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Netanyahu cospe na paz?

17-02-2017 - Leneide Duarte-Plon*

Com o apoio silencioso mas firme de Trump, os israelitas realizam subtilmente a anexação da Palestina (Cisjordânia e Jerusalém Leste).

Quando o fundamentalismo religioso, intolerante e dominador, tem como aliado o presidente Trump, Israel-Palestina se transforma num barril de pólvora.
 
O primeiro passo foi dado para atiçar a brasa, em nome de Deus e do direito eterno dos judeus sobre toda a terra que vai do Mediterrâneo ao rio Jordão, como querem os fundamentalistas.
 
Com a bênção do presidente americano, segundo confirmou em Londres Benjamin Netanyahou, a Knesset adotou dia 6 de fevereiro uma lei que permite ao Estado de Israel « declarar como terras israelitas os terrenos privados nos quais os judeus construíram na Cisjordânia ocupada casas sem autorização ».
 
Para a organização israelense « Paz Agora », «a lei fará dos cidadãos israelitas ladrões e tornar-se-á uma mancha nos livros de direito de Israel».
 
No jornal « Libération », a directora-adjunta da redação, Alexandra Schwartzbrod escreveu : « A política de colonização intensiva conduzida pelo primeiro-ministro israelita é cobarde e perigosa ». Nesse editorial publicado logo depois da aprovação da lei, Schwartzbrod qualificou-a como « uma espécie de roubo organizado e legalizado ». E desafiou : « Se Israel é um Estado democrático, deve declarar esse texto contrário às leis fundamentais do país ».
 
Depois de lembrar a resolução 2334 do Conselho de segurança que em 23 de dezembro de 2016 condenou a colonização, ela concluiu : «Não abandonemos o sonho de um Estado palestino ao lado do Estado israelita».  
 
A resolução 2334 pede que Israel « pare imediatamente e completamente toda atividade de colonização nos territórios palestinos ocupados, inclusive Jerusalém Leste, e que respeite suas obrigações legais nesse campo ».
 
A bomba prestes a explodir na região preocupa intelectuais, juristas e diplomatas franceses que assinaram no mesmo dia no «Libération» um manifesto intitulado «Israel-Palestina, a urgência de agir».  
 
O texto dizia que é a primeira vez que se autoriza por lei a apropriação de terras privadas. E concluía : « Devemos estar preparados para novas explosões de violência que correm o risco de agravar ainda mais a desestabilização da região com a abertura de novas frentes que não deixarão de ter graves consequências muito além do Oriente Médio ».
 
Colonização legalizada é anexação em curso
 
Com a nova lei, foi legitimada definitivamente a colonização dos territórios palestinos sem uma palavra de reprovação de Washington. A comunidade internacional se manifestou através de um relatório secreto dos cônsules europeus a Bruxelas.
 
Nessa terça-feira, 14 de fevereiro, o primeiro-ministro israelense será recebido por seu melhor amigo, Donald Trump. Desde a posse dele em 20 de janeiro, Israel já anunciou 5 novos projectos de colónias na Cisjordânia (que os fundamentalistas chamam de Judeia-Samaria) e em Jerusalém Leste, ambos territórios palestinos. Mas para os extremistas judeus como o deputado Bezalel Smotrich, espécie de porta-voz da colonização desenfreada que se pratica nos últimos anos, «o povo palestino não existe, foi inventado como reação ao movimento sionista». Num longo perfil dele feito pelo «Le Monde» descobre-se que o último argumento desse advogado de 36 anos é Deus.  
 
Como discutir com um arauto de Deus ?
 
A lei israelita ignorou solenemente a resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU votada dia 23 de dezembro – ainda sob o governo Obama.
 
O texto é histórico pois, devido ao veto sistemático de Washington, o Conselho não havia condenado a colonização israelita desde 1979 ! Mas nem mesmo essa resolução tão clara da ONU impediu que a Knesset legalizasse a apropriação das terras palestinas.
 
« A lei votada na Knesset abre potencialmente a anexão completa da Cisjordânia e boicota de maneira substancial a solução de dois Estados », declarou diplomaticamente Nikolai Miladenov, sugerindo que Israel se expõe a processo na Corte Penal Internacional.
 
De passagem por Paris, no dia seguinte à votação da lei, o presidente da Autoridade Palestina e da OLP, Mahmoud Abbas, declarou que Israel vai se apropriar de novas terras palestinas na Cisjordânnia. Ele pensa que as novas construções nas colónias que não param de surgir são «uma agressão ao povo palestino que vai se opor nas instâncias internacionais».
 
Sem evocar a menor intenção de anunciar sanções, Hollande disse diplomaticamente que «Israel e seu governo podem voltar atrás em relação à nova lei».
 
Hollande só não disse qual seria a varinha de condão que faria Israel revogar a lei.  
 
Confidencial
 
Um relatório confidencial dos cônsules europeus em Jerusalém e em Ramallah transmitido depois do voto da lei da Knesset esta semana a Bruxelas, diz que «a situação de Jerusalém nunca foi tão ameaçadora desde 1967». O texto foi enviado ao Comité Político e de Segurança do Serviço Europeu de Acção Externa – o ministério das relações exteriores da União Europeia.
 
« A expansão das colónias e a exclusão política, econômica, social dos palestinos, que não pára de se agravar, têm um impacto negativo sobre a situação em Jerusalém. A polarização e a violência crescente na cidade antiga ameaçando cada vez mais a viabilidade da solução de dois Estados, com Jerusalém como capital comum. E o nível das tensões pode se elevar em 2017, 50° aniversário da anexação da cidade, com os festejos que autoridades israelita preveem », escreveram os cônsules europeus em Jerusalém e em Ramallah.
 
2017 se anuncia quente no barril de pólvora do Oriente Médio.
 
P.S. David Friedman, o novo embaixador nomeado por Trump para Israel, é um advogado militante pela colonização da Cisjordânia. Ele chegou a presidir uma fundação que financia a colónia de Beit El, perto de Ramallah, bem como o site de informação Arutz Sheva, muito apreciado pela direita israelense. (Informações do jornal Le Monde).
 
*Leneide Duarte-Plon é autora de « A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil : Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado » (Editora Civilização Brasileira, 2016)».

 

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