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Por quê o Brexit?

05-08-2016 - Delfim Netto

Depois de perderem as suas moedas, os países sentem que estão numa camisa de força equivalente à do padrão-ouro.

O Brexit, a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia, foi, em larga medida, consequência da decisão de um líder medíocre e inseguro. Encerra duas lições políticas de grande importância. A primeira é que decisões oportunistas no curto prazo costumam gerar consequências desastrosas no longo prazo.

A vitória do Partido Conservador, chefiado por David Cameron, em janeiro de 2013, foi obtida com o apoio de poderosas forças que já lutavam para a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia. Para cooptá-las, Cameron fez uma promessa imprudente: se reeleito, proporia um referendo para atendê-las.

A segunda lição é que, nos sistemas democráticos, decisões de amplo espectro não devem ser sujeitas à vontade de maiorias eventuais. Precisam ser confirmadas por maiorias estáveis e significativas, por exemplo dois terços dos eleitores, ou dois escrutínios majoritários separados por um tempo razoável em que novos esclarecimentos permitam o “arrependimento”.

Não é nossa intenção discutir neste “suelto” as vantagens políticas da Comunidade Europeia, que elas saltam aos olhos, ou os problemas econômicos que ela esconde por não se assumir como uma verdadeira federação.

Há uma crescente desilusão europeia com a promessa de que a política monetária do seu Banco Central, coordenada com as dos bancos centrais e as políticas fiscais dos países membros, produziria mais crescimento, mais emprego e mais igualdade, além de um claro movimento de convergência de renda.

Isso é impossível sem a criação de uma verdadeira integração política. Depois de perderem as suas moedas, os países agora sentem que foram metidos em uma camisa de força equivalente à do padrão-ouro, que terminou, mas não por falta de ouro.

É claro que, desde o início dos anos 1960 do século passado, todos conhecem a “trindade impossível” (Fleming-Mundell), ou seja, que não é possível ter, ao mesmo tempo, uma política monetária autônoma, mobilidade de capitais e uma taxa de câmbio fixa.

A competente Hélène Rey (Dilema Not a Trilema, 2013) simplificou. Demonstrou com clareza que uma política monetária independente, voltada para o interesse nacional, não pode ser exercida sem uma intervenção direta ou indireta na liberdade de movimento de capitais.

O mal-estar crescente dos membros da Comunidade é visível nas pesquisas sistemáticas de opinião feitas regularmente pelo PewResearch. A tabela abaixo revela a resposta à pergunta “Sua opinião é favorável à Comunidade Europeia?”, feita a cada primavera desde 2004, em porcentagem.

O que realmente nos interessa é como esse intrigante experimento crítico, o Brexit, rejeitará uma das duas escolas de economistas, a que lhe deu suporte, comandada pelo professor Patrick Minford, ou a dos que a condenaram, retratadas nas expectativas de crescimento do Reino Unido reveladas no gráfico abaixo.

No passado, Minford desmoralizou um “manifesto” de 300 economistas liberais que afirmavam que a política económica de Margaret Thatcher seria um fracasso! Lá, como hoje, as recomendações de cada economista dependem muito de sua ideologia.

Minford não se limitou a recomendar o Exit. Propôs ao Reino Unido, com hipóteses extravagantes diante dos mais recentes avanços da teoria, eliminar, unilateralmente, todo o sistema de tarifas de importação.

Outro importante economista a favor do Brexit é o editor do jornal The Telegraph, Ambrose Evans-Pritchard, mas por motivos completamente diferentes. Ele nos diz: “Trata-se de decidir se vamos restabelecer nosso próprio governo ou continuar a viver sob um regime supranacional, dirigido pelo Conselho Europeu, que, sob qualquer sentido, não elegemos e que nunca poderemos remover, mesmo quando persiste no erro” (13/6/2016).

 

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