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Grécia divide políticos e intelectuais franceses

10-07-2015 - Leneide Duarte-Plon*, de Paris

Edgar Morin diz que “a barbárie económica que estrangula a Grécia tem por objectivo estrangular o partido Syriza que a governa”.

A crise grega é um verdadeiro revelador dos caminhos tortuosos que a Europa tomou ao optar por políticas de austeridade, criticadas por François Hollande durante a campanha, mas avalizadas por ele desde que recebeu o mandato popular em Maio de 2012.

Thomas Piketty, o jovem economista francês que se tornou um best-seller planetário com seu livro «O capital no século XXI», criticou há poucos dias no jornal inglês Financial Times, a posição de Hollande :

«O presidente descumpriu sua promessa de mudar a postura de austeridade predominante na Europa. Isso o torna tão responsável quanto a chanceler alemã Ângela Merkel pelos problemas da zona do euro».

Sem surpresas, os políticos de esquerda, tendo à frente Jean-Luc Mélenchon e Pierre Laurent (do Parti de Gauche e do Parti Communiste, que formam a Front de Gauche) apoiaram a campanha grega pelo «não». Fizeram manifestação em Paris para defender o «não» e reuniram milhares de militantes na Place de la République assim que a vitória foi confirmada no domingo à noite.

Sem meias palavras, o filósofo e sociólogo Edgar Morin pensa que «a barbárie económica que estrangula a Grécia tem por objectivo estrangular o partido Syriza que a governa».

O cineasta franco-grego Costantin Costa-Gavras, citado pelo jornal L’Humanité, defende o primeiro-ministro Tsipras, «que faz o que muitos homens políticos não fazem: é coerente com suas promessas pois implantou uma linha política para mudar profundamente o país, o que é absolutamente necessário. Chegou a um impasse e foi consultar o povo. O que é mais democrático que consultar o povo?»

Direita prega política de austeridade

Sem surpresa, os políticos de direita apontaram erros e até mesmo «irresponsabilidade «da parte de Tsipras, como Nicolas Sarkozy, em entrevista de duas páginas no Le Monde, às vésperas do plebiscito grego. Mesmo os menos radicais como o ex-ministro e ex-primeiro-ministro Alain Juppé, candidato declarado à primária do partido de Sarkozy, Les Républicains (ex-UMP), entende que «a Grécia deve sair da zona euro por não querer se curvar às políticas europeias».

A esquerda socialista, cada vez menos à esquerda, põe panos quentes e utiliza uma linguagem diplomática para não se afastar da política de François Hollande, mais próximo da troika que do povo grego.

Seria ingénuo esperar que os socialistas franceses, cada vez menos socialistas, iriam tomar o partido do povo grego ou da consulta democrática decidida pelo primeiro-ministro Tsipras. Faz algum tempo que os eleitores de esquerda deixaram de ter qualquer ilusão com os socialistas. Tanto no plano interno quanto na política externa, o governo Hollande não pára de decepcionar quem votou no PS para ver o país governado por políticas verdadeiramente socialistas.

O incómodo Varoufakis

Com a demissão do ministro da Economia grego, que irritava os engravatados senhores da troika e seus interlocutores de Bruxelas com sua linguagem franca, veremos se os negociadores europeus da dívida grega entenderão que ela é absurda.

O super diplomado e descontraído ex-ministro da Economia, formado na Inglaterra, que se desloca de mota e se define como um «economista marxista». Foi em camisa que ele se apresentou para votar domingo e foi pelo twitter que anunciou ter deixado o governo. Sua saída foi uma maneira inteligente de permitir a Alexis Tripras continuar as negociações com Bruxelas sem sua presença, que irritava alguns membros do Eurogrupo, como ele mesmo admitiu.

Piketty não poupa críticas a Hollande:

“Substituímos Merkozy por Merkollande. A Europa está escolhendo a rota errada, o caminho da penitência eterna. Seria uma catástrofe forçar a Grécia a sair da zona euro. O mais irónico é que a austeridade esteja sendo imposta à endividada Grécia por dois países, Alemanha e França, que se beneficiaram do perdão da dívida após a Segunda Guerra, o que permitiu 30 anos de crescimento no continente.

Há uma espécie de amnésia colectiva pois se esquecem que esse cancelamento permitiu que os dois países investissem em educação, inovação e infra-estrutura pública. Agora, esses mesmos países dizem à Grécia que terá de pagar 4% de seu PIB durante 30 anos. Quem pode acreditar nisso?»

Piketty não poupa a francesa Christine Lagarde, dirigente do FMI.

“O papel do FMI nas negociações gregas é uma catástrofe.”

Apesar da abertura e da pluralidade real da imprensa francesa, tem-se a impressão que a grande imprensa está mais preocupada em defender os credores da Grécia que o povo que nos legou a filosofia, a república, democracia, a tragédia, além de milhares de palavras que enriquecem todas as línguas do Ocidente, mesmo as que não saíram do latim. A começar pelo nome do continente cujo destino está em jogo com a crise grega.

O filósofo marxista Etienne Balibar, como seu colega Edgar Morin, aponta o absurdo que é esperar o pagamento de uma dívida que já «causou uma catástrofe humanitária na Grécia». Ele defende o primeiro-ministro Alexis Tsipras que “realiza um combate para salvar seu país”, apesar de Madame Lagarde ver nele e no seu ministro da Economia negociadores nada conformes ao padrão ideal. Ela chegou mesmo a desejar negociar com pessoas que se comportassem «como adultos».

Para Etienne Balibar, a saída da Grécia da União Europeia significa a morte do projecto europeu e nesse sentido, tentando permanecer na Europa, «o governo grego defende o interesse de todos nós europeus».

(*) Leneide Duarte-Plon é jornalista, trabalha em Paris e é co-autora, com Clarisse Meireles, da biografia de frei Tito de Alencar, Um homem torturado - Nos passos de frei Tito de Alencar.

 

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