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Trump, um dilema republicano

19-08-2016 - Deutsche Welle

Candidatos do partido ao Congresso estão entre a cruz e a espada quando se trata de lidar com o presidenciável.

Mais de 70 republicanos influentes assinaram na sexta-feira 12 uma carta pedindo para o seu partido a parar de financiar a campanha de Donald Trump, o candidato do Partido Republicano à presidência americana. No documento, eles afirmam que o dinheiro seria melhor gasto nas eleições legislativas, ajudando os candidatos do partido em disputas por vagas no Senado e na Câmara dos Representantes.

Na carta, eles justificam a medida apontando que as chances de Trump de ganhar a Presidência estão ficando cada vez mais escassas, conforme mostram as pesquisas, e que as tendências autoritárias do candidato vêm alienando milhões de eleitores.

Desde que Trump conquistou a indicação do partido à Presidência, suas posições têm colocado dezenas de republicanos numa corda bamba   e ameaçado suas candidaturas ao Congresso.

John McCain é provavelmente o melhor exemplo para ilustrar o efeito que Trump vem provocando entre os parlamentares republicanos que tentam à reeleição nesta temporada eleitoral, dominada pelas palhaçadas constantes do candidato do partido à Presidência.

Em novembro, os americanos não vão apenas eleger um novo presidente, mas também um terço do Senado e toda a Câmara dos Deputados. Ambas as casas são hoje dominadas pelos republicanos.

E McCain, um senador veterano do Arizona que esta entre os mais proeminentes parlamentares dos EUA, afirma que no momento está lutando a duras penas para se reeleger por causa de Trump.

Assim como muitos outros republicanos que tentam se reeleger, McCain está em uma "posição muito desconfortável", afirma Bruce Oppenheimer, um estudioso do Congresso na Universidade Vanderbilt.

Isso tudo porque McCain precisa se equilibrar entre os apoiantes de Trump, independentes e republicanos tradicionais nas primárias. Ele enfrenta ataques tanto de um desafiante interno de direita quanto de um candidato democrata de esquerda.

Parece uma situação em que ele só tem a perder. McCain, um ex-prisioneiro da Guerra do Vietnam que foi o candidato republicano à Presidência em 2008, anunciou relutantemente seu apoio a Trump em Maio. O apoio ocorreu mesmo após o magnata ter ridicularizado no ano passado o status de herói de guerra de McCain. Na ocasião, Trump disse que "preferia pessoas que não foram capturadas" no conflito. A provocação provocou indignação entre o público.

Embora McCain venha se esforçando para não falar contra Trump por medo de alienar seus eleitores no Arizona, o comportamento do candidato à Presidência muitas vezes vem forçando o senador a tomar uma posição contra ele.

Recentemente, após Trump ter insultado os pais de um soldado americano de fé islâmica que morreu em serviço, McCain, que tinha em jogo seu histórico militar e credibilidade, não teve escolha a não ser tomar posição contra Trump.

Isso, por sua vez, fez com Trump passasse a considerar publicamente a ideia de apoiar o rival de McCain nas primárias republicanas. Pressionado por seu partido, Trump acabou cedendo e anunciou apoio a McCain.

A retórica agressiva e o estilo de Trump não são as únicas coisas que vêm irritando muitos republicanos: o conteúdo das suas mensagens também contribui.

"Suas duas principais prioridades são comércio e imigração", afirma Steven Smith, um cientista político da Universidade de Washington em St. Louis. "E é justamente nessas questões que ele está forçando os republicanos a tomarem posições diferentes daquelas que eles tiveram no passado. Para os republicanos isso vai ser um problema muito sério."

Os republicanos defenderam o livre-comércio nas últimas décadas de uma maneira ainda mais forte do que os democratas. "E agora temos um possível presidente Trump que diz que vai tentar desmantelar acordos de livre-comércio e iniciar negociações para impor novos", diz Smith. Para muitos republicanos no Congresso, se render às ideias de Trump requer reverter suas posições passadas, algo pessoalmente doloroso e politicamente perigoso.

Em matéria de imigração, Trump também tem pressionado seu partido da mesma forma. Embora seja verdade que muitos republicanos conservadores têm pedido há bastante tempo por uma postura muito mais dura contra imigrantes ilegais, muitos republicanos tradicionais são a favor de uma reforma migratória, incluindo a instituição de mecanismos para facilitar a naturalização de ilegais.

Como resultado, o partido tem ficado profundamente dividido sobre a questão. Assim como no tema do livre comércio, a falta de concessões de Trump - com seus comentários depreciativos sobre os mexicanos e sua promessa de construir um muro - tem incentivado o distanciamento de forças republicanas e obrigado parlamentares do partido a escolher um lado.

"Todos esses problemas podem vir a se tornar menos graves se Trump não só perder, mas perder feio nas eleições presidenciais", disse Smith. "Os republicanos, obviamente, terão que se preocupar sobre o que fazer em relação à presidência no futuro, mas para eles será muito mais fácil de lidar com estas questões sem precisar confrontar um presidente do seu próprio partido que defende esses valores republicanos não tradicionais."

Além de se estranhar com o seu candidato, que está atrás da rival democrata Hillary Clinton na maioria das pesquisas, muitos republicanos no Congresso estão evitando se expor.

"Ele tem pouco apoio no Congresso. Ele definitivamente não é o candidato das pessoas que estão no Congresso", disse Michele Swers, professora de governança da Universidade de Georgetown. Muitos candidatos estão procurando uma solução intermediária: eles endossam o candidato do partido, mas não apoiam especificamente a pessoa Donald Trump e suas opiniões.

Muitos parlamentares republicanos estão evitando Trump, e isso é especialmente evidente nos eventos de campanha. Normalmente, candidatos ao Congresso costumam gostar de fazer campanha para o presidenciável do seu partido e têm esperança de que ele apareça em seus estados. Não é assim com Trump.

"Quando ele aparece em algum estado, os candidatos locais sempre dizem que têm outras coisas a fazer", disse Swers. "Por exemplo, quando Trump estava em campanha em Wisconsin, o presidente da Câmara, Paul Ryan, não participou. Esses candidatos estão tentando demarcar alguma linha entre eles e Trump."

Mike Coffman, no entanto, um republicano que é candidato à reeleição em um distrito disputado do Colorado que inclui um considerável eleitorado latino-americano, escolheu um caminho diferente. Recentemente, ele tomou publicamente posição contra Trump. "Eu não ligo muito para ele" e "se Donald Trump for o presidente, vou enfrentá-lo", disse em um anúncio online.

Ainda que a maioria republicana na Câmara (247 deputados contra 188 democratas) seja confortável e possível de se manter nas eleições de novembro, a oposição aberta de Coffman contra Trump mostra que "os republicanos também estão ficando cada vez mais nervosos em relação às eleições legislativas", disse Oppenheimer.

O Senado, onde os republicanos detêm apenas uma pequena maioria (54-46), é geralmente considerado muito mais vulnerável a uma tomada pelos democratas, que esperam ganhar nestas eleições pelo menos duas ou três cadeiras.

E um candidato republicano à Presidência que foge do script e cujas extravagâncias desviam constantemente a atenção em outras disputas tem dificultado ainda mais a vida dos candidatos, que já esperavam uma eleição difícil.

"Existe bastante preocupação entre os republicanos de que a posição de Trump nas pesquisas vai contaminar os candidatos republicanos ao Congresso", diz Smith. Nas disputas pelo Senado, "qualquer coisa pode acabar sendo decisiva", acrescenta Oppenheimer.

Caso a queda de Trump nas pesquisas continue, será apenas uma questão de tempo para que os republicanos se distanciem ainda mais do seu candidato, diz Oppenheimer:

"Uma coisa que você provavelmente vai ver mais serão candidatos republicanos ao Senado e à Câmara e organizações partidárias argumentando que Hillary vai ganhar a presidência e que a sigla tem que se esforçar para impedir que os democratas também ganhem a Câmara e o Senado."

 

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