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Benoît Hamon, candidato de um PS que faz sonhar

10-02-2017 - Leneide Duarte-Plon, de Paris*

Rendimento mínimo, desenvolvimento com respeito à ecologia, legalização da canabis são alguns dos pontos fortes do programa do candidato socialista francês.

Com esse slogan, Benoît Hamon, de 49 anos, foi a surpresa da primária que reuniu 7 políticos de uma aliança de esquerda para designar o candidato socialista à eleição de maio. «Une gauche de gauche», noticiou o «Libération» em primeira página nesta segunda-feira, 30, dando a vitória de Hamon no segundo turno.

Inteligente, claro, didático, Hamon enfrentou ontem o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, que defendeu um governo que pecou por suas contradições e suas tentações direitistas. Valls deixara o cargo para concorrer.

O mais difícil começa agora quando Benoît Hamon vai tentar reunificar o partido, divido entre duas concepções da esquerda («esquerdas irreconciliáveis», segundo uma frase de Valls). Muitos dos eleitores que votaram em Valls declararam que vão aderir à campanha de Emmanuel Macron, um outsider que está criando a surpresa e fazendo estragos no campo socialista.

A renda universal (revenu universel) foi provavelmente o assunto que ocupou mais espaço nos jornais no último mês. Ensaístas, cientistas políticos, economistas e políticos escreveram ensaios e artigos contra ou a favor do « rendimento universal » ou « rendimento mínimo de existência », direito de todo cidadão, independentemente da necessidade.

Com a vitória de Hamon, a renda universal promete estar no centro de todos os debates da campanha presidencial.

Frondeur

Benoît Hamon começou sua carreira política na juventude socialista do PS, foi próximo de Michel Rocard e de Martine Aubry. Durante o governo Hollande, foi secretário de Estado e depois ministro da Educação até se afastar, em 2014, por discordar da linha securitária e anti-social do governo.

O deputado pelas Yvelines é um dos «frondeurs» do Partido Socialista (adjetivo que vem da história da monarquia francesa e designava aristocratas rebeldes durante a menoridade de Louis XIV) por votar muitas vezes contra as posições do partido.

Juntamente com Arnaud Montebourg _ mais conhecido por ter sido o terceiro colocado nas primárias em que Hollande saiu vencedor, em 2011 _ Hamon criou uma imagem de «enfant terrible». Este ano, novamente em terceiro lugar, Montebourg declarou imediato apoio a Hamon.

O segundo turno da primária socialista foi um retrato do partido: de um lado Hamon defendendo um programa ousado, inovador, subversivo. Do outro, Manuel Valls, da ala direita, tentando defender as realizações do governo Hollande e dando pouca esperança de reais mudanças.

Seu programa era tão conformista e direitista que muitos de seus seguidores não vão fazer campanha pelo candidato vencedor da primária. Nos debates, Valls tentou estigmatizar o programa do adversário como irrealizável, pelo custo da renda mínima, calculada em muitos bilhões de euros.

Esse foi o item mais atacado no programa de Hamon, que conseguiu dar o tom da primária. Seus adversários tinham propostas em todos os campos mas foram unânimes em criticar o alto custo da renda mínima ou renda universal de existência.

Hamon, Macron, Mélenchon

Na eleição presidencial deste ano, os candidatos que se apresentam pela « esquerda » decidiram rimar. Pelo menos no nome, já que suas propostas em alguns pontos podem ser bastante distantes. E mesmo a filiação à esquerda, discutível.

Emmanuel Macron é de esquerda ?

Muitos jornalistas teimam em classificar à esquerda o ex-ministro da economia do governo Hollande-Valls, mesmo que ele próprio se defina como «ni de droite, ni de gauche».

Sem partido e sem programa, por enquanto, o jovem de 36 que nunca exerceu cargo eletivo, vem construindo sua campanha num movimento chamado « En Marche ! ». Como suas iniciais.

Na língua de Molière, os nomes dos três candidatos rimam com « désillusion », aquele gosto de desperdício e frustração deixado pelos cinco anos de governo do PS. Tanto melhor para Jean-Luc Mélenchon, ex-PS, criador do Parti de Gauche, crítico constante de Hollande e de seu governo.

Como ele, Benoît Hamon também denunciou durante os últimos dois anos a deriva direitista do governo Hollande.

PS na tormenta

Depois de dois governos de Jacques Chirac (1995-2007) e um de Sarkozy (2007-2012), François Hollande entusiasmou uma parte do eleitorado de esquerda na eleição de 2012. Muitos acreditavam, outros queriam crer, outros faziam parte do bloco « tudo menos Sarkozy ».

E Hollande, ex-secretário-geral do PS, um político íntegro mas sem carisma, ganhou um mandato. Depois, viria a «désillusion» do eleitorado de esquerda.

O presidente acaba seu quinquênio tão desgastado e com a popularidade tão baixa que não pôde se reapresentar como candidato à sua própria sucessão. Hollande excluiu a hipótese de uma candidatura para evitar a humilhação.

Agora, o Partido Socialista totalmente dividido entre suas alas esquerda e direita tem a chance de propor ao eleitorado um programa realmente de esquerda.

Resta a Hamon o trabalho de costura de alianças externas para garantir que tem chances de chegar ao segundo turno no qual uma presença já parece garantida: a de Marine Le Pen, do Front National, de ultra-direita.

* Leneide Duarte-Plon é autora de «A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil: Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado» (Editora Civilização Brasileira, 2016)».

 

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