A Escalada Nuclear na Europa
22-04-2016 - Manlio Dinucci
A Casa Branca está «preocupada» porque caças russos sobrevoaram de perto um navio norte-americano no Mar Báltico. Assim informam as agências noticiosas. Sem dizer, entretanto, de que navio se trata e por que estava no Mar Báltico.
Trata-se do USS Donald Cook, um dos navios dentre as quatro unidades lança-mísseis deslocados pela Marinha dos EUA para a «defesa de mísseis da NATO à Europa». Essas unidades, que serão aumentadas, são dotadas de radar Aegis e de mísseis interceptadores SM-3, mas ao mesmo tempo de mísseis de cruzeiro Tomahawk de dupla capacidade convencional e nuclear. Em outros termos, são unidades de ataque nuclear, dotadas de um «escudo» destinado a neutralizar a resposta inimiga.
O Donald Cook, partindo em 11 de abril do porto polaco de Gdynia, cruzou por dois dias a apenas 70 quilómetros da base naval russa de Kaliningrado, e por essa razão foi sobrevoado pelos caças e helicópteros russos. Além dos navios lança-mísseis, o «escudo» EUA/NATO na Europa inclui, na sua conformação actual, um radar «na base avançada» da Turquia, uma bateria de mísseis terrestres norte-americano na Roménia, composta de 24 mísseis SM-3, e uma outra análoga que será instalada na Polónia.
Moscovo adverte: essas baterias terrestres, tendo capacidade de lançar também mísseis nucleares Tomahawk, constituem uma evidente violação do Tratado INF, que proíbe o deslocamento para a Europa de mísseis nucleares de médio porte.
Que fariam os Estados Unidos – que acusam a Rússia de provocar com os sobrevoos «uma escalada inútil de tensões» – se a Rússia enviasse unidades lança-mísseis ao longo das costas norte-americano e instalasse baterias de mísseis em Cuba e no México?
Ninguém pergunta sobre isso na grande mídia, que continua a mistificar a realidade. Última novidade escondida: a transferência de F-22 Raptors, os mais avançados dos caças-bombardeiros norte-americanos de ataque nuclear, da base de Tyndall na Flórida à de Lakenheath na Inglaterra, anunciada em 11 de abril pelo Comando europeu dos Estados Unidos. Da Inglaterra os F-22 Raptors serão «deslocados para outras bases da NATO, em posição avançada para maximizar as possibilidades de treino e exercer uma dissuasão em face de qualquer acção que desestabilize a segurança europeia».
Trata-se da preparação para o iminente deslocamento para a Europa, incluindo a Itália, das novas bombas nucleares norte-americanas B61-12 que, lançadas a cerca de 100 quilómetros de distância, atingem o objetivo com uma ogiva «de quatro opções de potência selecionáveis». Esta nova arma entra no programa de potencialização das forças nucleares, lançado pela administração Obama, que prevê entre outras coisas a construção de 12 submarinos de ataque suplementares (7 biliões de dólares a unidade, estando o primeiro já em estaleiro de obras), cada um armado com 200 ogivas nucleares.
O New York Times informa (17 de abril) que está em curso o desenvolvimento de um novo tipo de ogiva nuclear, o «veículo flutuante hipersónico» que, ao retornar a atmosfera, manobra para evitar os mísseis interceptadores, dirigindo-se para o objetivo a mais de 27 mil quilómetros por hora. A Rússia e a China seguem, desenvolvendo armas análogas.
Durante esse tempo, Washington colhe os frutos. Transformando a Europa em primeira linha do confronto nuclear, sabota (com a ajuda dos próprios governos europeus) as relações económicas entre a União Europeia (UE) e a Rússia, com o objetivo de ligar indissoluvelmente a UE aos EUA por intermédio do TIP. Impulsiona ao mesmo tempo os aliados europeus a aumentar a despesa militar, para lucro das indústrias bélicas norte-americanas cujas exportações aumentaram 60% nos últimos cinco anos, tornando-se o mais forte sector das exportações norte-americanas.
Quem disse que a guerra não paga ?
Manlio Dinucci
Tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência
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