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A Distracção da China com os DSE

14-10-2016 - Barry Eichengreen

No início de Outubro, a moeda da China, o renminbi, foi acrescentado ao cabaz de moedas que constituem os Direitos de Saque Especiais (ou DSE) do Fundo Monetário Internacional. Anteriormente, os DSE definiam-se como uma média ponderada entre o dólar, euro, libra Britânica e iene Japonês. Agora que o renminbi foi adicionado, já pode reivindicar ser uma das cinco moedas verdadeiramente globais.

Deveríamos interessar-nos? Os Chineses interessam-se. Em Beijing, onde estive no mês passado, a adesão ao exclusivo clube dos DSE era o assunto de que todos queriam falar. (Está bem, para dizer a verdade, também queriam falar de Donald Trump).

John Andrews views the country’s civil war in the context of the Middle East’s strategic disarray, assessing how Shlomo Ben-Ami, Christopher Hill, Anne-Marie Slaughter, and others think the outcome will reshape the region.

Ver o renminbi adicionado ao cabaz dos DSE era uma questão de orgulho nacional. Simbolizou a emergência da China como uma potência global. E vingou os esforços do governo para encorajar o uso do renminbi em transacções transfronteiriças, libertando a China e o resto do mundo da dependência excessiva do dólar.

Mas a realidade é que a adição do renminbi ao cabaz dos DSE tem pouca relevância prática. Os DSE não são uma moeda; são apenas a unidade em que as contas financeiras do FMI são expressas. Só uma pequena quantidade de títulos é expressa em DSE, porque os bancos e as empresas não consideram esta opção como sendo especialmente atraente. O principal emissor de títulos em DSE é a organização-irmã do FMI, o Banco Mundial (o próprio Fundo não está autorizado a emitir títulos).

A única implicação prática de adicionar o renminbi ao cabaz dos DSE é que agora se tornou uma das moedas que os países podem levantar, juntamente com as outras quatro moedas que constituem os DSE, quando contraem empréstimos junto do FMI. Só o tempo dirá quantos países pretenderão fazê-lo.

Os Chineses defendem que a inclusão do renminbi no cabaz dos DSE deveria ser vista num contexto mais lato. É apenas um de vários passos para encorajar a utilização do renminbi nas transacções internacionais.

Esta agenda inclui a negociação de acordos cambiais recíprocos, que ascendem agora a mais de duas dúzias, entre o Banco Popular da China (BPC) e bancos centrais estrangeiros. Também inclui a nomeação de uma instituição financeira que forneça serviços de compensação e de liquidação para transacções denominadas em renminbi nas principais praças financeiras (em Setembro, por exemplo, o Banco da China foi escolhido como o banco oficial para compensação em Nova Iorque). E as entidades estrangeiras estão a ser autorizadas a emitir títulos em renminbi na própria China. No fim de Agosto, a Polónia tornou-se o primeiro governo Europeu a fazê-lo.

Mas, mais uma vez, a realidade é que estes passos são mais simbólicos que substanciais. Os acordos cambiais do BPC em renminbi continuam quase totalmente não utilizados. Os bancos nomeados para a compensação não estão propriamente atolados em actividade. Os depósitos bancários offshore em renminbi estão a diminuir. A proporção das transacções de mercadorias da China liquidadas em renminbi tem decrescido desde meados de 2015. E não há sinais de que outros governos venham a seguir brevemente o caminho enveredado de forma tão ousada pelo governo Polaco.

Parafraseando Shakespeare, a culpa não está nas estrelas, mas sim nos mercados financeiros da China. Desde meados de 2015, o mercado bolsista do país tem sido uma montanha-russa. Todas as organizações internacionais dignas de nota, desde o FMI até ao Banco de Pagamentos Internacionais, fizeram avisos relativos aos problemas no mercado de obrigações de empresas. E se o incumprimento relativo a empréstimos a empresas for generalizado, como prevêem estas organizações, as implicações para os bancos poderão ser desastrosas.

O problema reside nas tácticas erradas do governo Chinês. O governo e o BPC acreditam que afrouxar os controlos de capital e permitir que o capital financeiro flua de forma mais livre para dentro e para fora do país forçará os participantes do mercado financeiro a subir a parada. As empresas terão de melhorar as suas normas contabilísticas, e os bancos as suas práticas de gestão de risco, para lidar com o ritmo mais acelerado de transacções financeiras. O resultado serão mercados financeiros com maior liquidez e estabilidade, o que por sua vez aumentará a atractividade do renminbi como unidade de conta, meio de pagamento, e reserva de valor tanto para residentes como para estrangeiros.

Infelizmente, pressupor um resultado não o efectiva. Se os bancos e empresas Chineses demonstram lentidão no ajustamento, a liberalização dos fluxos internacionais de capital só levará a volatilidade acrescida, menos depósitos offshore, e menos dependência do renminbi para liquidar transacções de mercadorias – precisamente o que tem acontecido recentemente.

Os responsáveis políticos Chineses devem agora pôr os bois à frente da carroça. O passo mais importante que podem tomar para promover a internacionalização do renminbi consiste em fortalecer os mercados financeiros nacionais, modernizar a regulamentação, e simplificar a execução contratual. Se a China quer transformar o renminbi numa moeda global de primeira ordem, deverá preocupar-se menos com as negociações de renminbi em Nova Iorque e com o peso da moeda no cabaz dos DSE, e mais com o desenvolvimento interno de mercados financeiros robustos, líquidos e estáveis.

Traduzido do inglês por António Chagas

Barry Eichengreen

Barry Eichengreen é professor de Economia na Universidade da Califórnia, Berkeley; Pitt Professor de História e Instituições da Universidade de Cambridge American; e ex-conselheiro sénior de políticas do Fundo Monetário Internacional. Seu último livro é Hall of Mirrors: A Grande Depressão, a grande recessão, e os usos - e abusos - de História.

 

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