a ser o novo presidente do país, substituindo Joachim Gauck. Com esta mudança de cargo, Steinmeier é obrigado a se afastar de qualquer atividade partidária.

Schulz é visto como um político moderado, mas sua ascensão dá uma leve inclinação à esquerda ao partido. Ele já se referiu à necessidade de rever alguns pontos (quais, ainda não está claro) da chamada “Agenda 2010”, nome que se deu à série de reformas de inclinação neo-liberal no mundo do trabalho, da economia e da previdência social, impulsionada pelo próprio SPD em coligação com o Partido Verde, quando eram governo.

Além deste novo equilíbrio nas intenções de voto entre SPD e CDU/CSU (anteriormente, a CDU/CSU ganhava por dez pontos percentuais ou mais), o quadro das demais intenções de voto é bastante sugestivo sobre possíveis mudanças no quadro político alemão.

O Alternative für Deutschland (AfD), de extrema-direita, teria 9% dos votos, a Linke, 8%, o Partido Verde, 7% e o FDP, liberal, 6%. O AfD entraria pela primeira vez no Parlamento Federal (Bundestag) e o FDP a ele retornaria, superando a cláusula de barreira dos 5% dos votos.

Neste quadro, o primeiro passo mais provável seria a tentativa de formar uma coalizão aqui chamada de Rot-Rot-Grün (Vermelho-Vermelho-Verde), reunindo SPD, Linke e Verdes. Já houve no passado uma coligação CDU/CSU-FDP, mas desta vez, para se tornar viável, ela teria de contar com o apoio do AfD, o que, de momento, é visto como impossível, já que a tendência majoritária no campo de Angela Merkel é a rejeição completa a este novo partido. Uma nova coligação entre SPD e CDU/CSU não pode ser descartada, mas significaria que o novo impulso injetado no Partido Social-Democrata pela ascensão de Schulz seria neutralizado, o que voltaria a abalar o prestígio deste junto ao universo sindical e dos trabalhadores em geral.

É muito cedo ainda para afirmar que a liderança do SPD vai se manter, e que a CDU/CSU não voltará se recuperar. O campo de Merkel perdeu intenções de voto, isto é certo, para o AfD, pela reação negativa de parte do eleitorado mais conservador diante do que vê como uma liberalização excessiva da chanceler em relação aos refugiados. Se ela vai ou não recuperar estes votos ainda não se sabe.

Também é certo que a eleição de Trump colocou o quadro político alemão em estado de alerta. No quadro norte-americano diz-se que uma parte dos trabalhadores votou em Trump com a ideia de proteger seus postos de trabalho, seja isto ilusório ou não. Aqui na Alemanha poderia se verificar o contrário: uma corrida ao SPD, desde que este se mantenha mais próximo deste universo trabalhista.

De todo modo, pela primeira vez, o dobrar dos sinos de Berlim, comum ao entardecer, parecia estar sendo entoado pela chanceler Angela Merkel. Confirmado que seria por ela que os sinos dobram, isto equivaleria um terremoto elevado na escala Richter da política europeia.

 

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