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Jornalistas francesas vítimas de machismo

15-05-2015 - Leneide Duarte-Plon, de Paris

Jornalistas publicaram um manifesto onde relataram casos de políticos machistas, que fazem desde piadas e elogios a convites e insinuações.

A denúncia de 40 jornalistas francesas em forma de manifesto revela que mesmo numa democracia madura e altamente politizada as mulheres têm que se proteger do assédio dos homens que vivem no universo da política.

Na terça-feira, 5 de Maio, 40 jornalistas que cobrem política publicaram no jornal Libération o manifesto intitulado «Bas les pattes» (Tirem as mãos) no qual relataram casos de um machismo anacrónico que vai de piadas e elogios a convites e insinuações. As jornalistas mais jovens ou que exercem a profissão em carácter precário não tiveram coragem de assinar o próprio nome. Mas as mais experientes não somente assinaram como deram longas entrevistas em programas políticos de rádio e TV a fim de denunciar «o machismo de que são vítimas no exercício da profissão».

Elas cobrem o mundo político numa das cidades mais civilizadas da Europa mas vivem no quotidiano o machismo ordinário, que no imaginário colectivo é característico dos países latino-americanos. No convívio com «eleitos do povo», ministros ou seus assessores, as jornalistas vivem situações que envergonhariam os eleitores de muitos deles.

Uma «informação» em troca de um «aperitivo», observações quanto a um decote que insinua apenas um colo ou elogios à elegância ou às belas pernas de moças que cobrem os trabalhos parlamentares são constrangimentos a que se viam expostas diversas profissionais. Até descobrir em conversas entre colegas que era um comportamento recorrente. Reunidas, resolveram dizer «basta». Libération fez uma manchete de primeira página sem fotos, com o peso no título e no inusitado da denúncia do manifesto.

«Pensávamos que o caso Dominique Strauss-Kahn tinha ocasionado mudanças e que as atitudes machistas, símbolo de um atraso na cidadania e na política estavam em vias de extinção. Nada disso», diz o texto.

Quanto ao nome de políticos que ultrapassam a linha vermelha, as jornalistas preferiram calar. Queriam denunciar práticas inaceitáveis e não as pessoas que as praticam, estigmatizando-as. Das 40 jornalistas que se dizem vítimas de machismo, somente 16 assinaram seus nomes e o nome da media para a qual trabalham. As outras se recusaram a assinar para não ser prejudicadas nas próprias redacções, o que mostra que a luta anti-machismo não é uma unanimidade.

Histórias de amor entre políticos e jornalistas

Os excessos e os constrangimentos devem diminuir com a denúncia da prática de assédio. Mas histórias de amor entre políticos e jornalistas vão sempre existir. O próprio Dominique Strauss-Kahn foi casado muitos anos com a jornalista Anne Sinclair até o fatídico acontecimento do Sofitel de Nova York, em 2011. François Hollande separou-se de Ségolène Royal - com quem nunca foi casado - depois de conhecer Valérie Trierweiler, jornalista de Paris Match. A relação durou até o ano passado, quando a França e o mundo descobriram estupefactos que por baixo da aparente falta de atractivos físicos de Hollande se esconde um Don Juan.

A sociedade francesa percorreu um longo caminho para chegar ao século XXI com garantias de direitos e liberdades iguais para os dois sexos. Apesar disso, na Câmara dos Deputados (Assemblée Legislative), apenas 27% dos eleitos são mulheres. Não é ainda o ideal mas é um grande progresso quando se sabe que até 1944 as mulheres francesas não podiam sequer votar, muito menos eleger outras mulheres para a Câmara ou o Senado. Mas falta ainda eleger uma mulher para a presidência da República, como o Brasil, o Chile ou a Argentina já fizeram.

Parece difícil de conceber hoje, mas até 1965 as francesas não podiam ter uma conta bancária. E mais, não podiam exercer uma actividade profissional sem o consentimento do marido.

Maio de 68 serviu para sacudir o conservadorismo da França em diversos campos. Graças ao movimento feminista que preconizava «mon corps m’appartient», em 1975 as francesas se tornaram totalmente donas de seus corpos: a lei Simone Veil, ministra da Saúde, garantiu às mulheres o direito de decidir se querem ou não levar a termo uma gravidez. As que não podem ou não querem ter um filho têm a total liberdade de fazer um IVG (Interrupção voluntária da gravidez) em total segurança e gratuitamente em qualquer hospital público. Foi a primeira coisa que me perguntaram no Hospital Rothschild quando, recém-chegada a Paris no ano da implantação da lei Veil, o médico confirmou minha gravidez. Se tivesse optado por fazer o IVG, o próprio hospital marcaria os exames e o dia.

 

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