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Japão: de volta ao militarismo

19-06-2015 - La Jornada

Os sucessivos governos vêm tentando reconstruir lentamente a indústria militar, até fazer do Japão um dos países com maior orçamento militar do mundo.

As manifestações de pacifistas efetuadas ontem em Tóquio são um episódio a mais no conflito iniciado há anos no Japão, devido aos programas militaristas do primeiro-ministro Shintzo Abe, que não só incrementou de forma estratosférica o orçamento da defensa, mas também pretende justificar a realização de operações bélicas ofensivas fora do território de seu país. Semanas atrás, em Okinawa, milhares saíram às ruas em Okinawa para expressar seu descontentamento com a instalação de novas bases militares norte-americanas na ilha.

Desde 1947 a constituição japonesa estabelece que as forças armadas do país devem ter um estrito carácter de autodefesa, e proíbe realizar operações em outras nações, baseada no princípio de que “o povo japonês renuncia à guerra como direito soberano da nação e ao uso de ameaças ou da força bélica como meio de solução de disputas internacionais”.

Tal estatuto é consequência da catastrófica derrota sofrida pelo império japonês na Segunda Guerra Mundial – vale recordar que a nação asiática é a única no mundo que já experimentou um bombardeio atómico – e que, nos 70 anos que se passaram desde então, o antimilitarismo se transformou num dos consensos mais consistentes da sua sociedade.

Entretanto, os sucessivos governos vêm tentando reconstruir lentamente a indústria militar, através da compra de novos equipamentos bélicos, até fazer do Japão um dos países com maior orçamento militar do mundo.

As autoridades alegam que devem se preparar de alguma forma para as supostas ameaças representadas pela China e pela Coreia do Norte, argumento pouco sólido, considerando que o Japão, assim como a Coreia do Sul, se encontra sob a inquestionável proteção do guarda-chuvas militar norte-americano e que Washington não toleraria um ataque contra o arquipélago.

As verdadeiras razões do rearmamento e do crescente militarismo japonês estão em outra parte. Por um lado, os grandes capitais do país asiático, um gigante industrial e financeiro, desejam participar ativamente no mercado global de armas e equipamentos militares, no qual participam os mais importantes capitais dos Estados Unidos e da Europa. E assim como acontece com os norte-americanos, os franceses, os suecos e os britânicos, as exportações de armamento requerem que os equipamentos a vender sejam comprados, em primeiro lugar, pelos governos das nações nas que se originam.

Além disso, Washington vem impulsionando o novo estímulo militar japonês desde o 11 de setembro de 2001, não só para fazer do Japão uma espécie de mecanismo de contenção regional a favor do Ocidente contra China e Rússia, mas também para somar um novo apoio para as aventuras bélicas neocolonialista empreendidas pela Casa Branca após os atentados contra as Torres Gémeas e o Pentágono. Com o envio de tropas japonesas ao Iraque, em 2003, Washington e seus aliados de Tóquio criaram um precedente que, hoje, poderia se tornar uma situação legal e habitual.

Contudo, parece pouco provável, a esta altura, a nação japonesa prefira regredir até a forma de um império militarista e expansionista tão cruel e atroz como o que foi derrotado há sete décadas atrás. Mas as corridas armamentistas, os processos de conformação de poderio bélico e o que Dwight Eisenhower chamava de “complexo industrial-militar” tendem a imprimir sua própria dinâmica ao conjunto das economias e das sociedades – e tal curso desemboca, invariavelmente, na guerra. É questão de esperar para ver se a sociedade japonesa será capaz de conter o seu governo e de impedir, a partir da opinião pública, que o país oriental seja envolvido por um novo conflito bélico.

 

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