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Manlio Dinucci: Quem nos ameaça realmente?

25-03-2016 - Manlio Dinucci*

Como se faz para justificar a guerra se não existe um inimigo que nos ameaça? Simples, basta inventá-lo ou fabricá-lo. É o que ensina o general Philip Breedlove, o chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos que está para passar a outro general norte-americano o bastão do Comando Supremo na Europa.

Na sua última audiência no Pentágono, ele adverte que “ao Leste, a Europa tem diante de si uma Rússia que ressurge e é agressiva, a qual representa uma ameaça existencial a longo prazo”.

Ele modifica assim a realidade: a nova guerra fria na Europa, contrária aos interesses da Rússia, foi provocada com o golpe da Praça Maidan, pela estratégia dos Estados Unidos e da NATO, que continua a alimentar as tensões para justificar o crescente deslocamento de forças para a Europa oriental.

Na Ucrânia, foi constituído um comando conjunto multinacional para o treino “até 2020” das forças armadas e dos batalhões neo-nazis da Guarda Nacional, de que se ocupam centenas de instrutores da 173ª Divisão dos EUA transferidos de Vicenza, acompanhados por britânicos e canadianos.

O Comando Europeu dos Estados Unidos, sublinha Breedlove, trabalha com os aliados para “contrapor-se à Rússia e preparar-se para o conflito, se necessário”.

Ao Sul, adverte o comandante supremo aliado na Europa, “a Europa tem diante de si o desafio da migração em massa provocada pelo colapso e a instabilidade de Estados inteiros, e pelo Isis, que se espalha como um cancro ameaçando as nações europeias”. Sustenta, assim, que “a intervenção da Rússia na Síria complicou o problema, pois fez pouco para se contrapor ao Isis e muito para apoiar o regime de Assad”.

Modifica novamente a realidade: foram os EUA e a NATO que provocaram com a guerra o colapso do Estado líbio e a instabilidade do sírio, e a consequente migração em massa, favorecendo a formação do Isis, funcional a sua estratégia, que fingiram combater, enquanto a intervenção russa na Síria tem o apoio das forças do governo e golpeou duramente o Isis, fazendo-o retroceder.

Agora que a Rússia, uma vez conseguido o primeiro objectivo, redimensiona o seu engajamento na Síria, a NATO, sob o comando norte-americano, aumenta a sua presença militar no Oriente Médio.

Em 29 de Fevereiro, o secretário-geral da NATO, Stoltenberg, assinou com o Kuwait um acordo que permite criar a primeira escala aeroportuária da Aliança Atlântica no Golfo, seja para a guerra no Afeganistão, seja para a “cooperação da NATO com o Kuwait e outros parceiros”, sobretudo a Arábia Saudita apoiada pelo Pentágono na guerra que acarreta massacres de civis no Iémen.

Em 2 de Março, em Abu Dabi, Stolternberg reforçou a “cooperação com os Emirados Árabes Unidos para enfrentar desafios comuns à segurança”.

Em 1º de Março, ele recebeu em Bruxelas o rei Abdullah II, para fortalecer a “parceria da NATO com a Jordânia”.

Em 18 de Março, recebeu Al Zayani, secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Catar), para “aprofundar a cooperação entre as duas organizações”.

Na África – enquanto se prepara a operação que, com o pretexto de libertá-la do Isis, visa a ocupar a região da Líbia económica e estrategicamente mais importante – está em curso do Senegal ao Golfo da Guiné o exercício Obangame/Saharan Express, de que participam com finalidades de “antiterrorismo e antipirataria”, forças navais dos EUA, da Europa, África e até do Brasil. Dirigido pelo quartel-general de Nápoles das U.S. Naval Forces Europe-Africa, cuja missão é “promover os interesses nacionais dos Estados Unidos, a segurança e a estabilidade na Europa e na África”.

*Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo.

Fonte: Il Manifesto

Tradução de José Reinaldo Carvalho

 

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