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Franceses começam a definir quadro eleitoral deste ano

27-01-2017 - Flavio Aguiar, de Berlim

Fillon e Le Pen seguem sendo os favoritos para ir á segunda volta, mas a possível vitória de Hamon entre os socialistas serão factores novos a considerar.

Apesar do esforço titânico, brutal e embrutecedor de Donald Trump para se manter no centro das atenções e definir a pauta mundial, há outros aspectos que continuam em foco.

No domingo os eleitores socialistas começaram a dar contorno definitivo para a futura eleição presidencial em seu país, a se realizar no fim de abril (1* turno) e começo de maio (se houver segundo turno).

Compareceram 1,5 milhão de eleitores à novidade das primárias, no estilo norte-americano (embora na França realizadas de uma vez só, nacionalmente), uma participação considerada relativamente baixo. Na primeira volta das primárias do Partido Republicano, conservador, que ao fim definiu François Fillon, no segundo, como seu candidato, compareceram quase 4,3 milhões de eleitores. É verdade que muitos analistas apontaram que muitos destes eleitores eram, na verdade, do PS, interessados em definir Fillon como candidato por ser considerado o único capaz de derrotar Marine Le Pen numa segunda volta.

De qualquer modo, a escolha representou uma viragem à esquerda no PS francês. O mais votado foi Benoît Hamon, candidato de esquerda, com um programa considerado “irreal”, demasiadamente utópico, pela maioria de seus adversários. Com 36% dos votos, ele agora vai enfrentar o candidato da ala conservadora, Manuel Valls, que teve 31% da votação.

Hamon defende o estabelecimento de um programa de rendimento mínimo mensal, em primeiro lugar para jovens entre 18 e 25 anos, mas depois estendido a toda população, uma taxação extra sobre robotização nas empresas, além de bandeiras como o fim da hostilização de islâmicos e a descriminalização da maconha. Foi dos mais aguerridos opositores das proibições das “burkinis”, a vestimenta usada na praia pelas mulheres islâmicas, em vários balneários marítimos do país. Foi ministro da Educação do governo de François Hollande, mas deixou o posto em 2014 por discordar das políticas neo-liberais em vigor - sob a liderança do presidente e de seu atual opositor na disputa pela candidatura, Valls.

Valls procura se apresentar como um candidato “sério”, “responsável”, acusando Hamon de, caso ganhe a primária, inviabilizar a possibilidade do partido chegar á segunda volta. Esquece que um dos factores que levou o PS à posição débil em que se encontra foi sua viragem para a direita depois da eleição de Hollande, que se apresentou com um programa mais à esquerda e depois o abandonou. Isto fracturou o partido, enfraqueceu-o, retirou o apoio da esquerda sem conquistar novos espaços ao centro ou à direita. E ele, Valls, foi um dos responsáveis que levou Hollande a desistir de disputar a reeleição.

Arnaud Montebourg, que também foi ministro de Hollande (Renovação Industrial), tendo-se afastado pelas mesmas razões de Hamon, já definiu o seu apoio a este na segunda volta, Montebourg, que era o favorito da ala esquerda do PS, teve 17,3% dos votos. Se ele de facto conseguir transferir seus votos para Hamon este vencerá a fase decisiva da primária no próximo domingo.

A partir daí o quadro eleitoral estará definido. Além do vencedor socialista, de Fillon e Le Pen, estarão no páreo Emmanuel Macron (outro ex-ministro de Hollande), que se apresenta como independente, defendendo ideias liberais na economia mas mais progressistas em outros sectores, como na questão islâmica e na criação de empregos, Jean Luc Melenchon pelos partidos mais à esquerda e Yannick Jadot pelos Verdes.

Fillon e Le Pen seguem sendo os favoritos para ir para a segunda volta, mas o crescimento de Macron e a possível vitória de Hamon entre os socialistas serão factores novos a considerar, mostrando que o quadro está longe de estar definido.

Le Pen segue animada. No fim-de-semana participou de uma reunião de candidatos de extrema-direita europeus na cidade alemã de Koblenz. Além dela e de outros políticos, estavam presentes Geert Wilders, da Holanda (favorito para ver seu partido o mais votado nas eleições parlamentares de Março), Frauke Petry, do Alternative für Deutschland (cuja aspiração é entrar no Bundestag neste ano com pelo menos 14% dos votos) e Matteo Salvini, da Lega Nord italiana.

A candidata francesa disse em seu pronunciamento que 2016 foi o ano do Brexit e de Trump, mas que 2017 será o ano da Europa toda, conclamando os europeus a “acordarem”, definindo uma nova pauta nacionalista e patriótica.

Quanto a Hamon, mesmo que tenha poucas chances de chegar á segunda volta na futura eleição presidencial, uma escolha em seu favor sinalizaria a possibilidade do PS de reencontrar-se com suas raízes socialistas, saindo do destino turbulento da maioria dos partidos social-democratas da Europa que esqueceram o primeiro termo do binómio de origem.

 

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