Edição online quinzenal
 
Sábado 13 de Setembro de 2025  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Barcelona, epicentro da mudança

29-05-2015 - Esther Vivas

Passaram quatro anos desde que nas praças se gritou: "não nos representam". Hoje, uma nova palavra de ordem se impõe na Espanha: "sim, representam-nos".

Esse “sim, podemos” que durante meses ecoou nas praças e ruas após uma inesquecível Primavera Indignada de 2011 chega agora como um terramoto às instituições, algo inimaginável então. A vitória em Barcelona, com Ada Colau à frente, fez saltar pelos ares o tabuleiro político.

Se durante muito tempo tivemos que ouvir tertulianos de diferente índole acusar o 15M de radical, anti-sistémico e “excêntrico”, dizendo que “se quereis fazer política formai um partido”, como se a política se limitasse a fazer política partidária, sem entender ou não querer entender absolutamente nada do que significou esse “levantamento popular” indignado; agora, os piores pesadelos do establishment tornaram-se realidade. O discurso contra-hegemónico levantado naquele momento em múltiplas praças, capaz de desenhar um novo imaginário coletivo, que mostrou sem rodeios o vínculo entre crise económica e sequestro político e que conectou, como nunca acontecera antes, com uma maioria social golpeada por três longos anos de cortes, assalta hoje as instituições, transbordando os limites do possível que nos tinham imposto.

Não se tratava, como diziam alguns “tudólogos”, de uniformizar a heterogeneidade do movimento num partido único, e fazer mais do mesmo, senão de levantar novos instrumentos políticos, metodologias, confluências, processos que permitissem transladar essa indignação da rua às instituições. Converter a maioria social açoitada pela crise em maioria política. Sem esquecer que todo o processo de mudança real virá da tomada de consciência coletiva, a auto-organização popular e a mobilização sustentada. Em síntese, ocupar as instituições, como antes se tinham ocupado as praças, para as pôr ao serviço dos “zé-ninguém”. E isso é o que se fez agora.

A eclosão fulgurante do Podemos há um ano atrás, em maio do 2014, obtendo inesperadamente nas eleições europeias 1,2 milhão de votos e 5 eurodeputados, foi o melhor exemplo. Um caminho proposto anteriormente, em abril de 2013, pelo Processo constituinte na Catalunha, impulsionado pela freira beneditina Teresa Forcades e o economista Arcadi Oliveres, apelando a construir desde baixo uma nova maioria político-social. Uma aposta que as chapas do Podemos em Barcelona e Madrid, apesar de este último não ganhar por pouco, têm materializado como ninguém nestas eleições. Uma experiência que se estendeu a numerosos municípios e comunidades, com a emergência de novas forças políticas, resultado da confluência social, capazes de chegar aos setores mais golpeados, que se mobilizaram e votaram nesta ocasião.

Os resultados desta disputa eleitoral rompem os esquemas da política tal como a conhecíamos desde a transição. Já não estão apenas dois em jogo. E a entrada dos “sem voz”, dos precários, os desalojados, os desempregados... ou seja, dos “outsiders”, à frente da câmara de Barcelona demonstra que se pode ganhar e que tudo é possível. É o momento de levar à prática esse famoso lema de "mandar obedecendo". Mas o caminho da mudança em maiúsculas não será fácil. A pressão do establishment, desde os seus lobbies económicos à sua maquinaria mediática, não se fará esperar. Os obstáculos e as desqualificações, certamente, serão múltiplos. A responsabilidade, bem como a oportunidade, são enormes.

Vivemos um momento histórico. Passaram quatro anos desde que nas praças se gritou: “Não nos representam”. Depois do terramoto político destas eleições uma nova palavra de ordem impõe-se: “Sim, representam-nos”. Na Catalunha, as eleições para o Parlamento são o próximo assalto. Em Madrid, o Congresso dos Deputados que se prepare. Como dizia Ada Colau nesta histórica noite eleitoral: "Isto é uma revolução imparável".

__________

Esther Vivas é investigadora de movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares. Licenciada em jornalismo e mestre em sociologia, milita no Anticapitalistas espanhol, tendência interna do Podemos.

Fonte: Publico.es

 

Voltar 


Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome